Afinal, como acontece o processo de descoberta da transgeneridade das crianças? Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (AMTIGOS), do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, responde em três questões:
CRESCER: Como diferenciar a simples preferência por certos brinquedos de uma possível transgeneridade na infância?
Alexandre Saadeh: Na transexualidade, o fenômeno começa cedo na infância e se manifesta independente do momento em si. Ele está o tempo todo presente; diz respeito a quem é a criança, não guarda relação apenas com brincadeiras, mas sim revela quem a criança é; não apenas com o que brinca. Mães são perspicazes em perceber essa diferença e muitas vezes acusadas indevidamente de “incentivar e favorecer” um comportamento anômalo. Elas só respeitam o que lhes é legítimo na solicitação da criança e tentam a todo custo evitar que ela sofra.
CRESCER: Existe uma idade comum para que a criança dê sinais?
A.S.: O frequente é que se inicie por volta dos 2 a 4 anos (pode ser mais cedo ou mais tarde), quando o sistema neurológico está mais maduro e há a presença da consciência e, portanto, da identidade na criança. Nesse período, os pais podem perceber, por exemplo, meninos usando panos na cabeça para simular cabelos longos, e meninas recusando-se a usar vestidos. É fundamental ressaltar, no entanto, que comportamentos “cross-gender” são importantes, mas não fazem o diagnóstico. O importante é a persistência. Se um menino brinca de boneca uma vez, por exemplo, isso não significa nada, mas se ele insistentemente demonstra afeição por características tidas como femininas, a percepção é outra.
CRESCER: O que os pais devem fazer, caso notem esses comportamentos?
A.S.: Reconhecer que isso existe é o primeiro passo. Perceber se o comportamento e a maneira de se revelar é compatível ou não com o padrão do sexo em que nasceu. Se é algo que é estável e está presente o tempo todo da vida da criança, vale a pena buscar um especialista.
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