Em estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) no último dia 5 de março, cientistas descrevem um fóssil raro de 38 milhões de anos. O âmbar apresenta dois indivíduos de uma espécie extinta de cupim, dando pistas sobre como se reproduziam antigos insetos.
“Fósseis de cupim são bem comuns, mas essa peça é única porque contém um par”, comenta, em nota, o pesquisador Ales Bucek. Além de possibilitar o estudo de uma dupla, o material se destaca por fornecer evidência sobre o comportamento desses insetos – uma informação que não costuma ser obtida a partir de fósseis.
O exemplar foi encontrado por pesquisadores em uma plataforma de e-commerce para colecionadores de fósseis. Ele foi adquirido e, depois, submetido a uma microtomografia. “Identificar a espécie não foi fácil, porque havia bolhas na frente de partes importantes dos corpos dos cupins”, diz o pesquisador Simon Hellemans.
![Cupins fossilizados vistos de perto. À esquerda, a fêmea. À direita, o macho — Foto: Aleš Buček/Okinawa Institute of Science and Technology/The Czech Academy of Sciences](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/XvM2kzWk6cs7wOog2r34Ypp34rI=/0x0:930x958/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/W/B/S88KTkTiq3MInWdBQlbA/image2-pair-for-eternity-close-up.jpg)
Apesar da dificuldade, foi possível classificar os indivíduos como um macho e uma fêmea da espécie Electrotermes affinis. Os cientistas também notaram que a “boca” — tecnicamente chamada de aparelho bucal — da fêmea estava tocando a ponta do abdômen do macho, em uma posição que se assemelha a um comportamento de acasalamento visto ainda hoje em outros cupins.
Esse hábito é apelidado de “corrida de tandem”. Basicamente, os cupins formam uma linha reta: um fica posicionado na frente, enquanto o de trás mantém contato por meio da antena ou do aparelho bucal. Assim, o par consegue ficar junto ao procurar um local para reprodução e construção do ninho.
![Imagem mostra a "corrida de tandem" realizada por cupins. Na frente, a fêmea. Atrás, o macho — Foto: Aleš Buček/Okinawa Institute of Science and Technology/The Czech Academy of Sciences](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/jmmD4kOmvjTOGFvyXCDKWWkVK_E=/0x0:955x599/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/Q/k/Kk7Mr8RBCBicD1HRkIyA/image3-tandem-run-bourguignon.png)
O fóssil apresenta semelhanças com essa prática, mas também uma diferença: os corpos não estão tão bem alinhados, e sim um ao lado do outro, de maneira irregular. Os pesquisadores acreditam que essa posição incomum seja resultado do processo de fossilização.
![Ilustração artística mostra cupins ficando presos na resina da árvore (o que, posteriormente, resultou no âmbar estudado) — Foto: Anna Prokhorova/Okinawa Institute of Science and Technology/ The Czech Academy of Sciences](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/lU6bqWOegiUmCwlY3iuNGdSVotw=/0x0:670x958/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/s/m/2ddPn2R2iMIFaCQAIpNA/image4-artists-impression-termites-tandem.jpg)
Para testar essa hipótese, os cientistas fizeram uma simulação em laboratório. Eles expuseram cupins vivos a uma superfície grudenta, com o objetivo de analisar a primeira fase do processo: a imobilização dos insetos.
“Descobrimos que a postura do par fossilizado corresponde à dos cupins presos e difere da de cupins livres”, escrevem os autores no artigo. “Ademais, comparando as posturas dos parceiros em uma superfície grudenta e na inclusão de âmbar, acreditamos que o macho provavelmente desempenhou o papel de líder na tandem fossilizada”, concluem.