Pesquisadores acreditavam que existia apenas uma única espécie de beija-flor-gigante do oeste da América do Sul (Patagona gigas) — considerado o "maior beija-flor do mundo", com envergadura de cerca de 21,5 cm. Porém, nesta segunda-feira (13), cientistas publicaram um estudo no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences que revela que a ave, na verdade, pertence a duas espécies diferentes.
O estudo foi feito por pesquisadores do laboratório de Ornitologia da Universidade Cornell, nos Estados Unidos e de outras instituições dos EUA e Peru. Conforme explica Chris Witt, da Universidade do Novo México, em comunicado, os beija-flores das duas espécies são tão diferentes uns dos outros quanto os chimpanzés dos bonobos.
"As duas espécies se sobrepõem em suas áreas de inverno em altitudes elevadas", conta Witt. "É surpreendente que até agora ninguém tenha descoberto o mistério do beija-flor gigante, mas essas duas espécies estão separadas há milhões de anos."
Enquanto uma das espécies vive no norte durante o ano todo e permanece nos altos da cordilheira dos Andes, a outra é habitante do sul e migra do nível do mar até cerca de 4.200 metros de altitude, durante os meses não reprodutivos.
Embora as duas aves pareçam idênticas, os seus genomas e comportamentos revelam que são diferentes. "Sabíamos que alguns beija-flores-gigantes migraram, mas até sequenciarmos os genomas das duas populações, nunca tínhamos percebido o quão diferentes eles são", expõe Jessie Williamson, autora principal do artigo e bolsista de pós-doutorado no laboratório de Ornitologia da Universidade Cornell.
Viajantes longínquos
Inicialmente, o objetivo da pesquisa era saber o destino das aves migratórias, através da monitoração delas com geolocalizadores e transmissores de satélite. Os pesquisadores conseguiram rastrear oito beija-flores individuais migrando até cerca de 8.300 quilômetros da costa chilena até os Andes do Peru e vice-versa.
De acordo com Williamson, essa é uma das mais longas migrações de beija-flores — se não, a mais extensa do mundo. A viagem de ida e volta é maior do que a distância entre Nova York, nos Estados Unidos, e Istambul, na Turquia.
Os pesquisadores acreditam que a origem das duas espécies se deu devido à mudança migratória. Até agora, conhecia-se apenas uma única espécie neste ramo da árvore genealógica do beija-flor. Já os parentes próximos do beija-flor-gigante — conhecidos como os menores beija-flores do mundo— se diversificaram em 165 espécies distintas.
A equipe de pesquisa está sugerindo nomes comuns para a diferenciação das espécies, como beija-flor gigante do norte e beija-flor gigante do sul. A espécie migrante do sul manterá o nome científico latino: Patagona gigas. Porém, a população que habita o norte teve como proposta ser batizada de Patagona chaski, que significa mensageiro em quíchua (nome de uma família de línguas indígenas que se espalhou do Peru para outros países vizinhos).
Para realizar a pesquisa, a equipe teve apoio de proprietários de terra e aldeias do Peru e do Chile, assim, teve acesso ao conhecimento local. O coautor do estudo, Emil Bautista, que vem de uma aldeia consultada pelo estudo, afirma que este trabalho foi o mais difícil que ele já realizou.
“Capturar beija-flores-gigantes é muito desafiador”, relata Bautista. "Eles observam tudo e conhecem bem seus territórios. Tivemos que ser estratégicos na escolha dos locais para nossas redes. Se os beija-flores-gigantes virem algo incomum, eles não visitarão aquele local. Eles são mais observadores do que outras aves."
A equipe de pesquisa busca continuar a pesquisa sobre esses pássaros. "Estou realmente interessado em saber como os beija-flores-gigantes do sul fazem mudanças tão dramáticas na elevação durante a migração. Eles viajam do nível do mar até os altos Andes em apenas algumas semanas", diz Williamson. “Eles são como alpinistas em miniatura. Como mudam sua fisiologia para facilitar esses movimentos?”, questiona.