As britânicas Emily Patrick, 38, produtora criativa, e Kerry Osborn, 35, professora, de Hampshire, na Inglaterra, tiveram dois filhos, Elvis e Ezra, que nasceram por fertilização in vitro. É a primeira vez que o procedimento, conhecido como fertilização recíproca, é feito no Reino Unido. Elvis foi criado a partir do óvulo de Kerry que foi fertilizado e implantado no útero de Emily, e Ezra foi criado a partir do óvulo de Emily e implantado em Kerry.
Durante uma edição do programa de TV Lorraine, o casal disse que decidiu fazer desta forma para que pudessem sentir um vínculo especial com os filhos e revelou que queriam que o pai biológico de seus bebês "se parecesse com elas". As mulheres usaram o mesmo doador de esperma, um homem americano com ascendência holandesa e alemã, o que significa que os seus filhos são biologicamente meio-irmãos.
"Nunca tínhamos ouvido falar de ninguém que fez dessa forma, apenas pensamos que seria realmente adorável compartilhar a jornada uma da outra, estando grávidas ao mesmo tempo. E mesmo que não estejamos geneticamente ligadas à outra criança, ainda compartilhamos esse vínculo", disse Emily. Elvis nasceu de parto natural no Ano Novo. Ezra chegou por cesariana de emergência no dia 28 de fevereiro. O procedimento custou à dupla 25 mil libras (cerca de 160 mil reais).
'Escolher o doador era como usar um aplicativo de namoro'
O casal também falou sobre suas experiências com o processo de doação de esperma, acrescentando que era como "um aplicativo de namoro". “Você obtém informações mínimas sobre eles e há muitos doadores, mas tem características diferentes para cada um deles”, disse Emily. "Queríamos um doador que se parecesse muito conosco", explicou. Kerry acrescentou que o mais importante para o casal era encontrar um doador saudável e com bons antecedentes.
"É importante conhecer sua biologia e [nossos filhos] terão dúvidas e ficaremos mais do que felizes em respondê-las. Uma das coisas que o doador disse em seu perfil foi que ele estava feliz em discutir sua biologia com eles", afirmou Kerry. Elas asseguraram que sempre serão abertas com os filhos sobre a reprodução assistida. "Sempre os apoiaremos em qualquer caminho que queiram seguir para descobrir de onde vieram", acrescentou Emily.
Kerry também revelou que nem tudo foi tão simples quanto elas imaginavam, pois Emily teve alguns problemas com pólipos endometriais, uma anormalidade da cavidade uterina que pode interferir na implantação do embrião. “Presumimos que estávamos saudáveis, [mas] Emily teve alguns problemas com pólipos, o que fez o processo demorar mais”, disse ela. Quando questionados se pretendem ter mais filhos, o casal disse que um é suficiente para cada um e sentem que a família já está completa.
Kerry encorajou outros casais que estão na mesma posição que elas a fazerem o procedimento. “Simplesmente não hesitem. O processo é longo, mas você pode pausá-lo em diferentes partes. Você não sabe o que vai surgir", disse.
A difícil decisão
Em uma entrevista ao portal Mail on Sunday do ano passado, Kerry detalhou como foi a escolha do doador de esperma. "O problema é que uma vez que você começa, você não consegue parar, há tantas opções. Escolhemos um homem mais ou menos da nossa idade que tinha dois filhos e fazia doações por motivos altruístas – havia pessoas na sua família que lutavam contra a infertilidade e ele queria ajudar outras pessoas", disse.
O casal pôde inspecionar sua caligrafia, assim como uma foto dele com cerca de oito anos e ouviu uma gravação de sua voz. “Sabemos o que ele faz da vida, seus hobbies, o que gosta e o que não gosta e a história de sua família desde a geração de seu avô. Enfim, sabemos o suficiente para podermos dizer aos nossos filhos quais características eles herdaram do pai”, afirmou Kerry.
'Espero que sejamos pioneiras e que um dia isso seja considerado normal'
“Queríamos uma família na qual ambas nos sentíssemos profundamente conectadas física e emocionalmente com os bebês uma da outra. Com um casal heterossexual, ambos os pais participam na criação do filho. Não podemos fazer isso. Mas podemos ser mães iguais para ambos os filhos. Eles terão o mesmo pai e nós seremos suas mães de maneiras diferentes, mas igualmente profundas e amorosas", disse Emily.
Por isso, essa decisão fez sentido para elas. "Antes nos perguntávamos se algum dia pensaríamos no fato de que o bebê que carregamos não é nosso filho biológico. Mas é uma experiência tão física e emocional sentir uma criança crescer dentro de você, que não há como não ser 'seu'", acrescentou.
“Reconhecemos que há alguns anos este tipo de fertilização in vitro recíproca não teria sido uma opção. Era muito mais difícil ser pais gays. Diz muito sobre o quanto evoluíram as opiniões de que não só podemos fazer isto, mas que tantas pessoas da comunidade LGBTQ+ estão agora a acompanhar o nosso progresso e a pensar em fazê-lo também. Não nos sentimos pioneiras, mas espero que, de certa forma, sejamos e que um dia isso seja considerado normal", finalizou Kerry.