Cinema

Por Beatriz Herminio, com edição de Luiza Monteiro

O que define a longevidade de uma pessoa? E de toda uma população? Essas são algumas das reflexões propostas pelo documentário Quantos Dias. Quantas Noites, que estreia nesta quinta-feira (12) nos cinemas brasileiros.

Produzido pelo estúdio Maria Farinha Filmes e dirigido pelo cineasta Cacau Rhoden, o filme conta com a participação de especialistas, voluntários e personalidades como a filósofa Sueli Carneiro e o cantor Toinho Melodia, além de personagens com idades de 40 a 80 anos.

Pensar a longevidade desde a juventude é importante para garantir um futuro saudável, apesar de ser uma preocupação que costuma chegar apenas com o avançar da idade. Na última década, é possível observar um aumento progressivo da expectativa de vida no Brasil e no mundo.

Por aqui, a expectativa de vida é de 77 anos, segundo dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A projeção é que, em 2050, o país tenha cerca de 68 milhões de pessoas com 60 anos ou mais.

Mas, como mostra o documentário, prever os efeitos disso não parece ser prioridade. “Nós estamos muito mais preocupados com o impacto da tecnologia do que o impacto mais importante e revolucionário (...) que é o fato do Brasil, hoje, ter 14% de pessoas com mais de 60 anos, e daqui a 30 anos, ter 31%”, diz o médico gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil, no filme.

A exclusão dos idosos é uma consequência, entre outras coisas, do etarismo. Esse é o nome do preconceito baseado na idade de uma pessoa. Ele está presente tanto em situações do dia a dia quanto em lugares como o sistema de saúde e o mercado de trabalho.

“Enquanto não percebermos que estamos perdendo um manancial imenso de conhecimento, identidade e múltiplos saberes devido a esses preconceitos, estaremos minando nosso próprio futuro em uma sociedade que terá mais pessoas mais velhas do que jovens, em breve”, adverte Cacau Rhoden, em resposta por e-mail a GALILEU.

Quem tem direito de viver mais?

Na visão de Rhoden, “estamos em um país marcado por desigualdades sociais e injustiças, onde a vida é determinada por diversos fatores, não apenas genética ou hábitos saudáveis.” E isso se reflete em números: em 2021, 17,9 milhões de brasileiros estavam vivendo na extrema pobreza, de acordo com o IBGE. Eles fazem parte dos 29,4% da população que se encontram abaixo da linha da pobreza.

Daí porque Quantos dias. Quantas noites busca investigar quem, afinal, tem direito a uma vida longa. “São inúmeros os marcadores que definem quem vai viver e quem vai sucumbir diante dessa realidade imposta por um sistema bastante perverso”, afirma Rhoden.

Ainda mais levando em conta o perfil racial. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública estima que 72% das vítimas de homicídios no país na última década eram pessoas negras. “O envelhecimento leva a maioria das pessoas a um declínio funcional. Nunca seremos tão fortes e rápidos como somos aos 25 anos. Mas, se você chega aos 75 tendo acumulado essas desigualdades, principalmente pelo racismo, é muito difícil sobreviver com qualidade de vida”, diz Kalache a GALILEU, também por e-mail.

Cena do documentário "Quantos Dias. Quantas Noites" — Foto: Divulgação/Maria Farinha Filmes
Cena do documentário "Quantos Dias. Quantas Noites" — Foto: Divulgação/Maria Farinha Filmes

E é por essas e outras que, no Brasil, podem ser necessários 116 anos para que pretos e pardos tenham as mesmas oportunidades que brancos, conforme estima o Índice Folha de Equilíbrio Racial (Ifer), feito pelo jornal Folha de S. Paulo junto a pesquisadores do Insper.

No documentário, Sueli Carneiro aborda o tema. “Há um tipo de eugenismo que faz com que jovens negros sejam descartados desta sociedade. O desafio das pessoas negras não são os terrores da velhice, é chegar a envelhecer.”

Mudanças significativas

Kalache acredita que políticas públicas são necessárias não apenas para oferecer proteção e segurança aos idosos, mas também para que se tenha, ao longo da vida, mais saúde, educação e qualificações. “De que adianta ter saúde e conhecimento se não se tem direito de participar integralmente da sociedade?”, questiona.

Somada a isso está a necessidade de segurança e proteção contra o abandono na terceira idade – o que a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta como pilares para um envelhecimento ativo (saúde, educação, segurança e participação).“O terror do envelhecimento sempre foi e sempre será não saber se terá um teto em cima da cabeça, comida na prateleira e um pouco de dinheiro para comprar os remédios que o SUS não está oferecendo, ainda”, acrescenta o médico.

Envelhecer com qualidade passa, ainda, pela existência de condições ambientais que permitam viver e ter saúde. Para o diretor do filme, nossa responsabilidade vai além de simplesmente comer menos carne, utilizar menos combustíveis fósseis ou fazer mais exercícios. “Precisamos também pressionar aqueles que detêm o poder político e econômico para promover mudanças significativas”, opina Rhoden.

A ideia é que a produção atinja pessoas de todas as idades. “Espero que o filme desperte emoções e inspire, assim como todos nós que sonhamos com ele”, diz o diretor. “Desejo que o espectador se sinta livre para sonhar e motivado a transformar a si mesmo e o mundo que compartilhamos.”

Quantos Dias. Quantas Noites está disponível em São Paulo e Brasília (Itaú Cinemas), Rio de Janeiro (Estadão NET de Cinemas), Belo Horizonte (Una Belas Artes) e Salvador (Cine Metha Glauber Rocha).

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