• Redação Galileu
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Svante Pääbo, ganhador do Nobel de 2022 de Medicina (Foto: Nobel Institute)

Svante Pääbo, ganhador do Nobel de 2022 de Medicina (Foto: Nobel Institute)

O cientista sueco Svante Pääbo ganhou o Prêmio Nobel 2022 em Medicina, segundo anunciou nesta segunda-feira (3) a Assembleia do Nobel no Instituto Karolinska, na Suécia. O laureado levou 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 4,8 milhões) por suas descobertas sobre genomas de hominídeos extintos e evolução humana.






Pääbo sequenciou pela primeira vez o genoma do neandertal, um parente extinto dos Homo sapiens. Ele também descobriu o hominídeo de Denisova e demonstrou que a transferência de genes ocorreu dessa espécie encontrada na Sibéria para o homem moderno após a migração para fora da África, há cerca de 70 mil anos.

“Esse antigo fluxo de genes para os humanos atuais tem relevância fisiológica hoje, por exemplo, afetando como nosso sistema imunológico reage a infecções”, explica o comitê do prêmio Nobel, acrescentando que a pesquisa de Pääbo originou a paleogenômica, disciplina científica que reconstrói e analisa informações genômicas em espécies extintas.

Fascinado por hominídeos

Svante Pääbo nasceu em 20 de abril de 1955, em Estocolmo, na Suécia. De acordo com o jornal britânic The Guardian, desde cedo ele era fascinado pela história humana antiga e pela egiptologia. O laureado estudou o assunto, junto de história da ciência e russo, na Faculdade de Humanidades da Universidade de Uppsala, entre 1975 a 1981.

Após se formar em medicina em 1980 na mesma instituição, ele trabalhou em um projeto paralelo secreto para isolar o DNA de espécimes de múmia, algo que conseguiu parcialmente, mas notou estar repleto de desafios dado que o material genético antigo é degradado e contaminado com indícios genéticos de bactérias e humanos modernos.

O cientista sueco Svante Pääbo estava tomando um café quando recebeu a notícia de que foi ganhador do Nobel de Medicina de 2022 (Foto: Nobel Prize/Facebook/Reprodução)

O cientista sueco Svante Pääbo estava tomando um café quando recebeu a notícia de que foi ganhador do Nobel de Medicina de 2022 (Foto: Nobel Prize/Facebook/Reprodução)

Como aluno de pós-doutorado de Allan Wilson, pioneiro no campo da biologia evolutiva, Pääbo passou a criar métodos para estudar o DNA dos neandertais. Em 1990, o sueco virou professor de biologia na Universidade de Munique, na Alemanha, onde continuou sua investigação sobre material genético arcaico, decidindo analisá-lo em mitocôndrias neandertais.

Em 1997, ele se tornou diretor do Instituto Max Planck em Leipzig, na Alemanha, onde atuou na intenção de melhorar seus métodos para isolar e analisar DNA de restos ósseos arcaicos. 

O DNA fica em dois compartimentos diferentes na célula. O DNA nuclear abriga a maior parte da informação genética, enquanto o genoma mitocondrial, muito menor, está presente em milhares de cópias (Foto: Nobel Prize)

O DNA fica em dois compartimentos diferentes na célula. O DNA nuclear abriga a maior parte da informação genética, enquanto o genoma mitocondrial, muito menor, está presente em milhares de cópias (Foto: Nobel Prize)

Primeira sequência neandertal

Em 2008, um fragmento de 40 mil anos de um osso de dedo foi descoberto na caverna Denisova, no sul da Sibéria. O fóssil continha DNA excepcionalmente bem preservado, o qual a equipe de Pääbo sequenciou, revelando um hominídeo anteriormente desconhecido. 

Comparações com sequências de humanos atuais de diferentes partes do mundo mostraram que um fluxo gênico ocorreu entre Denisova e Homo sapiens. A relação foi vista pela primeira vez em populações na Melanésia, na Oceania, e em outras partes do Sudeste Asiático, onde os indivíduos carregam até 6% de DNA de Denisova.

A: Pääbo extraiu pela primeira vez um fragmento de osso de neandertal na Alemanha. Mais tarde, estudou osso de dedo da Caverna Denisova, no sul da Sibéria, o local que deu nome aos denisovanos. B: Árvore filogenética mostrando evolução e relação entre o Homo sapiens e hominídeos extintos (Foto: Nobel Prize)

A: Pääbo extraiu pela primeira vez um fragmento de osso de neandertal na Alemanha. Mais tarde, estudou osso de dedo da Caverna Denisova, no sul da Sibéria, o local que deu nome aos denisovanos. B: Árvore filogenética mostrando evolução e relação entre o Homo sapiens e hominídeos extintos (Foto: Nobel Prize)

Em 2010, o cientista publicou a primeira sequência do genoma neandertal. Análises comparativas revelaram que o ancestral comum mais recente dos neandertais e Homo sapiens viveu há cerca de 800 mil anos. 






Após as descobertas iniciais, o grupo de Pääbo analisou várias outras sequências genômicas de hominídeos extintos. Atualmente, o vencedor do Nobel é afiliado ao Instituto Max Planck e ao Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa, no Japão. Graças às suas descobertas, entendemos que somos influenciados por sequências de genes arcaicos dos nossos parentes extintos.

Pääbo, que descobriu o hominídeo de Denisova e sequenciou o genoma neandertal, realizou estudos base para explicar o que nos torna exclusivamente humanos (Foto: Nobel Prize)

Pääbo, que descobriu o hominídeo de Denisova e sequenciou o genoma neandertal, realizou estudos base para explicar o que nos torna exclusivamente humanos (Foto: Nobel Prize)

“Um exemplo é a versão denisovana do gene EPAS1, que confere uma vantagem para a sobrevivência em grandes altitudes e é comum entre os tibetanos atuais”, cita a Assembleia do Nobel. “Outros exemplos são os genes neandertais que afetam nossa resposta imune a diferentes tipos de infecções”.