• Redação Galileu
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Reconstrução de um homem Neanderthal  (Foto: Wikimedia Commons )

Reconstrução de um homem Neanderthal (Foto: Wikimedia Commons )

Os Neandertais habitaram a Europa e a Ásia antes da chegada dos Homo sapiens, os humanos modernos. Há cerca de 60 mil anos, os dois grupos de hominídeos passaram a conviver, de modo que entre 1% e 2% da população mundial ainda carrega uma parte do genoma neandertal

Nos europeus, essa herança é mais acentuada. Por isso, duas variantes enzimáticas que estão presentes em cerca de 20% da população da Europa foram estudadas por pesquisadores do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, e do Instituto Karolinska, na Suécia.

O objetivo era analisar se essas enzimas herdadas dos Neandertais têm o potencial de afetar a eficácia de medicamentos comuns, como antitérmicos, em quem as carrega.

A pesquisa foi publicada em 2 de julho no periódico The Pharmacogenomics Journal, e os resultados revelaram uma variante no DNA que codifica as enzimas da família do citocromo P450, modificando o funcionamento das enzimas CYP2C8 e CYP2C9 no cromossomo 10. 

Essa má função ocorre quando os alelos dos genes CYP2C8 e CYP2C9 não conseguem se conectar por conta da modificação genética do DNA. Segundo o estudo, isso gera alterações que impactam na metabolização de vários fármacos, sendo os mais notáveis o anticoagulante varfarina e o antiepilético fenitoína.

No caso dessas duas drogas, em pessoas com as mutações genéticas, os fármacos podem ser nocivos à saúde ao causar intoxicação mesmo em doses terapêuticas. Além desses medicamentos, antitérmicos, analgésicos e drogas para baixar o colesterol também sofrem interferência na presença desses genes.

O estudo tem como objetivo mostrar que, em algumas pessoas, dosagens de medicamentos comuns devem ser alteradas e, na hora de receitar os remédios, fatores genéticos devem ser levadas em conta.

"Este é um caso em que a mistura com os Neandertais tem impacto direto na clínica. Caso contrário, as doses terapêuticas podem ser tóxicas para os portadores da variante do gene neandertal", resume Hugo Zeberg, um dos autores do estudo, em comunicado.