Arqueologia

Por Redação Galileu

Esqueletos de 38 pessoas foram encontrados em uma vala de um assentamento neolítico na Eslováquia. Todos eles estavam sem cabeça, com exceção dos restos de uma criança, segundo informou a Universidade de Kiel, na Alemanha, em comunicado no último dia 12 de janeiro.

Pesquisadores da instituição conduziram neste ano de 2023 uma escavação na cidade eslovaca de Vráble junto do Instituto Arqueológico da Academia Eslovaca de Ciências. No ano passado, a equipe já havia descoberto esqueletos sem cabeça no mesmo assentamento, chamado Vráble-Ve'lke Lehemby.

"Presumimos encontrar mais esqueletos humanos, mas isso excedeu todas as imaginações", relata um dos líderes do projeto, o professor Martin Furholt, no comunicado.

Restos mortais de 38 indivíduos foram encontrados em uma vala na Eslováquia  — Foto: Martin Furholt, Instituto de Arqueologia Pré e Protohistórica/Universidade de Kiel
Restos mortais de 38 indivíduos foram encontrados em uma vala na Eslováquia — Foto: Martin Furholt, Instituto de Arqueologia Pré e Protohistórica/Universidade de Kiel

Há vários anos, Vráble-Ve'lke Lehemby é pesquisado por arqueólogos do Centro de Pesquisa Colaborativa (CRC) 1266 da Universidade de Kiel. O local do Neolítico Inferior (5.250–4.950 a.C) foi um dos maiores assentamentos do período na Europa Central.

Artefatos encontrados no terreno estão associados à antiga cultura agrícola da olaria linear (Linear Pottery Culture, LBK). Em três aldeias vizinhas, foram identificadas 313 casas por medições geomagnéticas. Até 80 moradias eram habitadas ao mesmo tempo, sugerindo uma densidade populacional excepcional para o período.

Durante as escavações, os arqueólogos encontraram os restos dos adultos e da criança em uma área de cerca de 15 m². Nenhum dos mortos foi cuidadosamente enterrado: eles estavam um em cima do outro, lado a lado, estendidos de bruços, agachados de lado e até de costas com os membros estendidos. As posições deles sugerem que a maioria foi apenas arremessada na vala.

Como, quando e por que as cabeças dos adultos foram removidas são enigmas que intrigam os cientistas. “Em valas comuns com posicionamento incerto, a identificação de um indivíduo geralmente é baseada no crânio, portanto, para nós, a descoberta deste ano representa uma situação de escavação particularmente desafiadora”, explica Furholt.

Embora os pesquisadores não saibam se os indivíduos foram mortos violentamente ou se a remoção das cabeças ocorreu somente após a decomposição dos cadáveres, eles encontraram pistas que podem descartar a hipótese de violência.

"Em alguns esqueletos, a primeira vértebra cervical é preservada, indicando a remoção cuidadosa da cabeça, em vez da decapitação no sentido violento e implacável - porém todas essas são observações muito preliminares que precisam ser confirmadas com mais investigações", admite Katharina Fuchs, arqueóloga da Universidade de Kiel.

Mesmo sem violência, teriam todas as pessoas morrido de uma só vez? Segundo a especialista, vários ossos fora da posição anatômica sugerem que a sequência dos acontecimentos pode ter sido mais complexa. “É possível que corpos já esqueléticos tenham sido empurrados para o meio da trincheira para abrir espaço para novos", ela avaliou.

Os esqueletos jaziam misturados e em posições diferentes em uma área de 15 metros quadrados — Foto: Till Kühl, Instituto de Arqueologia Pré e Protohistórica/Universidade de Kiel
Os esqueletos jaziam misturados e em posições diferentes em uma área de 15 metros quadrados — Foto: Till Kühl, Instituto de Arqueologia Pré e Protohistórica/Universidade de Kiel

Para Maria Wunderlich, uma das líderes do projeto, pode parecer óbvio supor um massacre com sacrifícios humanos, talvez até mesmo com ideias mágicas ou religiosas. Mas outra hipótese pode ter sido que as vítimas tinham alguma relação com conflitos bélicos, por exemplo, entre comunidades de aldeias ou mesmo dentro do grande assentamento.

"Essas pessoas caíram vítima de caçadores de cabeça, ou seus companheiros de aldeia praticavam um culto especial à morte que não tinha nada a ver com violência interpessoal?”, questiona a pesquisadora.

Segundo os especialistas, as respostas só podem ser encontradas na interação de investigações arqueológicas e osteológicas, análises de DNA, datação por radiocarbono, entre outras intervenções complementares.

“As possibilidades são muitas e é importante permanecer aberto a novos deslumbres e ideias. Mas é indiscutível que esse achado é absolutamente único para o Neolítico europeu até agora", conclui Wunderlich.

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