Arqueologia

Por Redação Galileu

Com quase 4 mil esqueletos de frades capuchinhos, a Cripta dei Cappuccini, em Roma, na Itália, traz um sinal em uma de suas alcovas escrito: “O que você é agora nós costumávamos ser; o que somos agora, você será”.

Parece horripilante, mas trata-de apenas de um memento mori (em latim, uma espécie de “lembrete de que você vai morrer”) deixado por religiosos. De acordo com o site Smithsonian Magazine, a mensagem teria sido registrada supostamente por um artista capuchinho, chamado Norbert Baumgartner, segundo relatou o historiador e frade da ordem Rinaldo Cordovani.

De acordo com o site da própria igreja, Donatien Alphonse François de Sade, mais conhecido como Marquês de Sade, escreveu em seus diários que "um padre alemão desta casa executou um monumento funerário digno de uma engenhosidade inglesa", referindo-se à cripta.

O local foi visitado pelo marquês em 1775. O libertino francês, apesar de não ser muito espiritual — era autor de obras pornográficas e originou o termo “sadismo” devido à sua vida depravada — comentou que “nunca viu nada tão impressionante”.

Origem misteriosa da construção fúnebre

O espaço da cripta compreende várias pequenas capelas localizadas abaixo da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Capuchinhos. Essa ordem católica foi fundada no século 16. Seus frades se vestem apenas com túnicas marrons e fazem votos de pobreza, castidade e obediência.

Um museu sobre o local, inaugurado em 2012, tenta explicar o mistério oculto sobre a construção da cripta. Tudo teria começado em 1624, quando o cardeal Antonio Marcello Barberini pediu ajuda a seu irmão mais velho, que por acaso era o papa Urbano VIII.

O Santo Padre deu a Barberini um terreno de primeira qualidade em Roma para construir uma nova igreja. Ele até foi ao canteiro de obras para abençoar a pedra fundamental do templo e ali celebrou a primeira missa em 8 de setembro de 1630, segundo o site da cripta.

A construção foi concluída em 1631. Hoje, ela consiste em uma nave única com capelas laterais elevadas e fechadas por portões de madeira. Apenas o altar central foi construído em mármore, por ordem de Urbano VIII. O brasão dele pode ser visto na base de duas colunas.

Mas os membros da igreja não sabiam o que fazer com restos mortais de clérigos enterrados em um antigo convento capuchinho. Foi decidido então desenterrá-los e escondê-los em uma câmara sob a nova igreja.

Por mais de um século, frades capuchinhos de todo o mundo foram sendo enterrados ali. Em meados do século 18, alguém decidiu criar a cripta conforme ela é hoje, embora pesquisadores não saibam ao certo quem foi o responsável.

De acordo com a tradição romana, o mentor era um artista brilhante que cometeu um crime. Mas o criminoso encontrou um porto seguro entre os capuchinhos e achou nesse santuário macabro uma forma de pedir perdão a Deus.

Outra hipótese foi apresentada pelo historiador Rinaldo Cordovani. “É provável”, escreve o folheto do museu, “que o presente arranjo seja obra de um dos artistas capuchinhos que habitualmente estiveram presentes no convento, auxiliado por vários artesãos, também frades”.

Da morte à vida eterna

Estima-se que mais de 200 mil visitantes vão todos os anos à Cripta dei Cappuccini. Os capuchinhos não estão bem enterrados sob lápides, mas seus esqueletos adornam as paredes e tetos. Há até candelabros feitos de ossos.

De acordo com Esmeralda Shahinas, chefe de operações do museu, as taxas de entrada nas exibições ajudam a financiar missões capuchinhas no mundo todo. “Grande parte da renda vai para eles e também para manter as obras de arte na igreja”, ela conta à Smithsonian Magazine.

O museu revela artefatos como rosários, instrumentos de penitência e até pinturas de Caravaggio, como São Francisco em Meditação, datada do século 17. O quadro mostra o santo padroeiro capuchinho em contrastes de luz e sombra, parecendo sereno enquanto segurava uma caveira.

Assim como a cripta, a obra mostra a visão dos capuchinhos frente à morte. E mais que isso, revela a crença na vida eterna para os fiéis em Cristo. Nessa perspectiva, para os frades, morrer seria algo a abraçar e não a temer.

Enquanto a cripta continua sendo um lembrete da nossa mortalidade, Shahinas conta que a igreja também é apenas “um lugar de oração” — mesmo diante de tantos restos mortais. Todos os anos, no Dia de Finados (2 de novembro), os frades capuchinhos celebram ali uma missa.

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