• Redação Galileu
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Fóssil da nova espécie de dinossauro (Foto: MNHNChile/Youtube)

Estudo publicado na Nature Ecology & Evolution investiga a influência e a extensão de preconceitos na formulação do Paleobiology Database (Foto: MNHNChile/Youtube)

Colonialismo e fatores socioeconômicos, como riqueza, educação e estabilidade política, impactam a distribuição global de dados fósseis nos últimos 30 anos e, consequentemente, afetam a documentação da história da vida na Terra. É o que argumenta um novo estudo envolvendo paleontólogos da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, e da Universidade de Erlangen-Nürnberg, na Alemanha.

No estudo, publicado na Nature Ecology & Evolution, os pesquisadores investigaram a influência e a extensão desses preconceitos no Paleobiology Database, um vasto banco de dados aberto ao público e amplamente utilizado para estudos analíticos na área.

Segundo o artigo, é possível, por exemplo, identificar estes vieses ao mapear as fontes de produção de conhecimento. O levantamento mostra que pesquisadores de países de renda alta ou média alta contribuem com 97% dos dados fósseis, o que significa que os países ricos, localizados principalmente no Norte Global, controlam a maior parte do poder de pesquisa paleontológica.

A equipe também descobriu que os países que mais contribuem para a pesquisa paleontológica realizam uma quantidade desproporcional de trabalhos no exterior, mais da metade dos quais não envolveu nenhum pesquisador local, o que afeta a maneira como os paleontólogos conduzem suas pesquisas e, em casos extremos, podem levar a práticas antiéticas.

Em comunicado para a imprensa, a co-autora Dra. Emma Dunne lembra que, embora seja de conhecimento geral que existem irregularidades e lacunas na produção do conhecimento do registro fóssil, os fatores históricos, sociais e econômicos que influenciam essas lacunas não são bem compreendidos.

“Estamos familiarizados, por exemplo, com “colonialismo científico” ou com a “ciência de pára-quedas”, em que pesquisadores, geralmente de países de renda mais alta, vão a outros países para realizar pesquisas e depois partem sem qualquer envolvimento com as comunidades locais e especialistas locais. Mas, esta questão vai além disso - a experiência dos pesquisadores locais é desvalorizada e as leis são frequentemente violadas, dificultando o desenvolvimento científico nacional e levando à desconfiança entre os pesquisadores", explica a cientista.

Para os pesquisadores, o primeiro passo para conduzir pesquisas mais equitativas e éticas é abordar as relações de poder que impulsionam a produção científica. Isso significa envolver e reconhecer adequadamente a experiência local.

"Sabemos que não podemos simplesmente erradicar o preconceito, mas ao compreendê-lo, abrimos novos caminhos para a compreensão de nosso passado que cruza fronteiras e se estende por disciplinas de ciências e artes. A paleontologia realmente floresce quando abraçamos esse tipo de diversidade", conclui a Dra. Dunne.