Cinema

Por Gabriela Garcia, com edição de Nathalie Provoste

Em uma mistura de ciência e natureza num universo multicolorido, a mais nova animação da Disney e Pixar, Elementos, personifica o abstrato mais uma vez. Agora, dá vida aos quatro elementos clássicos: água, ar, terra e fogo. O longa, idealizado pelo diretor Peter Sohn, chega aos cinemas nesta quinta-feira (22) e conta a história de uma amizade inusitada entre Gota, um garoto da água, e Faísca, uma menina do fogo.

A produção é ambientada na Cidade Elemento, uma metrópole onde moradores de água, ar, terra e fogo vivem em conjunto, apesar de suas diferenças. Mas o lugar nem sempre foi assim. É neste contexto que conhecemos a família de Faísca. Seus pais, originários da Terra do Fogo, decidiram deixar seu povo ainda jovens, após o lar deles ser afetado por uma grande tempestade de areia. Eles viajaram até a cidade multicultural em busca de uma vida melhor, e foram os primeiros do seu tipo a chegar por lá.

Até de fato se estabelecerem, os dois personagens passaram por diversos obstáculos na comunicação e na adaptação a uma nova cultura, e também sofreram rejeição dos moradores locais por serem diferentes. Mas, mesmo com todos os desafios, o casal conseguiu encontrar uma nova casa. Aos poucos, mais imigrantes do fogo chegaram, formando o bairro flamejante onde Faísca nasceu e foi criada.

"Faísca é filha de imigrantes, assim como eu. Meus pais emigraram da Coreia no início dos anos 1970, então nasci lá, mas cresci com as tradições, a língua e a cultura coreanas na cidade Nova York. Isso levou a alguns choques culturais entre meus pais e eu. Eu não valorizava as experiências e dificuldades que eles haviam enfrentado”, conta Sohn, em comunicado divulgado à imprensa.

A Cidade Elementos abriga comunidades da água, terra, ar e fogo e todos buscam conviver juntos apesar das diferenças  — Foto: Reprodução/Disney
A Cidade Elementos abriga comunidades da água, terra, ar e fogo e todos buscam conviver juntos apesar das diferenças — Foto: Reprodução/Disney

Apesar de ser retratada de uma forma lúdica no filme, a imigração é um assunto delicado, e envolve diversas questões que afetam quem decide sair da sua terra natal e se estabelecer em um novo lugar. Entenda as principais questões sobre o tema.

1. Motivação da viagem

Existem inúmeras razões que impulsionam pessoas a saírem do seu país de origem e procurarem moradia fixa em outro local. Esse processo, inclusive, pode ocorrer de forma espontânea ou forçada. O imigrante involuntário, chamado de refugiado, é aquele que sofreu perseguição política e cultural, ou, até mesmo, cujo país de origem passou por desastres naturais. Há, também, os refugiados por conflitos bélicos e crises políticas ou sociais.

De acordo com dados divulgados na última edição do relatório Refúgio em Números, da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR, sigla em inglês), apenas em 2022, no Brasil, foram feitas mais de 50 mil solicitações da condição de refugiado, provenientes de 139 países. As principais nacionalidades solicitantes no ano foram venezuelanas (67%), cubanas (10,9%) e angolanas (6,8%).

Já para aqueles que decidem se mudar de maneira voluntária, na maioria das vezes, o principal fator é econômico. Pessoas emigram em busca de novas oportunidades de trabalho e maior renda. O movimento é conhecido como “fuga dos cérebros”.

Graziella Maria Comini, professora da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, conta em entrevista ao Jornal da USP que, no Brasil, a última onda de emigrantes está atrelada ao cenário político e econômico que vivenciamos nos últimos anos. De acordo com ela, em um ambiente de "bastante insegurança e polarização", o mercado de trabalho brasileiro não foi capaz de reter talentos. "É normal que os indivíduos busquem uma vida mais segura, onde é possível se planejar melhor, e isso é um dos fatores por trás da fuga de cérebros", diz a especialista.

2. Choque cultural

Um dos primeiros obstáculos da imigração a serem apresentados em Elementos é a dificuldade dos pais de Faísca na comunicação, já que sua língua nativa não era compreendida pelos moradores da Cidade Elemento. No mundo real, isso é apenas uma das inúmeras diferenças culturais que podem impactar tanto imigrantes quanto moradores nativos.

O Relatório Mundial das Migrações (OIM, sigla em inglês) de 2022, da Organização Internacional para as Migrações das Nações Unidas, conta que, desde 2020, existem 281 milhões de migrantes internacionais em todo o mundo. E para aqueles que vivem esse processo, tudo à sua volta muda. As transformações vão desde alimentação, idioma, cultura, relações familiares e sociais, status pessoal e social, até mudança climática, que pode afetar a saúde desses indivíduos.

3. Rejeição

O preconceito por ser diferente também é um desafio, já que nem todas as pessoas são receptivas com estrangeiros. A ACNUR define como xenofobia “atitudes, preconceitos e comportamentos que rejeitam, excluem e frequentemente difamam pessoas, com base na percepção de que elas são estranhas ou estrangeiras à comunidade, sociedade ou identidade nacional”.

Enquanto no filme da Disney as comunidades da água, terra e ar desprezam os pais de Faísca com a justificativa de que o fogo destrói tudo, no mundo, muitos emigrantes são mal recebidos por serem vistos como ameaças pelas comunidades que os recebem. O primeiro medo é o de que eles diminuiriam as chances de sucesso econômico do cidadão local, pois poderiam tomar vagas de trabalho.

Em um estudo de 2020 sobre o medo da imigração na Alemanha Oriental, a pesquisadora Lisa Köhler, da Universidade de Lund (Suécia), cita o conceito de "possessão fantasma" ("phantom possession"), que a teórica crítica e filósofa Eva von Redecker descreve como a assunção errônea da propriedade de um bem ou direito. "A defesa da possessão fantasma é frequentemente dirigida contra migrantes ou outros grupos de status mais fraco em questões socioeconômicas", destaca Köhler. "Dentro da teoria da possessão fantasma, esses grupos mais fracos são frequentemente usados como uma explicação para a perda econômica da sociedade ou de outros grupos."

O desconhecimento em relação ao estrangeiro e sua aparência, cultura e costumes diferentes também pode fazer o morador local ficar apreensivo quanto a perder a sua identidade ou seus direitos enquanto cidadão. Ángeles Cea D’Ancona, professora de Sociologia na Universidade Complutense de Madrid, na Espanha, explica no estudo La exteriorización de la xenofobia (A Exteriorização da xenofobia) que duas frases se destacam em discursos xenofóbicos: “defenda a tua identidade” e “defenda os teus direitos”. Segundo a pesquisadora, esses dizeres reforçam a ideia de que estrangeiros estariam corrompendo a identidade nacional ao reivindicar para si direitos individuais.

Por ser do elemento fogo, Faísca tem dificuldades para se relacionar com outros elementos — Foto: Reprodução/Disney
Por ser do elemento fogo, Faísca tem dificuldades para se relacionar com outros elementos — Foto: Reprodução/Disney

4. Falta de suporte

Os fluxos migratórios no mundo têm colocado na pauta global a importância de governantes estarem atentos ao que se passa em diferentes territórios e oferecer suporte para aqueles que chegam aos seus países.

Em Elementos, a primeira comunidade a se estabelecer na região da Cidade Elemento foi a da água, que desenvolveu a infraestrutura básica do local. O segundo grupo foi a terra, que se uniu aos habitantes originais para começar a formar a metrópole. Depois veio o ar e, por último, o fogo. “A Cidade Elemento representa um obstáculo para Faísca, já que sua infraestrutura à base de água dificulta a navegação do elemento fogo”, explica Sohn.

A dificuldade expressada no filme também reflete a realidade de imigrantes. Hoje, a ACNUR atua em cooperação com diversas instâncias do poder público, apoiando o fortalecimento de políticas, planos e espaços de participação social de pessoas refugiadas no mundo. No Brasil, em âmbito federal, há o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), que reconhece e toma decisões sobre a condição de refugiado de pessoas que buscam proteção internacional no país.

Veja o trailer de Elementos abaixo:

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