• Redação Galileu
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Mulheres são maiores alvos de bullying em ambiente acadêmico (Foto: Reprodução/Diane Serik/Unsplash)

Mulheres são maiores alvos de bullying em ambiente acadêmico (Foto: Reprodução/Diane Serik/Unsplash)

Apesar de a Suécia se considerar um país perto da igualdade de gênero, uma pesquisa recente publicada na revista Nature prova que a desigualdade ainda marca presença na sociedade sueca. O estudo, que foi realizado em universidades suecas para entender a violência de gênero e assédio sexual no setor da educação, revelou que 14% das mulheres ainda sofrem assédio e bullying no ambiente acadêmico.

Além do recorte de gênero, a pesquisa realizada entre maio e junho de 2021 também mostrou que estudantes de doutorado, sejam homens ou mulheres, também são vítimas de alguma violência. De acordo com os dados, no último ano, um em cada sete estudantes de doutorado afirmou ter sofrido bulliyng ou assédio.

Para chegar nesse resultado e em outros desdobramentos, a equipe liderada por Christina Björklund, que estuda bullying no Instituto Karolinska em Solna, na Suécia, encaminhou uma pesquisa para 38 universidades questionando universitários, doutorandos e funcionários sobre suas vivências nas instituições. Aproximadamente 39 mil pessoas responderam à pesquisa, com 59,6% mulheres e 40,4% homens.

Resultados

Entre todos os funcionários e alunos, 7% dos entrevistados disseram ter sofrido bullying nos últimos 12 meses, aumentando para 14% para funcionárias e 15% para estudantes de doutorado. As proporções de pesquisadores e funcionários administrativos afetados foram de 12% e 10%, respectivamente (nesses grupos não houve discriminação por gênero). A taxa de bullying em toda a população trabalhadora da Suécia é de cerca de 10%.

Como a pesquisa ocorreu durante a pandemia, os entrevistados também foram questionados sobre cyberbullying, pois estavam em home office. Cerca de 5% dos entrevistados afirmaram ter sofrido bullying no trabalho pelas redes sociais, e-mails ou em mensagens de texto.

Metade das pessoas que sofreram assédio sexual nas instituições disse que contou a alguém sobre suas experiências, mas apenas 12% relataram o comportamento por meio de canais formais. A razão mais comum dada para não apresentar um relatório foi "não foi tão sério" para mulheres e “eu mesmo lidei com isso” para os homens.

As microagressões também foram consideradas, como ser interrompido, ignorado ou mal tratado. Mais de 95% dos entrevistados disseram que nunca foram xingados, mas 50% disseram já terem passado por situações em que suas opiniões não receberam atenção.

Resultados da pesquisa  (Foto: Reprodução/Nature)

Resultados da pesquisa (Foto: Reprodução/Nature)

Paridade de gênero, verdade ou mito?

A igualdade de gênero na Suécia ainda tem um longo caminho a percorrer: em 2017, uma reportagem da BBC mostrou que, mesmo o país ocupando a primeira posição entre as nações industrializadas em relação à igualdade de gênero no setor público, muitas mulheres não estão satisfeitas com a realidade.

Isso porque no setor privado, a igualdade entre homens e mulheres está longe de ser realidade. Apesar do país ter seus benefícios, como licenças remuneradas para pais desde 1970, e a possibilidade de poder ficar o período de 480 dias em casa após o nascimento dos filhos, quando o assunto é carreira profissional, a história é outra.

De acordo com a matéria do veículo britânico, em 2016, mais de 80% dos gerentes das empresas suecas que tinham ações negociadas na bolsa eram homens. E nenhuma companhia que abriu o capital naquele ano era presidida por mulheres.

Mulheres brasileiras na ciência

Se na Suécia ainda existe esse problema, no Brasil a realidade é ainda mais complicada. Embora nos últimos anos a ciência esteja ganhando destaque, o número de mulheres cientistas é baixo, apenas 28% de acordo com um levantamento realizado pela Unesco em 2019. Mesmo as meninas se destacando desde pequenas nas áreas científicas, o estereótipo de gênero as colocam de escanteio ao longo da vida.

Um levantamento de 2004 analisando as bolsas de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) mostrou que havia 283 bolsistas homens para 23 mulheres. E o motivo para tamanha diferença é a maternidade. Ao decidirem tirar um tempo para se dedicar aos filhos, quando retornam à vida científica, as mulheres acabam ficando para trás em relação aos colegas.

Ainda que persistam na carreira científica, são reduzidas à condição de assistentes, sem reconhecimento, mesmo sendo igualmente capazes.