Comportamento

Por Katarina Kovacevic e Amy Rato, para o The Conversation*

Representações de sexo na TV e no cinema geralmente envolvem encontros apaixonados e impulsivos que parecem ter pouca premeditação ou planejamento. Por esse motivo, as representações de sexo na mídia podem enviar a mensagem de que uma característica da relação picante e gratificante é a espontaneidade.

De fato, em nossos estudos, quando perguntamos a casais nos Estados Unidos e no Canadá sobre suas preferências sexuais, a maioria acredita que o sexo é mais satisfatório quando acontece espontaneamente do que quando é planejado com antecedência.

Mitos da espontaneidade

Mas o sexo no impulso do momento é realmente mais satisfatório? Embora a espontaneidade possa sinalizar paixão para alguns, valorizar a espontaneidade pode ter suas desvantagens. Embora o desejo por sexo possa ser intenso no meio de um novo relacionamento e o ato sexual possa parecer que ocorre regularmente sem planejamento, o desejo (e a frequência do sexo) geralmente diminui com o tempo em um relacionamento.

Casais de longa data que esperam que ambos os parceiros tenham uma explosão simultânea de desejo para que o sexo ocorra raramente fazem sexo nessas condições. O planejamento pode ser essencial para que o sexo ocorra em meio às outras demandas de seu tempo, mesmo que agendar um encontro sexual seja visto como menos sexy.

Saber quando fazer sexo também pode ajudar as pessoas a se prepararem — com roupas, lubrificação, privacidade —, podendo inclusive melhorar o sexo. Apesar do ideal de espontaneidade que permeia a cultura, a psique e a mídia norte-americana, poucas pesquisas examinaram como o sexo planejado se compara ao ideal do sexo espontâneo.

Nosso grupo de pesquisa do Laboratório de Saúde Sexual e Relacionamentos da Universidade de York recrutou 303 indivíduos e 102 casais dos Estados Unidos e do Canadá. Perguntamos aos participantes o quanto eles concordavam com afirmações como: “Sexo com meu parceiro é mais satisfatório quando acontece espontaneamente” e “Prefiro saber com antecedência quando farei sexo da próxima vez”.

Em seguida, perguntamos se sua experiência sexual mais recente foi planejada ou não. Nós também questionamos o quão sexualmente satisfeitos eles estavam em seus relacionamentos em geral e durante sua experiência sexual mais recente. Além disso, rastreamos suas experiências diárias ao longo de três semanas.

Espontaneidade e satisfação

Em ambos os estudos, as pessoas mantiveram a crença de que a espontaneidade era o ideal. Mas, em contraste com essas crenças, o sexo espontâneo não era especialmente satisfatório.

Em nosso primeiro estudo, pessoas que estavam mais fortemente alinhadas com o ideal de espontaneidade geralmente relataram estar sexualmente mais satisfeitas. No entanto, ao avaliar sua experiência sexual mais recente como espontânea, elas não a acharam mais satisfatória do que o sexo planejado.

Os participantes da pesquisa foram questionados com que frequência eles faziam sexo e se era planejado ou espontâneo — Foto: Reprodução/Pexels
Os participantes da pesquisa foram questionados com que frequência eles faziam sexo e se era planejado ou espontâneo — Foto: Reprodução/Pexels

O sexo planejado às vezes pode ser visto como menos sexy, mas isso era apenas para aqueles que acreditavam que o sexo planejado não é o ideal. Perceber uma experiência sexual recente como planejada estava ligada a uma menor satisfação sexual geral, mas esse não era o caso daqueles que acreditavam mais fortemente que o sexo planejado era satisfatório (e, curiosamente, cerca de um em cada cinco mencionou que seu último encontro sexual foi planejado).

Em um segundo estudo, no qual acompanhamos as experiências sexuais dos casais ao longo de 21 dias, a satisfação sexual não diferiu conforme o sexo fosse percebido como espontâneo ou planejado, mesmo para aqueles que acreditavam no ideal do sexo espontâneo.

Também queríamos ter um vislumbre de como as pessoas sentiam que a espontaneidade e o planejamento contribuíam para o prazer sexual. Curiosamente, elas disseram que a espontaneidade aumentou excitação sexual, paixão, significado e desejo. Mas muitas também mencionaram que o planejamento pode criar expectativa e desejo por sexo.

E embora algumas pessoas tenham mencionado que o sexo planejado pode adicionar um elemento de pressão, a espontaneidade nem sempre foi a receita de sucesso — algumas pessoas disseram que quando o sexo não foi planejado, elas não tiveram tempo suficiente para se preparar, deixando de lado distrações mentais ou garantir a privacidade.

Percepções apaixonadas

Uma razão pela qual as pessoas podem valorizar a espontaneidade é porque a vinculam a paixão e desejo mais autênticos, semelhantes aos estágios iniciais de um relacionamento. Se esse é seu caso, lembre-se de que, mesmo nos estágios iniciais de um relacionamento, o sexo provavelmente foi mais planejado do que você percebeu.

Pense em quanto planejamento foi necessário para criar encontros românticos ou divertidos, preparando-se para o sexo com antecedência com cuidados pessoais ou roupas íntimas atraentes e fazendo esforço para se voltarem um para o outro naqueles primeiros dias de seu relacionamento.

Em um novo relacionamento, o sexo pode parecer fácil, mas o desejo e a frequência geralmente diminuem com o tempo — Foto: Reprodução/Unsplash
Em um novo relacionamento, o sexo pode parecer fácil, mas o desejo e a frequência geralmente diminuem com o tempo — Foto: Reprodução/Unsplash

Sexo planejado, por outro lado, pode evocar associações antieróticas de responsabilidade, dever e obrigação que, convenhamos, não é o material dos grandes romances. No entanto, nossa pesquisa mostra que ver o valor do sexo planejado pode ajudar os casais a manter a satisfação sexual sendo intencional sobre o sexo.

É especialmente importante lembrar disso quando os parceiros românticos passam por períodos em que a espontaneidade é um desafio, como períodos de muito trabalho e o nascimento de um novo filho.

Ser intencional sobre sexo

Os médicos que atendem casais que estão lutando com sua conexão sexual há muito tempo tentam desafiar as ideias sobre a espontaneidade sexual em favor de fazer com que os clientes sejam mais intencionais sobre seu relacionamento sexual.

A maioria das coisas importantes que fazemos são planejadas com antecedência. Por exemplo, relembre suas últimas férias. Provavelmente, a viagem foi algo que você planejou com antecedência, mas também foi muito agradável.

Se sexo é algo que você e seu(s) parceiro(s) valorizam, o planejamento pode fazer parte da priorização da conexão sexual. Embora as estrelas às vezes possam se alinhar e despertar a paixão do momento, ser intencional ao planejar o tempo para o sexo também pode preparar o cenário para encontros sexuais satisfatórios.

Planejar o sexo não significa que ele deva ser anotado em uma agenda ou enviado como um convite de calendário. Pode ser simplesmente se comunicar com seu parceiro para que você possa saber quando é mais provável que o humor apareça, como depois de compartilhar intimidade emocional ou durante períodos menos estressantes no trabalho, e concordar em reservar um tempo para a conexão.

Com muitas pessoas ainda trabalhando em casa ou remotamente, isso pode ser tão simples quanto mudar seu horário de trabalho para que você possa aproveitar uma tarde deliciosa. Em alguns casos, você ou seu parceiro podem estar mais interessados ​​em fazer sexo pela manhã ou à tarde do que à noite, quando estão prontos para dormir após um jantar pesado.

Para a maioria dos casais, o sexo é uma forma de manter e fortalecer sua conexão. E com o passar do tempo nos relacionamentos, assim como encontros noturnos ou saídas de fim de semana, é algo que pode exigir planejamento. A boa notícia é que o sexo planejado tem a mesma probabilidade de ser satisfatório do que um encontro repentino.

*Katarina Kovacevic é doutoranda em Psicologia Social e da Personalidade, da Universidade de York, no Canadá. Amy Rato é professora associada de Psicologia e diretora do Laboratório de Saúde Sexual e Relacionamentos, também da Universidade de York.

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