A misteriosa síndrome de Havana é considerada um "incidente de saúde anômalo" pelo governo dos Estados Unidos. Ela foi relatada pela primeira vez em 2016 em funcionários da embaixada estadunidense em Cuba, que tiveram sintomas como tonturas e lapsos de memória.
Pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos exploraram possíveis danos cerebrais em indivíduos afetados pela síndrome – e constataram que não existem marcas de lesões ou modificações em seus cérebros.
Os resultados divulgados em dois artigos nesta segunda-feira (18) na revista JAMA comparam exames clínicos de mais de 80 pessoas sintomáticas do governo estadunidense aos de voluntários saudáveis com atribuições de trabalho parecidas.
Testes auditivos, de equilíbrio, visuais, neuropsicológicos e de biomarcadores sanguíneos foram realizados, além de imagens de ressonância magnética (RM) para averiguar as funções cerebrais. Os participantes foram submetidos a RM em média 80 dias após o início dos sintomas, embora alguns tenham realizado o exame apenas após 14 dias.
“Nosso objetivo era realizar avaliações minuciosas para ver se poderíamos identificar diferenças estruturais cerebrais ou biológicas nesses pacientes,” disse Leighton Chan, cientista-chefe interina do Centro Clínico do NIH, em comunicado. “Embora não tenhamos identificado diferenças significativas, é importante reconhecer que esses sintomas são muito reais, causam uma interrupção significativa na vida daqueles afetados e podem ser bastante prolongados, incapacitantes e difíceis de tratar.”
Os cientistas alertam que 41% dos participantes do grupo dos afetados pela síndrome apresentaram indícios de transtorno de sintomas neurológicos funcionais (TSNF) – no qual o paciente apresenta uma série de sintomas neurológicos, como a perda de sentidos, sem ter de fato uma doença neurológica. Fadiga excessiva e diagnósticos de estresse pós-traumático e depressão também foram relatados com mais frequência nesses voluntários.
"Os sintomas de estresse pós-traumático e de humor relatados não são surpreendentes, dadas as preocupações contínuas de muitos dos participantes," avalia Louis French, diretor adjunto do Centro Nacional de Excelência Intrepida do Exército dos Estados Unidos e co-investigador do estudo. "Muitas vezes, esses indivíduos tiveram uma interrupção significativa em suas vidas e continuam a ter preocupações sobre sua saúde e seu futuro. Esse nível de estresse pode ter impactos negativos significativos no processo de recuperação".