Pinturas saqueadas por nazistas retornam a família judaica – e são doadas ao Louvre

Ação faz parte de programa do governo francês que devolve aos donos peças de arte roubadas durante a invasão do país na 2ª Guerra Mundial

Por Redação Galileu


Natureza morta com presunto, do pintor holandês Floris van Schooten, é uma das obras devolvidas – e que, agora, fará parte do acervo do Museu do Louvre, em Paris Divulgação/RMN - Grand Palais (Museu do Louvre)

Após 80 anos de espera, dois quadros saqueados por soldados nazistas durante a Segunda Guerra Mundial retornaram, finalmente, à família de seu proprietário, o judeu Mathilde Javal. Desde 1950, as peças estavam em exposição no Museu do Louvre enquanto aguardavam a ação do programa de Recuperação do Museu Nacional da França. E, agora, com a autorização da família de Javal, devem retornar em definitivo para o acervo do museu francês.

Os quadros devolvidos são Natureza morta com presunto, do holandês Floris van Schooten, e Comida, fruta e copo sobre uma mesa, do alemão Peter Binoit.

De acordo com apuração da Agence France-Presse (AFP), eles ficavam expostos na mansão de Javal até 1944, quando foram roubados. Alguns membros da família lutaram durante invasão de Paris pelas forças nazistas. Cinco deles chegaram a ser deportados e assassinados em Auschwitz.

Assim como aconteceu com outras obras de arte, as duas peças ficaram sob tutela do governo da França após o fim do conflito. Teve início, então, o programa de Recuperação do Museu Nacional que visa identificar e devolver as obras aos seus donos. No entanto, a falta de informações sobre a propriedade, bem como erros na grafia de nomes e endereços, impediu a devolução imediata das pinturas. Por isso, muitas delas foram parar nos acervos de museus como o Louvre.

Peter Binoit, Comida, frutas e copos sobre uma mesa — Foto: Divulgação/RMN - Grand Palais (Museu do Louvre)

Foi apenas este ano que os profissionais do Ministério da Cultura, do Arquivo Nacional e da Comissão de Indenização às Vítimas de Espoliação (CIVS) concluíram a identificação dos donos de Natureza morta com presunto e Comida, fruta e copo sobre uma mesa. Os herdeiros de Javal optaram por doar as peças para o acervo permanente do Louvre: “É um dever de memória para com a minha família, saqueada e perseguida, cuja história fala às gerações atuais”, disseram à AFP.

Anteriormente, as obras faziam parte da seção de pinturas nórdica, mas, a partir de agora, elas farão parte de uma nova sala, dedicada a artes saqueadas pelos nazistas. Em nota, Laurence des Cars, presidente do Louvre, afirma que a restituição das obras simboliza um ato de justiça: “A exposição que construímos juntos demonstra o nosso compromisso de lançar cada vez mais luz sobre a história da violência e da expropriação de que foram vítimas as famílias judaicas durante a ocupação [nazista], para que nenhuma mancha permaneça nas coleções nacionais”.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, estima-se que 61 mil obras foram recuperadas da Alemanha e transportadas para França. Dessas, 45 mil já foram devolvidas aos seus legítimos proprietários.

Enquanto alguns herdeiros ainda lutam em tribunal pelos seus direitos, outros milhares de proprietários de obras de arte saqueadas permanecem desconhecidos. “Essas pinturas não são obras-primas que valem dezenas de milhões, são de artistas desconhecidos do grande público, mas têm beleza e qualidade dignas de serem expostas em grandes museus”, disse um porta-voz do Louvre ao jornal London Times.

Sobre os quadros

  • Natureza morta com presunto (Floris van Schooten, óleo sobre tela, década de 1630): Nesta pintura, objetos fazem uma espécie de encenação. A imagem alinha pão, presunto, queijo, manteiga, sal e copo. Os recipientes são de materiais e formatos diversos. Existe uma distinção entre pão integral e preto. O objeto chave é a faca: há presunto fatiado, pão cortado, nacos de queijos em fatias ou círculos. Reflexos foscos, brilhos, sombras projetadas, pilhas, superposições inacabadas e jogos de texturas (lisas, ou esburacadas, como no favo de mel) completam o jogo visual.
  • Comida, frutas e vidro sobre uma mesa (Peter Binoit, óleo sobre tela, década de 1620): A presença de insetos (duas moscas, uma joaninha, etc.) faz menção à vaidade terrena. As moedas de prata expostas e o cravo, flor de noivado, reforçam essa relação. Muito refinado, a pintura atesta o sentimento de Peter Binoit pela cor.

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