• Redação Galileu
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Cristina Calderón, a última falante de Yagán, morreu aos 93 anos  (Foto: Wikimedia Commons )

Cristina Calderón, a última falante de Yagán, morreu aos 93 anos (Foto: Wikimedia Commons )

Cristina Calderón, de 93 anos, era a última falante da língua menos comum do mundo, o idioma indígena Yagán. Ela morreu em 16 de fevereiro na região chilena de Magalhães e Antártica por conta de complicações da Covid-19, informou o World Guiness Records nesta quarta-feira (23).






Conhecida pelos habitantes locais como “abuela Cristina” (“vovó Cristina”, em espanhol), Calderón passou a ser a última guardiã da língua perdida em 2003, ano em que morreu sua irmã. Ela era a única oradora de Yagán, dado que o idioma originalmente não tem forma escrita.

Nascida em 1928, em outra ilha chilena, a Isla Navarino, a "abuela" viveu sua vida na comunidade de Villa Ukika, mantendo sempre crenças tradicionais da cultura dos povos Yagán, que é muito rica.

Durante 6 mil anos, esses nômades andavam de canoa por canais remotos do arquipélago da Terra do Fogo, no extremo sul da Patagônia. Antes da exploração da Argentina e Chile na região no final do século 19, havia entre 3 mil a 10 mil membros dessa cultura. A população começou a colapsar devido a doenças e realocação, restando apenas 70 indivíduos em 1930.

Cristina Calderón com a filha dela, Lidia González (Foto: Reprodução/Twitter/@lidiayagan)

Cristina Calderón com a filha dela, Lidia González (Foto: Reprodução/Twitter/@lidiayagan)

A língua Yagán acabou sendo abandonada conforme os nativos sofreram preconceito e pressão para falar o espanhol. Calderón não escapou disso e aprendeu a língua espanhola com uma amiga quando tinha nove anos.

Quando mais velha, trabalhou por muitos anos tricotando meias Yagán e fazendo cestas de junco, uma tradição indígena de longa data que a permitiu sustentar seus nove filhos e quatorze netos.

Além disso, ela ajudou a preservar o Yagán ao elaborar um pequeno dicionário com traduções em espanhol, conhecido como Yagankuta. Isso a fez ser reconhecida como “Tesouro Vivo Humano” pelo Conselho Nacional de Cultura e Artes do Chile. Em 2009, Calderón foi declarada como “Filha Ilustre da Região de Magalhães e da Antártida Chilena”, segundo o Guiness.






A neta da falante ilustre, Cristina Zarraga, ajudou a avó criando um CD com palavras Yagán para acompanhar o dicionário. Elas também editaram um livro de lendas, canções e contos no idioma indígena. A língua é tão bela que tem uma palavra praticamente “intraduzível” — “mamihlapinatapai”, termo usado para definir um olhar compartilhado entre duas pessoas no qual ambas sabem o que está sendo “dito”.

Em uma postagem no Twitter, Lidia González, filha de Cristina Calderón, lamentou a morte da matriarca. “Mãe, para o Yagán, sua partida gera um vazio insubstituível do ponto de vista cultural, humano e emocional. E nos coloca a tarefa de preservar sua memória e com ela a de nosso povo", escreveu.