Ashleigh Sillar tinha ciclos menstruais irregulares e cólicas quase incapacitantes desde os 15 anos. Aos 18 anos, ela passou por uma cirurgia laparoscópica para tentar investigar os motivos de suas dores e, durante o procedimento, os médicos descobriram que seu ovário direito estava “deformado” e não funcionava. Isso, porém, não explicava a sua dor.
Um dia, aos 21, ela subiu na cama e sentiu uma dor dilaceradora. Parecia que algo havia se rompido dentro dela. E tinha mesmo. “Eu não conseguia enxergar e mal conseguia falar. Eu só precisava ir para o hospital, imediatamente”, lembrou, em entrevista ao site Nine Honey. "Eu nem calcei os sapatos. Não peguei minha bolsa com minha carteira ou minha identidade. Só me apresentei no pronto-socorro parecendo uma maluca", recorda-se.
Ashleigh chegou ao hospital achando que ia desmaiar, de tanta dor. Na verdade, ela até desejava desmaiar, para tentar fugir da sensação terrível. Era tudo tão intenso, que os médicos precisaram dar a ela três doses de morfina para estabilizá-la minimamente. Depois disso, conseguiram examiná-la e descobriram a causa da dor: um grande cisto localizado em um dos seus ovários tinha se rompido.
O cisto rompido estava no ovário direito e não afetou o funcionamento do seu ovário esquerdo. Ela não precisaria de uma cirurgia de emergência. Porém, os especialistas disseram que sua fertilidade, que já era baixa porque só tinha um ovário em funcionamento, corria um sério risco.
A cirurgia para tratar os cistos ovarianos também pode afetar a capacidade de engravidar, de acordo com os especialistas. Por isso, quando saiu do hospital, Ashleigh ouviu dos médicos que seria importante se informar sobre métodos de preservação de fertilidade, antes que fosse tarde demais.
Seis meses depois, ela marcou uma consulta com um especialista para dicutir suas opções e os exames mostraram que sua fertilidade estava perigosamente baixa. “Minha idade reprodutiva era 11 anos mais velha, então aos 21 anos eu era equivalente a uma pessoa de 32 anos tentando engravidar”, explica. "A previsão dos médicos era de que quando eu tivesse 30 anos, seria completamente infértil”, conta.
A mulher, então, resolveu congelar os óvulos aos 21 anos. Como era jovem, obteve uma boa taxa de óvulos saudáveis preservados. Mas o medo de passar pela experiência traumática de um rompimento de outro cisto novamente a apavorava.
Ashleigh e seu companheiro perceberam que não poderiam esperar muito para tentar engravidar e decidiram começar a tentar. Foram 18 meses de tentativas, sem sucesso. Então, eles recorreram à fertilização in-vitro. Ela já esperava que não seria tão fácil, mas, como tinha congelado os óvulos cedo, teve esperança.
A primeira rodada de fertilização já foi um sucesso. "Foi incrível. Sinceramente, nunca me senti tão bem", diz ela sobre a gravidez, que teve um efeito surpreendente em seu corpo. Os hormônios da gravidez pareciam diminuir os sintomas dos cistos ovarianos, incluindo um grande que cresceu em seu ovário em funcionamento, que foi o que a impediu de engravidar naturalmente.
Isla, a bebê de Ashleigh, nasceu em maio de 2022. Depois disso, ela passou a tomar uma pílula de progesterona para imitar os hormônios da gravidez, o que aliviava os sintomas dos cistos, sobretudo, a dor.
Pouco mais de um ano depois, ela teve o maior choque de sua vida; apesar dos cistos ovarianos, dos problemas de fertilidade e de tomar pílula, ela descobriu que estava grávida novamente - de maneira natural. “A minha conclusão foi a sorte que tive por poder ter aquela primeira gravidez, porque isso realmente deu um impulso ao meu corpo”, avalia. “Ser capaz de ter nossa segunda filha, poder conceber naturalmente, completamente contra todas as probabilidades, é simplesmente alucinante para mim”, define.
Grace nasceu em janeiro de 2024 e Ashleigh, agora com 30 anos, a idade em que, provavelmente, seria infértil, não poderia estar mais apaixonada pelas filhas. Embora o cisto rompido aos 21 anos tenha sido assustador, ela o considera uma “bênção disfarçada” porque levantou sinais de alerta sobre sua fertilidade antes que fosse tarde demais. Se esse cisto nunca tivesse se rompido, ela pode nunca ter congelado seus óvulos ou ter tido suas filhas.
Agora ela faz o alerta, pedindo que outras mulheres australianas analisem a própria saúde reprodutiva e assumam o controle da sua fertilidade. “É muito importante consultar os médicos certos e não depender apenas de tomar a pílula até a hora de ter um filho”, aconselha. “Se você tiver alguma inconsistência em sua saúde, se tiver menstruações muito dolorosas ou endometriose, consulte um especialista em fertilidade, faça uma avaliação e estabeleça um plano”, recomenda.
O que é um cisto ovariano?
A maioria dos cistos ovarianos ocorre naturalmente e desaparece em alguns meses sem a necessidade de tratamento. Um cisto ovariano é um saco cheio de líquido que se desenvolve em um ovário ou em ambos. Geralmente, eles são muito comuns e não causam sintomas. Ele, em geral, só causa sintomas se ele se dividir (romper), for muito grande ou bloquear o suprimento de sangue para os ovários. Nesses casos, é possível ter dor pélvica, dor durante o sexo, dificuldade em esvaziar o intestino, necessidade frequente de urinar, menstruação intensa, menstruação irregular ou mais leve do que o normal, barriga inchada, sensação de saciedade após comer pouco ou dificuldade em engravidar.
Os dois principais tipos de cisto ovariano são: cistos ovarianos funcionais – que se desenvolvem como parte do ciclo menstrual e geralmente são inofensivos e de curta duração e mais comuns – ou cistos ovarianos patológicos, que se formam como resultado do crescimento celular anormal, sendo menos comuns.