A Nasa realizou pela primeira vez em 2022 o primeiro teste de defesa planetária da humanidade, colidindo uma espaçonave com o asteroide Dimorphos, que fica próximo da Terra. O impacto gerou uma chuva de pedras que podem atingir Marte. Um estudo publicado em 12 de fevereiro no site Arxiv, ainda não revisado por pares, destaca as consequências do ocorrido.
Os cientistas testaram a técnica de deflexão na missão DART (Double Asteroid Redirection Test, ou Teste de Redirecionamento de Asteroides Duplos), que mudou a trajetória do asteroide com uma pequena espaçonave do tamanho de uma van.
A nave colidiu com o asteroide Dimorphos, de 160 metros, a 22,5 mil km/h. Esse acontecimento desviou sua órbita ao redor de uma grande rocha espacial chamada Didymos. O resultado foi a primeira "tempestade de meteoros" já criada pela humanidade.
Os pesquisadores descartaram a possibilidade de que as rochas cheguem aos céus da Terra. Entretanto, em Marte, alguns dos mini-asteroides podem perfurar a fina atmosfera do planeta e criar cicatrizes de até 300 metros de comprimento, segundo conta ao site da National Geographic um dos autores do estudo, Marco Fenucci, do Centro de Coordenação de Objetos Próximos à Terra da Agência Espacial Europeia (ESA). "Eles [os pedaços de rocha] chegarão ao solo e criarão uma cratera", ele afirma.
Impactos futuros
Observações de acompanhamento feitas pelo Telescópio Espacial Hubble, da Nasa, detectaram detritos adicionais do impacto da missão DART: 37 pedras desalojadas, algumas com até 7 metros de comprimento, afastando-se lentamente do asteroide Dimorphos. "Acreditamos que essas devem ser pedras pré-existentes que o choque lançou. Elas não foram criadas durante o impacto”, explica à National Geographic Andy Rivkin, um dos líderes da equipe de investigação da missão.
A presença dessas pedras pode representar um perigo para futuras missões espaciais, como a Hera, da ESA, com lançamento previsto já para outubro de 2024. A espaçonave deve chegar a Dimorphos em 2026 para inspecionar os destroços que a DART fez.
A equipe estudou as possibilidades de Marte ser atingida nos próximos 20 milênios. A estimativa é que daqui a 6 mil anos e novamente daqui a 13 mil anos, a órbita do planeta e as pedras possam estar próximas. Se forem estruturas fracas, os pedaços de asteroide podem explodir na atmosfera de Marte; caso contrário, podem criar um buraco no solo.
Fragmentos errantes como esses costumam vir principalmente de colisões no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. Mas, segundo destaca Federica Spoto, pesquisadora do Centro de Astrofísica Harvard e Smithsonian, o estudo mostra que "asteroides próximos da Terra também podem ser a fonte de meteoritos”.