Educação

Por Redação Galileu

Alunos que ingressam no Ensino Superior por cotas conseguem enfrentar eventuais desafios e alcançar o desempenho acadêmico daqueles estudantes que não entraram por meio desse tipo de política afirmativa. É o que mostra um estudo internacional que analisou a questão na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Publicada em junho pela organização sem fins lucrativos National Bureau of Economic Research, a pesquisa examinou dados administrativos da maior universidade pública da Bahia, que implementou cotas em 2005, destinando 45% das vagas reservadas para ex-alunos de escolas públicas, das quais 85% foram voltadas para estudantes negros e pardos.

O estudo, que incluiu cerca de 7 mil alunos, começou em 2003 e foi finalizado em 2006. Atuaram no trabalho pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon (CMU), nos Estados Unidos; da Universidade das Nações Unidas, no Japão; e da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP).

“Os programas de ação afirmativa têm sido objeto de intenso debate, com os críticos dizendo que eles criam uma incompatibilidade entre os alunos pertencentes a minorias e as instituições que frequentam porque os alunos admitidos com padrões mais baixos lutam para se manter academicamente”, explica Edson Severnini, professor associado de economia e políticas públicas no Heinz College da CMU, e coautor do estudo, em comunicado.

Universidade Federal da Bahia — Foto: Reprodução/UFBA
Universidade Federal da Bahia — Foto: Reprodução/UFBA

Para avaliar se isso realmente acontece, a pesquisa considerou o status socioeconômico dos alunos e as pontuações deles nos exames de admissão, além de especializações, horas de crédito, médias de notas (GPAs), taxas de evasão, taxas de graduação e capacidade de recuperar o atraso acadêmico (medido pelo GPA no primeiro e no último ano da faculdade para os que se formaram).

Após a aplicação da política de cotas, a parcela de alunos cotistas chegou a 43% — o que é muito próximo da taxa desejada de 45%. A porcentagem foi ainda maior considerando os ex-alunos do ensino médio público: a parcela deles subiu de 28% para 49%.

Os alunos com potencial para ser beneficiários da política, contudo, tiveram 3,91 pontos percentuais a mais de risco de reprovação e 5,77 pontos percentuais a menos de probabilidade de se formarem do que os não cotistas. Eles também obtiveram GPAs mais baixos nos anos iniciais da graduação.

Além disso, os potencialmente cotistas reprovaram mais disciplinas nos primeiros anos, diminuindo seu GPA em comparação com os alunos não cotistas em potencial. Essa tendência pareceu continuar até o quinto semestre do curso.

O efeito negativo no GPA e de recuperação acadêmica ao longo do tempo pareceram acontecer para os alunos matriculados em todas as três grandes áreas de estudo (ciências sociais, ciências da saúde e tecnologia). Por outro lado, os impactos negativos sobre as taxas de graduação parecem ter ocorrido em cursos de tecnologia — engenharia, ciência da computação e cursos relacionados à matemática.

Mas os alunos potencialmente cotistas reduziram o número de horas de crédito no primeiro e segundo anos da graduação, provavelmente para se concentrarem em menos cursos e melhorar seu aprendizado. Os esforços parecem ter dado certo: a diferença entre o GPA dos potencialmente cotistas e dos não beneficiários em potencial diminuiu 50% quando os estudantes se formaram.

“Como nosso estudo analisou um cenário em que a mudança de curso era cara e o currículo era rígido, mostramos que os alunos cotistas em potencial usaram outros mecanismos de ajuste para se formar no curso originalmente pretendido”, avalia Rodrigo Oliveira, pesquisador associado da UNU-WIDER, e coautor do estudo.

Alei Santos, doutorando da Escola de Economia de São Paulo e outro coautor da pesquisa, também defende que as cotas podem funcionar. "A política de ação afirmativa desta universidade serve como uma porta de entrada para estudantes de origens socioeconômicas desfavorecidas acessarem uma universidade de prestígio e adquirirem uma educação de alto nível", afirma.

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