Papa Francisco responde sobre temas polêmicos em novo documentário

O encontro aconteceu em junho de 2022, em Pigneto, bairro periférico de Roma, na Itália. O filme promete emocionar — e impressionar — o público: durante 82 minutos, o atual líder da Igreja Católica responde a questões sobre as quais raramente fala em público. As perguntas são feitas por pessoas de 20 a 25 anos que vêm de países tão diversos quanto Senegal, Estados Unidos e Peru.

A ideia por trás do documentário é celebrar os 10 anos da posse do Papa Francisco, que assumiu o posto em 19 março de 2013. Jorge Mario Bergoglio, como se chama o pontífice, nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 1936. Isso faz dele o primeiro papa nascido na América.

Para Évole e Sánchez, produzir o filme foi “uma oportunidade única de reunir dois mundos que geralmente não se tocam; de estabelecer um diálogo entre uma das pessoas mais influentes do mundo com um grupo de jovens cujas vidas, às vezes, vão de encontro direto com os postulados da Igreja”, conforme falam em nota divulgada à imprensa.

Amém: Perguntando ao Papa aborda temas como imigração, atuação de mulheres na Igreja e até pornografia. GALILEU assistiu ao documentário e conta, a seguir, alguns dos tópicos abordados.

Durante a rodada de perguntas, o Papa Francisco confessa que já namorou — antes de aderir aos preceitos da Igreja, claro. “Eu estive em um relacionamento antes do seminário, mas escolhi o celibato”, diz no documentário.

Ao ser indagado por Célia, que se define como uma pessoa não binária, sobre o que acha do Tinder, o pontífice disse que não conhece o aplicativo de relacionamentos, mas que não o desaprova. “Os jovens têm essa vontade de se conhecerem e isso é muito bom”, diz o religioso.

Um dos entrevistadores do Papa traz um relato pessoal. O espanhol Juan, de 22 anos, conta que sofreu abuso sexual de um padre da escola onde estudou. O criminoso foi condenado a 11 anos de prisão, mas depois sua pena foi reduzida para dois anos.

O pai de Juan mandou uma carta ao próprio Papa Francisco em busca de ajuda. O pontífice respondeu, na época, orientando a família a enviar o caso para a Congregação da Doutrina da Fé, o ministério mais importante da cúria romana. A entidade, por sua vez, pediu que o nome e a reputação do abusador fossem preservados.

Juan indaga ao papa o porquê da decisão. Com semblante sério, o pontífice responde que crimes de abusos na Igreja não prescrevem e reconhece a gravidade deles. “Na Igreja, os casos de abuso são piores, porque eles destroem as pessoas, justamente onde elas deveriam ser acolhidas, há homens e mulheres que as destroem”, pontua.

Milagros é mais uma das inquiridoras do Papa. Moradora de Santiago Del Estero, na Argentina, ela se considera “extremamente católica”. Mas também é a favor do direito ao aborto, inclusive faz parte da ONG Católicas Pelo Direito de Decidir, que questiona “determinadas leis eclesiásticas da instituição”, como diz o site da unidade brasileira da organização.

As opiniões públicas do Papa Francisco sobre o tema estão longe de ser pacíficas. Em outubro de 2021, ele repetiu algo que já havia dito: que “aborto é homicídio”. Milagros, então, pergunta por que a Igreja insiste em impedir que mulheres tenham autonomia sobre o próprio corpo.

Segundo o pontífice, ele orienta os padres que ouvem confissões de aborto a serem misericordiosos e não julgarem as mulheres, uma vez que reconhece que o aborto deixa marcas profundas. Para ele, quem aborta não pode ser visto como assassino. Mas o religioso insiste que o tema deve ser visto com "frieza" pela ciência e que o feto “não é só um monte de células juntas.”