• Redação Galileu
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Artigo descreve rara descoberta de embrião fossilizado de tartaruga do Cretáceo (Foto: Masato Hattori)

Artigo descreve rara descoberta de embrião fossilizado de tartaruga do Cretáceo (Foto: Masato Hattori)

Encontrar ovos de tartarugas do período Cretáceo (de 145 a 66 milhões de anos atrás) é extremamente raro, pois os materiais são frágeis e, mesmo em boas condições, há uma grande dificuldade de preservação. É de se imaginar, portanto, que achar um embrião fossilizado dentro desse tipo de ovo é ainda mais inesperado — mas foi exatamente o que aconteceu com um fazendeiro na província chinesa de Henan.

Segundo um artigo publicado no periódico Proceedings of the Royal Society B nesta quarta-feira (18), inicialmente, o homem achou ter encontrado uma pedra de aparência estranha e resolveu entregá-la para especialistas da região. Uma equipe de pesquisadores da China e do Canadá, então, investigou o achado e descobriu sua real natureza. 

Conforme consta no estudo, o espécime é do grupo Nanhsiungchelyids, uma categoria que contempla grandes tartarugas terrestres extintas por causa do mesmo asteroide que exterminou os dinossauros. Mais precisamente, os especialistas acreditam que o embrião, que tem cerca de 90 milhões de anos, seja da espécie Yuchelys nanyangensis. Essa foi primeira descrição e identificação taxonômica de um embrião de tartaruga fossilizado dentro de um ovo.

Artigo descreve rara descoberta de embrião fossilizado de tartaruga do Cretáceo (Foto: Yuzheng Ke)

Artigo descreve rara descoberta de embrião fossilizado de tartaruga do Cretáceo (Foto: Yuzheng Ke)

O ovo é rígido, esférico e mede entre 5,4 e 5,9 centímetros (aproximadamente o tamanho de uma bola de tênis), segundo divulgou o Live Science. Com uma das cascas mais grossas já vista entre tartarugas da Era Mesozoica, compreendida há 251 milhões e 65,5 milhões de anos atrás, ele é considerado um dos maiores para essa época geológica e esse animal.

Por meio de técnicas de microtomografia computadorizada e recriação em 3D, foi possível descobrir que o casco desse tipo de tartaruga deveria ter até 1,50 metro de diâmetro e que o embrião estava quase 85% desenvolvido. Além disso, ele tinha costelas planas que, assim como em filhotes modernos desses répteis, formam a base do casco conforme o animal cresce.

Uma imagem de tomografia computadorizada de ossos embrionários dentro do ovo da tartaruga. (Foto: Ke et al 2021)

Uma imagem de tomografia computadorizada de ossos embrionários dentro do ovo da tartaruga. (Foto: Ke et al 2021)

Apesar da semelhança entre passado e presente, há uma diferença importante: a grossura da casca do ovo. No geral, ela costuma ser fina para que os filhotes consigam nascer sem muita dificuldade. O embrião do Cretáceo, porém, estava dentro de um ovo com uma casca de 1,8 milímetro — grossura quatro vezes maior que a dos ovos das tartaruga-gigante-de-galápagos, por exemplo.. “A casca de calcário excepcionalmente espessa em comparação com todas as outras tartarugas pode estar relacionada a um estilo de nidificação adaptado a um ambiente extremamente hostil”, avaliam os autores do artigo.

Embora essas condições do ovo tenham sido úteis durante o Cretáceo, é possível que elas não fossem favoráveis às mudanças climáticas que sucederam a extinção em massa de 66 milhões de anos atrás, esclarece a pesquisadora Darla Zelenitsky, professora de Paleobiologia da Universidade de Calgary, no Canadá. Aliada ao asteroide, essa ausência de harmonia entre as características dos répteis e do meio ambiente poderiam explicar de forma mais completa a extinção das tartarugas Nanhsiungchelyids.

Diferentes visões de como o filhote de tartaruga poderia ter sido (Foto: Masato Hattori)

Diferentes visões de como o filhote de tartaruga poderia ter sido (Foto: Masato Hattori)