Em 2018, a Pesquisa Internacional de Ensino e Aprendizagem (TALIS), implementada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) identificou que apenas 12,6% dos professores do ensino médio no Japão buscavam ensinar e desenvolver o pensamento crítico dos alunos, em comparação com uma média global de 58,1%. A lacuna, identificada em um dos países que é tido como exemplar em termos de qualidade de ensino, chamou a atenção do pesquisador Kazuyuki Nomura, da Universidade de Chiba, no Japão. Agora, seu estudo foi publicado na Educational Philosophy and Theory e se destaca ao trazer insights importantes para a compreensão do tema e a melhora da implementação desta disciplina no país.
"A baixa pontuação do Japão no ensino do Pensamento Crítico me intrigou. Estava certo que o conceito de Pensamento Crítico varia de contexto para contexto, mas pouca pesquisa foi realizada para entender o que Pensamento Crítico significa nas salas de aula japonesas. Portanto, aceitei o desafio", explicou Dr. Nomura, especialista em educação intercultural, em comunicado para a imprensa.
O estudo, qualitativo, contou com entrevistas semiestruturadas com 12 professores japoneses certificados de diversas origens , incluindo um de uma escola para crianças com necessidades educacionais especiais (SENs), entre maio e julho de 2022. O objetivo era entender suas perspectivas sobre o Pensamento Crítico e também os resultados do TALIS 2018.
Entre as descobertas, o Dr. Nomura identificou uma possível falha no sistema da pesquisa; segundo ele todos os professores entrevistados concordaram que o adjetivo japonês "hihanteki" para a palavra inglesa "critical" tinha um tom negativo que fazia com que a maioria dos educadores hesitasse em introduzir o "pensamento crítico" em suas salas de aula. A maioria dos participantes também sentiu que traduzir o termo "pensamento crítico" como "hihanteki shikoo" era literal, mas não era correto.
Para além da falha técnica da pesquisa, muitos professores admitiram que desconheciam que as diretrizes curriculares nacionais continham o conceito de Pensamento Crítico, deixando claro que os professores que sabiam disso e tentaram integrá-lo em sua pedagogia eram uma minoria absoluta.
EMPATIA X CRÍTICA
Por outro lado, o pesquisador identificou que o chamado: Pensamento Multidimensional e Multiperspectivo (MMT), que é uma faceta do Pensamento Crítico, goza de bem mais aceitação e popularidade no Japão. Neste caso, as diretrizes curriculares explicitamente promovem o MMT e assim, embora a maioria dos participantes evitasse implementar o Pensamento Crítico em sala de aula, muitos se sentiam confortáveis com o MMT e o usavam regularmente em seu ensino - embora ponderasse que ensinar o Pensamento Multidimensional e Multiperspectivo é algo que pode ser desafiador em escolas com alunos de baixo status socioeconômico.
Outro pilar central no currículo escolar japonês é a "empatia". Todos os participantes concordaram que a empatia é um valor fundamental na educação japonesa e a maioria dos professores sustenta que é impossível praticar o Pensamento Crítico ou Pensamento Multidimensional e Multiperspectivo sem aprender empatia.
Assim, segundo a pesquisa do Dr. Nomura , os professores japoneses atingem um equilíbrio delicado entre o currículo nacional, a cultura escolar e sua prática de ensino e conseguem contornar o poder da educação global liderada pela OCDE. No entanto, o cientista também aponta que o conceito global de Pensamento Crítico pode ser combinado com a compreensão local dos professores japoneses para obter o melhor dos dois mundos.
"Como o Japão está se tornando cada vez mais multicultural, os professores podem usar o ensino das habilidades que compõem o Pensamento Crítico para ajudar as crianças a pensar sobre o futuro do Japão, facilitando uma mente mais aberta e o convívio com outras pessoas com equidade e dignidade", sugere o Dr. Nomura.
O pesquisador ainda destaca que embora, de acordo com a lei, as escolas japonesas não possam ensinar tópicos politicamente controversos e devem manter a neutralidade. É possível recomendar que os professores usem exemplos não japoneses ou fictícios para implementar a temática, que é também essencial para a formação do pensamento crítico.
Globalmente, o pensamento crítico é considerado uma habilidade cognitiva altamente desejável que permite a uma pessoa questionar, analisar e avaliar uma ideia ou teoria de múltiplas perspectivas e, portanto, tornou-se parte integrante e obrigatória dos currículos educacionais de todo o mundo.