Com células de ratos machos, cientistas disseram ter criado sete camundongos em um feito inédito. A descoberta em estágio inicial ainda não foi validada por uma revisão de pares científicos, mas oferece a esperança de que algum dia casais homoafetivos de homens possam ter seus próprios filhos biológicos.
Segundo o site Business Insider, os resultados promissores do experimento foram anunciados na última quarta-feira (9) pelo pesquisador da Universidade de Osaka, Katsuhiko Hayashi, na Conferência de Edição do Genoma Humano, realizada no Francis Crick Institute, em Londres, na Inglaterra.
Hayashi disse na conferência que mudou os cromossomos em uma célula masculina de XY para XX. Ele então usou essa técnica para produzir óvulos femininos, chamados oócitos, e fertilizou-os para criar camundongos com dois pais biológicos.
No experimento, foram usadas células da pele masculina com cromossomos X eas Y reprogramadas para que se transformassem em células-tronco pluripotentes, capazes de se transformar em qualquer outro tipo de célula.
Em seguida, a equipe deletou os cromossomos Y nas células e duplicou os cromossomos X. O resultado foram óvulos com dois cromossomos X. “Este é o primeiro caso de produção de oócitos robustos de mamífero a partir de células masculinas”, disse Hayashi ao site britânico The Guardian.
Os filhotes de camundongo resultantes pareciam saudáveis, tinham uma expectativa de vida normal e tiveram filhos quando adultos. “Eles parecem bem, parecem estar crescendo normalmente, eles se tornam pais”, disse o cientista.
Hayashi se diz a favor de que a tecnologia seja usada no futuro para permitir que dois homens tenham um bebê, se isso for demonstrado seguro. A técnica também pode ser aplicada para tratar formas graves de infertilidade, incluindo mulheres com síndrome de Turner, nas quais uma cópia do cromossomo X está ausente ou parcialmente ausente — essa aplicação foi inclusive a principal motivação para a pesquisa.
Os camundongos, embora sejam muito diferentes dos humanos, não têm óvulos de grande qualidade. Conforme explica Hayashi, apenas um em cada 100 óvulos fertilizados levou a um nascimento vivo. Essa eficiência, de cerca de 1%, foi menor do que aquela alcançada com ovos normais derivados de fêmeas, onde cerca de 5% dos embriões produziram filhotes vivos.
O “truque” do experimento, de acordo com o pesquisador, foi a duplicação do cromossomo X. Ele prevê que, “puramente em termos de tecnologia”, a aplicação da descoberta seja possível em humanos daqui a 10 anos.
Em 2016, Hayashi também fez camundongos com duas mães biológicas usando a mesma técnica. Os pesquisadores agora estão tentando replicar a criação de óvulos cultivados em laboratório usando células humanas.