Saúde
 

Por Rita Lisauskas


(Foto: Getty Images) — Foto: Crescer
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"Tem de comer mais, senão vai ficar com anemia!” Muitos pais já usaram essa frase pelo menos uma vez na vida para convencer o filho a comer. A anemia, contudo, é uma doença com inúmeras causas, algumas ligadas, sim, à má alimentação. Crianças que não comem bem podem ter anemia pela falta de uma série de nutrientes, como zinco, vitamina B12 e ferro, importantes para a fabricação de hemoglobina, proteína do sangue responsável pelo transporte do oxigênio dos pulmões para todo o corpo.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a anemia mais comum é a chamada ferropriva, causada pela deficiência de ferro. Segundo estimativas da entidade, o problema afeta 42% das crianças abaixo de 5 anos no mundo.

O Brasil, contudo, comemora números muito melhores do que a média mundial. O recém-publicado Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI-2019), conduzido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) a pedido do Ministério da Saúde, apontou que a prevalência de anemia em crianças brasileiras até 5 anos foi reduzida à metade nos últimos 13 anos: de 20,9%, em 2006, passou para 10%, em 2019. Dessas, 36% teriam a doença por falta de ferro, segundo dados ainda preliminares da análise.

A explicação para a melhora dos índices no Brasil, como você verá adiante, estaria na suplementação de ferro de forma preventiva.

Vale lembrar que a anemia não tratada pode interferir na cognição, inteligência e na capacidade de os pequenos adquirirem novas habilidades. Por isso, é fundamental saber como prevenir, reconhecer os principais sinais que indicam o problema e o tratamento. Confira.

O que é anemia e como ela se manifesta?

“Além da má alimentação e a consequente falta de ferro no organismo, a anemia ferropriva também pode ser causada por perda sanguínea, doenças infecciosas ou inflamatórias ou pelo uso de algumas medicações”, explica a hematologista pediátrica Sandra Logetto, coordenadora do departamento de hematologia do Sabará Hospital Infantil (SP). Segundo a médica, os sinais e sintomas só surgem quando a doença já está instalada. “A criança fica pálida, descorada, cansada, desanimada. Também pode ter alguns desejos alimentares estranhos, como vontade de comer terra ou tijolo”, completa. Com a imunidade já comprometida pela doença, os pequenos acabam sofrendo com várias infecções de repetição, o que interfere ainda mais no metabolismo do ferro.

Há também sintomas não tão óbvios: “Ah, meu filho não presta atenção na aula, é desatento, não se concentra” reclamam alguns pais. “Temos de ampliar o olhar e entender o que está acontecendo. Será que essa criança taxada de preguiçosa não está com uma fadiga excessiva e com dificuldades de aprendizagem por conta de uma anemia?”, questiona a pediatra e hematologista Wllana Nogueira, da Rede D’Or (SP). Segundo ela, a anemia ferropriva pode interferir na cognição, na inteligência e na capacidade de a criança adquirir novas habilidades. “Às vezes, dependendo da fase em que se inicia o tratamento, há perdas neurológicas que já são irreversíveis”, explica.

Quais as principais causas? Pode ser sintoma de alguma doença?

“Embora a maioria dos casos de anemia ferropriva ocorra por falta de oferta de ferro na alimentação, se ao tratar uma criança com suplementação e dieta ela não melhorar, é preciso pensar em outras possibilidades, como verminoses, alergia à proteína do leite de vaca ou alguma doença inflamatória intestinal”, diz a hematologista Sandra Logetto.

Doenças reumatológicas, como lúpus, infecções sanguíneas e doenças medulares, como a aplasia, têm na anemia um de seus sintomas. Para a hematologista Wllana Nogueira, é sempre importante investigar o que realmente está por trás do problema, se tem a ver com a alimentação ou é a manifestação de uma doença maior.

(Foto: Getty Images) — Foto: Crescer
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Alimentos aliados no combate à anemia ferropriva

- Todas as carnes: de boi, de frango, de peixe, assim como as vísceras (fígado, coração e moela).

- Feijão e soja: desde que fiquem de molho de 8 a 12 horas e a água seja trocada algumas vezes durante esse período. O objetivo do chamado ‘remolho’ é reduzir a presença de substâncias, como o ácido fítico, que podem dificultar a absorção de ferro e de outros nutrientes.

Como é feito o diagnóstico da anemia?

Segundo a pediatra e nutróloga Virginia Weffort, presidente do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, a orientação é para que todas as crianças façam hemograma e exame de ferritina (que aponta a quantidade de ferro armazenada no organismo) ao completar 1 ano e, assim, garantir que não tenham anemia. “Se comprovar a doença, como o tratamento é relativamente longo (veja mais adiante), não é preciso repetir os testes aos 2 anos, porque provavelmente a criança não terá mais anemia quando ele chegar ao fim”, explica.

É possível prevenir a anemia? Como?

O clampeamento tardio do cordão umbilical, ou seja, adiar o momento de se cortar essa ligação do recém-nascido com a mãe em até dois minutos depois do nascimento, vem sendo apontado na literatura como um procedimento que pode ajudar no aumento dos estoques de ferro do bebê. Segundo um estudo publicado no JAMA (Journal of the American Medical Association), essa medida promove uma transferência adicional de sangue da placenta para o bebê, reduzindo o risco de anemia. O Ministério da Saúde recomenda esse procedimento, assim como a amamentação do recém-nascido na sua primeira hora de vida, como estratégias efetivas de prevenção à anemia ferropriva.

Como é o tratamento para anemia?

Quando a anemia ferropriva é diagnosticada, o primeiro caminho terapêutico é a prescrição de ferro via oral. “É um tratamento longo, que dura de três a seis meses. Primeiro, é preciso tratar a anemia e, depois, repor o estoque de ferro para garantir que, em um momento de necessidade, ele esteja disponível para ser usado”, explica a hematologista e pediatra Wllana Nogueira. A reeducação alimentar também é necessária para evitar que a anemia volte.

Se a grávida estiver anêmica, o bebê também sofre com o problema?

Segundo a OMS, 40% das gestantes em todo o mundo são anêmicas. Por isso, é preciso atenção! Para evitar que a mulher passe a gravidez com anemia sem saber, o Ministério da Saúde preconiza que, logo no início do pré-natal, ela faça um exame de sangue, que tem de ser repetido na 28ª semana. “Mesmo que a gestante inicie a gravidez com deficiência de ferro, é possível tratá-la para que nem ela, nem o bebê tenham comprometimentos sérios”, diz a hematologista Sandra Logetto. Uma anemia não tratada durante a gestação aumenta o risco de parto prematuro, de mortalidade materna e perinatal (período que vai da 28ª semana do feto até uma semana de nascimento), além de prejudicar o desenvolvimento mental e cognitivo da criança. A recomendação do Ministério da Saúde é de que todas as grávidas recebam o nutriente. O plano nacional de suplementação de ferro do Ministério da Saúde oferece o suplemento gratuito para aquelas que realizam o pré-natal na rede pública, como forma de garantir uma gravidez saudável e uma amamentação de boa qualidade.

(Foto: Getty Images) — Foto: Crescer
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2 mitos sobre anemia

Beterraba é fonte de ferro
“Sempre ouço pacientes dizendo que tomam suco de beterraba para prevenir a anemia. Mas não adianta, porque o vegetal não é fonte de ferro”, explica a nutricionista Lenycia Neri, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

Anemia é doença de criança magra
“Mito total”, afirma a nutróloga Virginia Weffort, presidente do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. “A criança obesa pode ter mais deficiência de nutrientes do que a magra. A família, às vezes, acha que ela está bem nutrida, mas o que tem é gordura. Esses pequenos sofrem com o que chamamos de ‘fome oculta’, ou seja, deficiência de micronutrientes”, diz a médica.

Quais alimentos ajudam na prevenção e no tratamento da anemia?

“As carnes de boi, de frango, de peixe e os ‘miúdos’, como fígado, coração e moela de galinha são os alimentos mais recomendados no prato de uma criança que precisa combater a anemia”, explica Virgínia Weffort. O ferro presente nesses itens tem o que os médicos e nutricionistas chamam de “boa biodisponibilidade”, ou seja, são absorvidos pelo intestino em maior porcentagem do que o ferro do feijão e das verduras verde-escuras, por exemplo. Segundo a nutricionista Lenycia Neri, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, existem alguns truques para aumentar a absorção desse mineral: um deles é acrescentar uma fruta cítrica como sobremesa. “A vitamina C ajuda o corpo a aproveitar o ferro dos alimentos ingeridos na refeição” explica. Já o leite de vaca faz o oposto: o cálcio impede sua absorção, por isso, ele deve ficar longe das refeições principais.

Qual a quantia de ferro que a criança deve ingerir por dia?

A necessidade de ferro varia de acordo com a faixa etária da criança. Até os 6 meses, os bebês só mamam no peito e precisam de cerca de 10 mg do mineral por dia, algo, por exemplo, facilmente obtido pelo leite materno de uma mãe saudável. A partir dessa idade e até o primeiro aniversário, eles precisam de um pouco mais: 11mg. “É uma fase de maior crescimento, de desenvolvimento do cérebro”, explica a presidente do Departamento de Nutrologia da SBP, Virgínia Weffort. Uma alimentação equilibrada, baseada em proteínas, grãos e verduras dá conta de oferecer às crianças todo o ferro de que precisam, garante Lenycia Neri. Por isso, é fundamental as consultas de rotina ao pediatra. Segundo a nutricionista, “o ideal é que a proteína animal esteja no prato da criança no almoço e no jantar. E não é uma quantidade grande, o bife pode ter o tamanho da palma da mão delas. E o feijão tem de estar presente pelo menos em uma refeição do dia”. Se a criança é vegetariana, o ideal é dobrar a quantidade de feijões, soja, grão-de-bico ou lentilhas e sempre os associar a uma fruta cítrica de sobremesa, para absorver melhor esse ferro”, explica.

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O que dizer dos alimentos industrializados que são enriquecidos com ferro?

É comum encontrar nos supermercados itens dedicados aos pequenos, que mostram na embalagem que são enriquecidos com ferro. Segundo a nutróloga Virginia Weffort, nem sempre o ferro utilizado para turbinar o alimento processado é aquele melhor absorvido pelo organismo. “É preciso reforçar que os pais devem recorrer aos alimentos in natura para prevenir a anemia”, diz. A nutricionista do Instituto da Criança concorda. “O alimento ideal para todas as crianças, com anemia ou não, é a comida de verdade”, garante Lenycia Neri.

Um Brasil menos anêmico

Os bons números podem ter respaldo na política nacional de suplementação de ferro, lançada em 2005, como explica Gilberto Kacs, professor titular do Instituto de Nutrição Josué de Castro da UFRJ e coordenador-geral do ENANI-2019. “É um programa universal, aplicado em todas as crianças, então parte desses bons resultados é responsabilidade dele”, afirma. Essa política de suplementação determinou, entre outras coisas, a fortificação das farinhas de trigo e milho com ferro e ácido fólico, além da prescrição de ferro para todas as crianças, mesmo as saudáveis, que não nasceram prematuras e cujas mães não estão anêmicas. “Essas gotas de ferro são dadas via oral aos pequenos, a partir dos 3 meses, até que completem 2 anos”, explica Virgínia Weffort, presidente do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria . “Nessa faixa etária, elas comem pouco e depois de uma certa época, os pais enfrentam outro problema: a seletividade alimentar. Até os 2 anos, suplementamos sempre. Depois dessa idade, cada caso é um caso”, completa.

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