• Carina Brito*
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reunião, conversa (Foto: Pexels)

Tentar pensar como o outro não funciona tão bem na prática (Foto: Pexels)

Colocar-se no lugar dos outros e ter empatia é o conselho que nós sempre escutamos quando querem que nós mudemos de opinião. Mas, segundo um estudo publicado na Psychological Science, a ideia não funciona tão bem na prática. E pior: pode produzir o efeito contrário e gerar uma barreira, impedindo que a pessoa mude de opinião.

Chamado de efeito backfire (tiro pela culatra, em tradução livre), este mecanismo psicológico faz com que as pessoas ignorem os fatos que elas não concordam e defendam ainda mais as suas crenças ao serem contrariadas. Os indivíduos que tentam pensar como a oposição geram argumentos que não combinam com seus próprios valores, o que diminui a receptividade e a própria mudança de atitude.

Segundo o psicólogo Diogo Seco, isso acontece por causa da incapacidade das pessoas de abandonar os seus valores para realmente se colocar no lugar do outro. Então, explica Seco, ao tentar pensar como a outra pessoa, você carrega todas as suas crenças e aumenta ainda mais a barreira para entender o outro.

Seco, que fez seus trabalhos de Mestrado e Doutorado relacionados à ciência do comportamento, afirma que este mecanismo psicológico de rejeitar informações é ativado mesmo quando são mostrados dados científicos que comprovam algo em que a pessoa não acredita. “As pessoas tendem a acreditar nos dados que confirmam o que elas já pensam. Mesmo um conjunto de evidências é avaliado de um jeito diferente”, explica Seco. “Nós avaliamos o mundo de acordo com o que nós acreditamos. Quando nós não acreditamos, os dados se tornam questionáveis. Mas se os dados sustentam a nossa tese nós aceitamos rapidamente.”

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Outro fenômeno do comportamento explicado por Seco é o caso da polarização dos grupos, em que as pessoas tendem a se tornar ainda mais extremas em sua opinião quando se reúnem com pessoas com ideias semelhantes. Neste caso, pessoas moderadas abordam determinados assuntos e, depois de dividirem opiniões, elas se tornam mais convictas de suas ideias, tornando-se radicais.

Mas ainda assim, segundo Seco, é possível tomar decisões que levem mais em consideração o lado do outro. Primeiro, é fundamental tirar um tempo para refletir bem sobre a questão e tentar compreender o assunto sobre diferentes pontos de vista. Além disso, o estudo afirma que é mais fácil entender a outra pessoa quando a diferença de opinião é em apenas um determinado tema e os valores pessoais são parecidos no geral.

No entanto, como lembra Seco, o estudo foi feito nos Estados Unidos, e não reflete totalmente a sociedade brasileira. É preciso fazer mais estudos para aplicar o caso ao nosso país. 

*Com edição de Thiago Tanji

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