• Redação Galileu
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Reconstrução do líder grego conhecido como guerreiro Griffin  (Foto: Lynne Schepartz e Tobias Houlton/HVRU/Universidade de Witwatersrand)

Reconstrução do líder grego conhecido como guerreiro Griffin (Foto: Lynne Schepartz e Tobias Houlton/HVRU/Universidade de Witwatersrand)

O DNA antigo de 777 humanos do “berço da civilização ocidental” foi sequenciado por cientistas de diversos países, que traçaram uma linha do tempo da população desde as primeiras culturas agrícolas até o período após a Idade Média. O resultado foi registrado em três estudos na revista Science nesta quinta (25) e sexta-feira (26).






O foco das pesquisas, lideradas por pesquisadores da Universidade Harvard, nos EUA, foram as populações do chamado “Arco do Sul”, que abrange o sudeste da Europa e a Ásia Ocidental, onde teria surgido a civilização do Ocidente. Os estudos investigaram, ao todo, uma história genômica de cerca de 11,7 mil anos, indo do Neolítico (aproximadamente 10 mil a.C.) ao período Otomano (1,7 mil d.C.).

Os artigos demostraram que, entre 5 mil e 7 mil anos atrás, as pessoas com ascendência do Cáucaso se mudaram para o oeste na Ásia Menor (atual Turquia) e para o norte, na estepe da Europa Oriental. Então, quem estava na estepe espalhou-se pela Europa e pela Ásia Ocidental e de volta ao Cáucaso. Isso originou uma mistura de diversas ascendências, da qual surgiram falantes das línguas grega, paleo-balcânica e albanesa.

“A linguística já nos deu uma pista de que os povos da Anatólia e da Europa estavam relacionados pela linguagem, mas agora podemos ter pela primeira vez uma imagem quase completa de como isso aconteceu”, afirmou Iosif Lazaridis, primeiro autor dos três artigos, ao site IFLScience. “Todas as línguas indo-europeias conhecidas podem agora ser ligadas através de uma cadeia de migrações a uma fonte comum há cerca de 6 mil anos.”

Sharon Stocker supervisiona a escavação da tumba do guerreiro Griffin em Pylos, Grécia  (Foto: Jack Davis/UC Classics)

Sharon Stocker supervisiona a escavação da tumba do guerreiro Griffin em Pylos, Grécia (Foto: Jack Davis/UC Classics)

As pesquisas envolveram mais de 200 coautores de vários países, que forneceram conhecimentos de muitas disciplinas. O primeiro estudo analisou dados de 5 mil a 1.000 a.C., revelando trocas genéticas entre a Estepe Eurasiana e o “Arco do Sul”. Também trouxe informações sobre os pastores da estepe Yamnaya e a possível origem da língua indo-europeia.

Entre os restos estudados, estavam os de um antigo líder grego, um homem entre 30 e 35 anos conhecido hoje como o guerreiro Griffin. Os estudiosos descobriram que ele provavelmente cresceu em torno da cidade litorânea que um dia ele mesmo governaria. Seu túmulo estava sob um pomar de oliveiras em Pylos, no sul da Grécia, e continha armas, armaduras e obras de arte preciosas.

Havia até mesmo uma placa de marfim estampada com a imagem de um grifo mitológico meio-águia e meio-leão que deu ao guerreiro seu apelido. "Ele era um homem jovem e rico, que cumpriu diferentes funções: uma função religiosa ou sagrada, como um guerreiro notável e como líder de seu povo", conta, em comunicado, Sharon Stocker, pesquisadora sênior envolvida na descoberta da tumba.

O professor da Universidade de Cincinnati, Jack Davis, e a pesquisadora sênior associada, Sharon Stocker, descobriram a tumba do guerreiro Griffin em 2015 (Foto:  Robert McCabe)

O professor da Universidade de Cincinnati, Jack Davis, e a pesquisadora sênior associada, Sharon Stocker, descobriram a tumba do guerreiro Griffin em 2015 (Foto: Robert McCabe)

O segundo estudo, por sua vez, explorou o DNA antigo de populações pré-cerâmicas e de culturas com cerâmicas neolíticas da Ásia Menor. Os pesquisadores descobriram que as primeiras vieram de misturas da Mesopotâmia, enquanto as últimas experimentaram pelo menos dois pulsos de migração do coração do Crescente Fértil.






Já o terceiro trabalho analisou populações como romanos, urartianos e micênicos. De acordo com a pesquisa, as elites do período micênico na Grécia não diferiam da população em geral e incluíam tanto pessoas com alguma ascendência da Estepe Eurasiana quanto de outras, como o guerreiro Griffin. O povo do centro do Reino Urartiano tampouco tinha a ancestralidade das estepes — essa característica só existia no norte do reino.

Ainda segundo o estudo, o povo da Ásia Menor serviu de “núcleo demográfico” para grande parte do Império Romano, incluindo a própria cidade de Roma. “Durante os tempos medievais, as migrações associadas a falantes de eslavos e turcos afetaram profundamente a região”, diz a pesquisa.