"Alegria indescritível", diz mãe de menino de 3 anos que recebeu um novo coração, em SP

Davi tem 3 anos e passou mais da metade da sua vida dentro de um hospital. Mas a luta do pequeno, que foi diagnosticado com cardiopatia congênita ainda na barriga da mãe, chegou ao fim em fevereiro deste ano quando, finalmente, recebeu um novo coração. Em depoimento à CRESCER, a mãe Tatiana Cristina dos Santos Costa D'Artibale, contou em detalhes como foi essa espera


Após um ano e meio de internação, Davizinho (@davicoracaoguerreiro), 3 anos, como é carinhosamente chamado pela família, teve alta no dia 8 de maio, e o mais importante — com um novo coração batendo dentro do peito. "Foi uma alegria indescritível. Ele internou muito novinho, saiu do hospital com três anos, então, tudo era novidade para ele. Quando chegou em casa, ele nem sabia o que fazer. Ele pulava com os irmãos e dava risada. Foi lindo e emocionante. Voltar a estar com a família completa em casa não tem preço", disse a mãe, Tatiana Cristina dos Santos Costa D'Artibale, que está atualmente em Atibaia, interior de São Paulo.

O pequeno foi diagnosticado com uma cardiopatia congênita ainda na barriga da mãe. Com apenas três dias de vida, ele já passou pela primeira cirurgia. Mas só mesmo o transplante, realizado em fevereiro deste ano, deve dar a ele uma melhor qualidade de vida. Em entrevista à CRESCER, Tatiana contou a luta e a trajetória desse pequeno guerreiro que morou mais da metade da sua vida dentro de um hospital.

Davi recebeu um novo coração após transplante — Foto: Arquivo pessoal

"A gestação do Davi foi muito planejada. Sempre pedíamos a Deus o privilégio de ter uma família grande. Já tínhamos três filhos — Sarah, Benaiah e Esther —, e na época da pandemia, em 2020, eu engravidei do Davizinho. Foi uma gestação tranquila. Com 12 semanas, eu fiz o ultrassom morfológico o mostrou uma alteração na translucência nucal. Poderia ser um indicativo de alguma síndrome ou de cardiopatia congênita.

Optamos, então, por fazer o NIPT [teste genético] para nos prepararmos caso Davi tivesse alguma síndrome. O exame deu negativo para síndrome de Down. E, quanto à cardiopatia congênita, nunca tínhamos ouvido falar nisso e acabamos 'desconsiderando' essa possibilidade. Voltamos para o interior e levei uma gestação tranquila, crendo que estava tudo bem.

O diagnóstico

Na época, morávamos no interior de Roraima. Com quase 33 semanas, voltamos para a cidade de Boa Vista. Então, fui fazer um ultrassom de rotina. Nesse exame, foi identificada a cardiopatia congênita. Davi foi diagnosticado com uma cardiopatia congênita chamada síndrome de Hipoplasia do Coração (Ventrículo) Esquerdo (SHCE).

Foi muito difícil receber a notícia. Estávamos no consultório com as três crianças e já íamos conversar com a médica sobre o parto do Davi. Quando a doutora viu a má formação no coração dele, sentou conosco e disse que o Davizinho não poderia, de forma alguma, nascer em Boa Vista. Nós ouvimos tudo o que ela nos explicou e voltamos para casa. Ao chegarmos, colocamos as crianças para dormir e, chorando, pedimos à Deus por direção. Estávamos muito confiantes de que Deus tinha propósitos em tudo isso e que Ele amava muito Davi e a nossa família. Sabíamos que nosso filho seria uma bênção, mesmo com essa situação de saúde.

Inicialmente, fomos para Brasília, pois os meus pais moram lá. Em Brasília, o diagnóstico do Davi foi confirmado e fomos aconselhados a ir para São Paulo, pois, no caso do Davi, a estrutura operatória e pós-operatória seria melhor. Deus foi abrindo os caminhos até que no dia 28 de fevereiro de 2021, nosso filho nasceu, em São Paulo. Apesar da cardiopatia congênita, Davi nasceu bem e de parto normal.

Dias de luta

Com apenas três dias de vida, Davi fez a sua primeira cirurgia. Foram 40 dias se recuperando na UTI e, depois, na enfermaria. Com 4 meses e uma semana, ele fez a sua segunda cirurgia. Após 5 meses de vida, ele recebeu a sua primeira alta hospitalar. Foi quando retornamos para o Norte e fomos morar no interior do Pará. Somos missionários evangélicos e fomos servir a Deus em uma escola de teologia. Tivemos um ano muito abençoado e, de certa maneira, tranquilo com o Davizinho. Sem nenhum intercorrência ou internação.

Até que, em novembro de 2022, Davi foi dando sinais de que não estava bem. Ele começou a não querer comer, ficava mais cansado e não dormia bem. Após alguns exames e conversas, verificou-se que ele estava muito descompensado na questão cardiológica. Decidimos levá-lo para São Paulo em novembro de 2022. No dia seguinte à nossa chegada, ele já estava na UTI, usando drogas vasoativas para fazer o seu coraçãozinho funcionar melhor.

Foram meses de internação — Foto: Arquivo pessoal

A espera

Depois disso, Davi ficou 1 ano, cinco meses e três semanas internado. Inicialmente, ele ficou em um hospital, mas depois foi transferido para outro, pois a cardiopediatra entendia que o caso era de transplante cardíaco. Ele entrou na fila do estado de São Paulo no dia 23 de feverero de 2023. A espera é sempre difícil, mas foi um grande momento para aprendermos mais de Deus e a entendermos, pela fé, que Ele tem o momento perfeito de agir. Tivemos uma rotina puxada de hospital e com nossos outros filhos em casa. Meu marido, Alfredo, e eu revezávamos — era uma semana para cada no hospital. Tivemos a ajuda de cinco senhoras, que muito nos abençoaram ficando com o Davi aos sábados.

Já para o Davi, foi difícil estar longe da família. Por ele ser pequeno, não conseguia expressar isso em palavras, mas nos últimos meses, percebíamos que ele sentia falta dos irmãos. Ele sempre chorava quando os irmãos iam embora após as visitas. Conversávamos muito com as crianças sobre a nova rotina e a situação familiar. Explicávamos que tínhamos que ter fé, esperança e sermos corajosos para enfrentar essa situação, e aprendemos a viver um dia de cada vez, tendo fé que, um dia, essa situação iria mudar e estaríamos todos juntos em casa novamente.

A espera chegou ao fim em fevereiro deste ano — Foto: Arquivo pessoal

Novo coração

A notícia da chegada do novo coração de Davi foi bem especial. No dia 16 de fevereiro deste ano, era dia de consulta do nosso outro filho, e aproveitamos para levar as crianças para ver Davi. Foi quando, de repente, as técnicas de enfermagem bateram no quarto e, com lágrimas nos olhos, nos avisaram que existia um possível doador. Estávamos na fila de espera há quase um ano. Eu nem acreditei! Começamos a chorar de alegria. Então, sentamos com as crianças e com o Davi, explicamos tudo para elas e oramos. Depositamos nossa confiança em Deus e entregamos tudo aos cuidados dele.

O medo do coração não chegar sempre existiu, mas, diariamente, a gente entregava esse medo a Deus e confiávamos que o melhor seria feito na vida do Davi. A gente aprendeu a aproveitar cada dia que estávamos todos vivos. Isso é um grande milagre! Não podemos viver na ansiedade e com medo do que poderá ou não acontecer no futuro. Isso pertence a Deus. A família do doador entrou em contato conosco — sofremos e choramos com eles. É uma família muito amada, pais maravilhosos e tementes a Deus. Mesmo sofrendo, tiveram um ato indescritível de compaixão, altruísmo e amor. Seremos eternamente gratos a eles.

O transplante

O novo coração do Davi chegou no dia 17 de fevereiro de 2024. A cirurgia é bem complexa, ainda mais porque o coração do Davi já tinha passado por duas cirurgias muito invasivas e complexas. Apesar disso, foi um sucesso. Foi um grande milagre de Deus. Após o transplante, o Davi ficou cerca de dez dias na recuperação cardíaca intensiva e, depois, retornou para a enfermaria.

O transplante foi um sucesso — Foto: Arquivo pessoal

Da cirurgia, hoje, Davi está muito bem recuperado. Mas por causa da medicação imunossupressora, que ele vai tomar para o resto da vida, a imunidade dele fica bem baixa. Isso faz com que ele seja mais suscetível à infecções. Mas estamos tomando todos os cuidados necessários e fazendo a nossa parte, como família. Ele está muito disposto para brincar, pular, subir escadas e escorregadores. É incrível, como esse coração — tão abençoado — fez tão bem para ele.

Davi carrega a cicatriz do novo coração — Foto: Arquivo pessoal

Antes do transplante, ele tinha uma saturação entre 75-80. Hoje, está saturando entre 96-98. Ele ainda toma várias medicações, mas por conta da adaptação da pressão arterial e do pós-transplante. A alimentação ainda está em processo de melhora. Ele ficou muito tempo sem se alimentar via oral, então, agora, estamos trabalhando com a nutricionista uma alimentação mais adequada.

Davi teve alta no dia 8 de maio, após um ano e meio de internação. Foi uma alegria indescritível. Para ele, era tudo novo. Ele internou muito novinho, saiu do hospital com três anos, então, tudo era novidade para ele. Quando chegou em casa, ele nem sabia o que fazer. Ele pulava com os irmãos e dava risada. Foi lindo e emocionante. Voltar a estar com a família completa em casa não tem preço. A mesa cheia com cinco crianças é uma benção, uma gratidão imensurável a Deus."

Davi com os pais — Foto: Arquivo pessoal
Davi com os pais e os irmãos — Foto: Arquivo pessoal
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