• Redação Galileu
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Cientista Aubrey de Grey foi acusado por duas mulheres de assédio sexual (Foto: liftconferencephotos/Wikimedia Commons)

Cientista Aubrey de Grey foi acusado por duas mulheres de assédio sexual (Foto: liftconferencephotos/Wikimedia Commons)

Pioneiro na ciência antienvelhecimento, o biogerontologista inglês Aubrey de Grey foi acusado de assédio sexual por duas empresárias no ramo que busca métodos para prolongar a expectativa de vida. Laura Deming, de 27 anos, e Celine Halioua, de 26, publicaram na última terça-feira (10) textos na internet relatando experiências abusivas que tiveram com de Grey no início de suas carreiras.

Ambas trabalharam com o britânico na Fundação SENS, instituição referência criada pelo cientista em 2009. Apesar de de Grey ter negado as acusações em uma publicação no Facebook na quarta-feira (11), a SENS informou que ele foi afastado de seu cargo de diretor científico — e que assim permanecerá até que as investigações sobre o caso sejam concluídas.

“Durante anos ele [Aubrey de Grey] usou sua posição de poder no campo de envelhecimento para atrair suas vítimas. Essas vítimas incluem eu, Laura Deming e várias outras mulheres anônimas”, conta Celine Halioua, fundadora e CEO da Loyal, startup dedicada à longevidade de cachorros. “Laura era menor [de idade] quando Aubrey deu em cima dela; eu era uma bolsista da SENS”, afirma Celine no início de seu relato.

Além de ter sido estagiária na SENS em 2016, Halioua foi financiada pela fundação durante seus estudos de graduação e pós, período no qual ela alega que executivos aproveitavam de sua juventude para atrair fundos de doadores.

Certa vez, em um jantar, Aubrey de Grey teria dito que ela deveria fazer sexo com os financiadores. “Fui embora aos prantos. Levei anos para afastar a crença profunda de que eu só havia chegado onde estou devido a homens mais velhos querendo fazer sexo comigo”, compartilha ela.

Laura Deming narra uma ocasião em que, aos 17 anos, recebeu um e-mail do cientista falando que ele tinha uma "vida amorosa aventureira" e insinuando um desejo reprimido de ter conversas a esse respeito com ela, que conhecia de Grey desde os 14 anos. Deming afirma que, por anos, entendeu a situação como um erro cometido pelo gerontologista, chegando até a se questionar se ela tinha culpa nisso, por ser uma menina com idade muito mais jovem do que a média das pessoas do setor.

“Eu sabia que às vezes haveria mal-entendidos, mas eu não esperava que um mentor confiável que eu conhecia desde a infância desse em cima de mim de maneira tão descarada e insinuasse que eu estava em seus pensamentos”, escreve Deming, que hoje está à frente da Longevity Fund, companhia de investimentos em longevidade. “Parecia errado entrar voluntariamente em uma indústria onde assédio sexual era a norma.”

Ela conta que descobriu, no início de 2021, que havia outras vítimas além dela e alega que de Grey vinha tentando impedir que a diretoria da SENS fizesse algo sobre isso. Agora o Conselho da fundação contratou uma empresa para investigar o cientista, mas Deming critica a instituição por ter arrecadado recentemente US$ 25 milhões a partir da reputação científica de Aubrey de Grey, segundo ela.

Celine Halioua acusa a SENS de ter conhecimento há mais tempo sobre as acusações e demorar para tomar providências. “O conselho recebeu depoimentos de outras mulheres no início de 2021; testemunhos que incluem abuso sexual físico. Mas a SENS não agiu”, alega. “Só depois que Laura e eu nos expusemos, há dois meses, a SENS iniciou uma investigação interna.”

O que dizem a SENS e Aubrey de Grey

Em declaração enviada ao site norte-americano Stat, a diretora executiva interina da SENS, Lisa Fabiny, disse que a primeira vez que a fundação recebeu acusações por parte de Deming e Halioua foi no final de junho. A contratação de uma empresa terceira para investigar as alegações e a licença administrativa imposta a de Grey foram as reações iniciais às denúncias, de acordo com ela.

Fabiny também escreveu que “não seria apropriado especular sobre os resultados enquanto o processo permanece em andamento”, mas garantiu que a instituição levará as conclusões a sério para tomar medidas decisivas, caso necessário. “Nós não toleramos comportamentos que façam com que colegas e membros de nossa comunidade científica se sintam vitimados, atingidos ou prejudicados”, afirmou.

Em um post no Facebook, Aubrey de Grey negou as acusações e disse acreditar que Deming e Halioua estão enganadas e acham que ele fez muitas coisas que ele não fez. Negou a fala no jantar com Halioua e confirmou ter enviado aquele e-mail a Deming, mas estranhou o reaparecimento de uma situação tão antiga nos últimos meses, o que teria sido motivado por instigação dos outros, segundo de Grey.

“Na minha opinião, só neste ano Celine acreditou que fiz coisas em um jantar de 2018”, escreve ele. “Laura, por sua vez, foi levada a acreditar que meu único e-mail (embora eu reconheço e lamento, imprudente) para ela nove anos atrás fosse um exemplo de um padrão, o que não é.” O cientista diz que não permitirá que essa questão termine em um “tribunal da opinião pública associando mentiras a mim ou a Celine e Laura enquanto os verdadeiros culpados estão rindo”.

Cientista Aubrey de Grey em palestra em Genebra, na Suíça, em 2010 (Foto: liftconferencephotos/Wikimedia Commons)

Cientista Aubrey de Grey em palestra em Genebra, na Suíça, em 2010 (Foto: liftconferencephotos/Wikimedia Commons)

Celine Halioua lamenta a possibilidade de mulheres terem desistido do campo do antienvelhecimento após um contato abusivo com Aubrey de Grey, quem ela define como “predador sexual”. “Quantos futuros líderes e futuros cientistas perdemos para a perversão de Aubrey? Quantas descobertas potenciais de envelhecimento?”, questiona.

Para ela, qualquer grupo que continue a dar espaço para de Grey, acadêmica ou financeiramente, estará sendo complacente com o assédio sexual de menores de idade e estudantes.