• Redação Galileu
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Descrença na evolução humana está ligada a maior preconceito e racismo (Foto: Eugene Zhyvchik/Unsplash)

Descrença na evolução humana está ligada a maior preconceito e racismo (Foto: Eugene Zhyvchik/Unsplash)

Uma pesquisa da Universidade de Massachusetts Amherst identificou que a descrença na evolução humana está associada a níveis mais altos de preconceito, atitudes racistas e à discriminação contra negros, imigrantes e a comunidade LGBTQ nos Estados Unidos. O estudo foi publicado no início de abril no Journal of Personality and Social Psychology.

Em todos os países estudados – 19 países do Leste Europeu, 25 países muçulmanos e em Israel – a baixa crença na evolução foi relacionada a preconceitos mais elevados dentro do grupo de uma pessoa, atitudes preconceituosas em relação a pessoas de diferentes grupos e menos apoio à resolução de conflitos.

Os resultados apoiaram a hipótese do principal autor, Stylianos Syropoulos, pesquisador de Ph.D no Laboratório de Guerra e Paz do professor associado de psicologia social Bernhard Leidner, autor sênior do estudo. Em colaboração com pesquisadores da Universidade Reichman, em Israel, e da Universidade do Arizona em Tucson, eles teorizaram que a crença na evolução tenderia a aumentar a identificação das pessoas com toda a humanidade, devido à ancestralidade comum, e levaria a menos atitudes preconceituosas.

“As pessoas que se percebem mais parecidas com os animais também são pessoas que tendem a ter atitudes mais pró-sociais ou positivas em relação a membros de grupos externos ou de origens estigmatizadas e marginalizadas”, escreveu Syropoulos, em nota divulgada pela universidade. “Nesta investigação, examinamos se a crença na evolução também agiria de maneira semelhante, porque reforçaria a crença de que somos mais semelhantes aos animais”.

Em oito estudos envolvendo diferentes áreas do mundo, os pesquisadores analisaram dados do American General Social Survey (GSS, na sigla em inglês), do Pew Research Center e de três amostras online de crowdsourcing. Ao testar as hipóteses sobre as associações de diferentes níveis de crença na evolução, eles levaram em conta a educação, a ideologia política, a religiosidade, a identidade cultural e o conhecimento científico. Por exemplo, crenças religiosas ou ideologia política foram medidas separadamente de uma crença ou descrença na evolução.

"A crença na evolução está relacionada a menos preconceito, independentemente da crença, ou da falta dela, em Deus ou em qualquer religião em particular", observa Syropoulos. Leidner acrescenta: "Esse efeito e padrão parece estar presente em todos os principais sistemas políticos. É um fenômeno muito humano, não importa onde você esteja no mundo".

Os pesquisadores observaram também que a teoria da evolução do século 19 de Darwin foi citada para perpetrar racismo, preconceito e homofobia, em parte através da frase "sobrevivência do mais apto", usada para descrever o processo de seleção natural. “Houve relatos teóricos que apontaram o oposto do que encontramos, por isso foi emocionante mostrar que isso realmente não é o caso, que o oposto é verdadeiro e que a crença na evolução parece ter efeitos bastante positivos”, pontua Leidner.

O estudo com sede nos EUA envolveu dados de 1993, 1994, 2000, 2006, 2008, 2010, 2012, 2014, 2016 e 2018 – anos em que a GSS entrevistou estadunidenses sobre suas crenças na evolução, bem como atitudes em relação a imigrantes, negros, ações afirmativas, pessoas LGBTQ e outras questões sociais.

A análise dos dados mostrou "que a descrença na evolução humana é o fator determinante e mais consistente preditor de preconceito em comparação com outras construções relevantes", segundo o estudo.

Na parte israelense da pesquisa, as pessoas com maior crença na evolução tinham mais propensão a apoiar a paz entre palestinos, árabes e judeus. Já nos países do mundo islâmico, a crença na evolução foi associada a menos preconceito em relação a cristãos e judeus. E, no estudo baseado na Europa Oriental, onde os cristãos ortodoxos são a maioria, a crença na evolução foi associada a menos preconceito contra ciganos, judeus e muçulmanos.

Syropoulos postula que a crença na evolução pode expandir o "círculo moral" das pessoas, levando a uma sensação de que "temos mais em comum do que coisas diferentes". As descobertas também sugerem que “ensinar a evolução parece contribuir para uma sociedade melhor ou mais harmoniosa”, acrescenta Leidner.

O próximo passo, segundo os pesquisadores, é investigar como a evolução é ensinada em sala de aula e trabalhar para desenvolver modelos para estudar e fortalecer os efeitos positivos.