Vencedora do Nobel de Economia desvendou "gargalos" para mulheres no trabalho

Autora das pesquisas é a historiadora econômica estadunidense Claudia Goldin, que é a terceira mulher a receber Nobel de Economia em 55 anos de existência do prêmio

Por Vanessa Centamori


Claudia Goldin, laureada com o Nobel de Economia 2023 Ill. Niklas Elmehed © Nobel Prize Outreach

Desde 1969, 55 prêmios Nobel em economia foram entregues — dos quais somente três a mulheres. A terceira premiada na história é a professora da Universidade Harvard Claudia Goldin, laureada nesta segunda-feira (9).

O baixo número de mulheres reconhecidas com o Nobel de economia reitera o próprio tema pesquisado por Goldin: ela estudou os principais impulsionadores das diferenças de gênero no mercado de trabalho.

A nova-iorquina, de 77 anos, vai receber o prêmio de 11 milhões de coroas suecas (em torno de R$ 4,8 milhões). Para a Academia Sueca, a historiadora econômica, que é doutora pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, "forneceu o primeiro relato abrangente dos ganhos e da participação das mulheres no mercado de trabalho ao longo dos séculos." Sua pesquisa revela as causas das mudanças, bem como as principais fontes da lacuna de gênero que persiste, afirmou o Nobel.

Dois séculos de pesquisas

Segundo artigo publicado na revista Finance & Development, do Fundo Monetário Internacional, o movimento feminista se desenrolava na década de 1970 quando Goldin decidiu deixar sua marca no estudo da participação das mulheres na economia.

Claudia Goldin, a terceira mulher a receber Nobel de Economia — Foto: Wikimedia Commons

"Percebi que algo estava faltando", ela escreveu em The Economist as Detective, seu ensaio autobiográfico de 1998. "Eu estava negligenciando o membro da família que passaria pela mudança mais profunda a longo prazo — a esposa e mãe. As mulheres estavam nos dados quando jovens e solteiras e muitas vezes quando ficavam viúvas. Mas suas histórias eram ouvidas de forma tímida após o casamento."

No final dos anos 1970, Goldin começou a mudar isso. Fez uma série de estudos examinando como várias dimensões da participação das mulheres na força de trabalho dos Estados Unidos evoluíram ao longo de 200 anos. Ela demonstrou que o papel feminino não teve uma tendência ascendente ao longo desse período, mas, em vez disso, formou uma curva em forma de U.

Gráfico em "U" que mostra a evolução das mulheres casadas no mercado de trabalho ao longo dos séculos, passando da sociedade agrária para a industrial e, posteriormente, a de serviços — Foto: Johan Jarnestad/The Royal Swedish Academy of Sciences

Em 1990, a economista publicou o livro Understanding the Gender Gap: An Economic History of American Women ("Compreendendo a Diferença de Gênero: Uma História Econômica das Mulheres Americanas", em livre tradução), no qual observou como a história das disparidades salariais de gênero é caracterizada não por um progresso constante, mas por períodos distintos em que as disparidades se estreitaram.

Em um artigo de 2006, a economista identificou quatro fases que remontam ao final do século 19 que moldaram o papel das trabalhadoras na economia dos Estados Unidos. Ela demonstrou que a participação das mulheres casadas diminuiu com a transição de uma sociedade agrária para uma industrial no início do século 19, mas depois começou a aumentar com o crescimento do setor de serviços no início do século 20.

Ao longo dos anos 1900, os níveis de educação feminina aumentaram continuamente. Na maioria dos países de alta renda, agora são substancialmente mais altos do que os dos homens. "Goldin demonstrou que o acesso à pílula contraceptiva desempenhou um papel importante em acelerar essa mudança revolucionária, oferecendo novas oportunidades para o planejamento de carreira", afirma a assembleia do Nobel.

Mas a lacuna de ganhos entre mulheres e homens ainda continuou. Em um artigo de 2014, a pesquisadora identificou a redução desse problema como um dos desafios finais para a igualdade de gênero no local de trabalho nos Estados Unidos e em outras economias avançadas.

A lacuna de oportunidades e rendimentos que ocorre ao longo da vida da mulher que se casa com um homem — Foto: Johan Jarnestad/The Royal Swedish Academy of Sciences

Goldin defende que a diferença de ganhos entre mulheres e homens ocorreu em parte porque as decisões educacionais são tomadas em uma idade relativamente jovem. As mulheres jovens ficam em desvantagem, pois têm suas expectativas moldadas por experiências de gerações anteriores — por exemplo, mães que não voltaram a trabalhar até que os filhos crescessem.

"Compreender o papel das mulheres no mercado de trabalho é importante para a sociedade. Graças à pesquisa inovadora de Claudia Goldin, agora sabemos muito mais sobre os fatores subjacentes e quais barreiras podem precisar ser abordadas no futuro", diz Jakob Svensson, Presidente do Comitê do Prêmio em Ciências Econômicas.

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