Cientistas criaram um ovo de galinha geneticamente modificado para alimentar pessoas que têm alergia à clara. Em um estudo preliminar, eles dizem que o alimento editado é seguro e menos alergênico, podendo ser usado para evitar não só alergias alimentícias, mas aquelas geradas por vacinas que utilizam ovos em sua produção.
A pesquisa foi publicada na revista Food and Chemical Toxicology em 11 de março de 2023. O ovo modificado, chamado OVM-knockout, foi produzido com tecnologia de edição do genoma para não ter a proteína ovomucoide, que causa a alergia e representa cerca de 11% de toda a proteína da clara.
Para eliminar a proteína ovomucoide nas claras, os cientistas projetaram enzimas nucleases efetoras do tipo ativador de transcrição de platina (TALENs), que reconhecem sequências específicas de DNA e as quebram ou cortam.
Os pesquisadores modificaram as enzimas para atingir um pedaço de RNA, chamado exon 1, que codifica proteínas específicas. Os ovos produzidos a partir dessa técnica então foram testados para garantir que não houvesse mais a proteína ovomucoide.
Com a ajuda de anticorpos anti-ovomucóide e anti-mutante ovomucoide, os pesquisadores buscaram vestígios da proteína, mas não encontraram nenhum. Além disso, os alimentos editados tinham a desejada mutação frameshift, criada pela inserção ou exclusão de bases nucleotídicas em um gene.
Ao sequenciarem o genoma das claras de ovos alteradas, os cientistas encontraram tais mutações solicitadas pelo processo de edição de gene. Porém, essas não estavam localizadas nas regiões codificadoras de proteínas. "Os ovos postos por galinhas OVM-knockout homozigóticas não mostraram anormalidades evidentes”, salienta Ryo Ezaki, professor assistente da Escola de Pós-Graduação em Ciências Integradas para a Vida da Universidade de Hiroshima, no Japão, em comunicado.
Para o professor, os resultados indicam a importância de avaliações de segurança e revelam que os ovos editados resolvem o problema de alergia em alimentos e vacinas. As reações alérgicas alimentícias à clara são uma das mais comuns em crianças. Embora a maioria supere os sintomas aos 16 anos de idade, algumas pessoas ainda terão reações alérgicas quando adultas.
Entre os principais incômodos desse tipo de alergia estão vômitos, cólicas estomacais, problemas respiratórios, urticária e inchaço. Além disso, alguns indivíduos com esse problema não podem receber certas vacinas contra a gripe e febre amarela, por exemplo.
Os cientistas mostraram que os ovos OVM-knockout podem ser uma saída para isso, pois são menos alergênicos do que os ovos padrão e podem ser usados com segurança em alimentos processados termicamente. Contudo, como algumas pessoas são altamente alérgicas à proteína específica da clara, mesmo pequenas quantidades de ovomucoide podem causar reação.
Os pesquisadores precisarão realizar estudos adicionais para determinar a segurança dos ovos modificados. "A próxima fase da pesquisa será avaliar as propriedades físicas e a adequação do processamento dos ovos OVM-knockout e confirmar sua eficácia por meio de ensaios clínicos", disse Ezaki.