Saúde
 

Por Sabrina Ongaratto


Foram semanas de muita incerteza até a policial militar Sheila Beatriz dos Santos Machado, 35, de Santa Maria, Rio Grande do Sul, descobrir o que causava tanto sofrimento para a filha, Antonella, na época com 5 anos. A menina, que chorava de dor no corpo, foi diagnosticada com leucemia linfoide aguda (LLA). Nesse momento, uma nova batalha teve início e o tratamento não foi fácil. "Foram dias de bastante luta", lembra. "Eu chorava escondida no quarto. Doeu mais em mim do que nela", disse a mãe, sobre ver a filha perdendo peso e passando pela queda de cabelo.

Em depoimento exclusivo à CRESCER, Sheila relembrou em detalhes os sintomas, a busca pelo diagnóstico, o tratamento e finalmente a tão esperada cura. Agora, aos 7 anos, Antonella está oficialmente livre da doença. "Eu sempre repeti que ela não era uma criança doente; ela estava 'em tratamento'", afirma a mãe.

Antonella foi diagnosticada com leucemia aos 5 anos e, agora, aos 7, está oficialmente livre da doença — Foto: Arquivo pessoal
Antonella foi diagnosticada com leucemia aos 5 anos e, agora, aos 7, está oficialmente livre da doença — Foto: Arquivo pessoal

"Antonella ia regularmente ao pediatra. Ela sempre foi magrinha, mas o médico falava que era o biotipo dela, pois sempre esteve com altura e peso constantes e nunca teve alteração nos exames. Em setembro de 2020, eu a levei no pediatra. Estava tudo certo. Neste mesmo mês, ela caiu enquanto pulava da cama e precisei levá-la no traumatologista, mas estava tudo bem, segundo os exames. Em novembro, eu passei por uma cirurgia e, durante a recuperação, peguei covid. Fiquei internada por mais de uma semana, tive embolia pulmonar, infecções e 15% do pulmão comprometido. Foi uma fase bem complicada, com muitas mortes, mas eu estava melhorando — na verdade, eu tinha que melhorar, fazia um esforço absurdo para viver. Mal sabia o que eu iria enfrentar como mãe no mês seguinte.

Consegui melhorar e recebi alta. Nesse mesmo dia, Antonella perdeu seu primeiro dente, foi uma alegria. Uma semana depois, ela foi no quarto pegar a mamadeira para eu lavar e gritou muito de dor. Corremos e a encontramos deitada no chão, dizendo que não conseguia caminhar, e chorando muito de dor. Fomos direto para hospital. Chegamos lá, ela realizou um raio-X, tomou medicação para dor e, do nada, voltou a caminhar. Na época, a médica disse que foi dor da queda, estava tudo certo, ela estava bem e fomos para casa. Só que ela continuou reclamando muito de dor nas costas e na região do quadril. Eu sou terapeuta holística, então fazia cromoterapia, aromaterapia e reiki para amenizar a dor.

Um dia, senti algo na minha mão, ainda com os olhos fechados. Eu vi uma nuvem (fumaça) enquanto fazia reiki na Antonella na região das costas. Os dias foram passando, a dor não passava, procuramos especialistas particulares — neurologista, gastroenterologista, clínico geral, fisioterapeuta —, mas não conseguíamos achar o motivo da dor. Em dezembro, tínhamos uma viagem de férias já programada e o plano de saúde já não agendava mais consultas. Então, fomos viajar. Até porque, eu ouvi do neurologista: 'Mamãe, não acha coisa que não tem, aproveitem as férias'. Chegamos lá, mas ela piorava a cada dia. Antonella sentia dor, mas não falava, estava cada dia mais irritada. Fomos para a praia e, aos poucos, ela foi parando de caminhar — pedia colo e chorava à noite.

No terceiro dia, decidimos voltar para casa. No caminho, apareceu um clarão entre as nuvens na direção em que estávamos, e eu falei para o meu ex-marido que algo estava para acontecer e teríamos que ter muita fé — nos emocionamos. Na véspera de Natal, percebi que ela estava muito quietinha e não brincava de correr. Passamos uma ceia feliz, com a família, mas cada vez que eu pensava, dizia para mim mesma: 'Vou achar o que ela tem'. Eu não conseguia acreditar que era normal uma criança sentir tanta dor.

No dia seguinte, fomos na casa de um amigo e foi estressante porque ela estava bem, correndo, e, do nada, chorava de dor. Até achei que ela pudesse estar reproduzindo a época em que eu fiquei doente e a levei até na psicóloga. No dia seguinte, dia 26 de dezembro, meu ex-marido voltou a trabalhar e, assim que ele saiu pela porta, eu desabei — chorei de dor, desespero, angústia, caí de joelhos no chão, olhei pra cima e disse: 'Dizem que o Senhor escuta as mães! Me escuta! Eu estou desesperada! Minha filha tem algo e ninguém encontra. Me manda um sinal se o Senhor existe mesmo!', e fui para o computador pesquisar o que poderia ser. Achei um prognóstico de reumatismo — tudo indicava isso. Vi que tinha um especialista em Porto Alegre e não pensei duas vezes: 'Vou levar ela hoje'.

Sintomas de Antonella começaram aos 5 anos — Foto: Arquivo pessoal
Sintomas de Antonella começaram aos 5 anos — Foto: Arquivo pessoal

O anúncio do médico Pedro Orso apareceu pra mim, liguei e a secretária disse: 'Se você chegar em 20 minutos, eu seguro o doutor aqui'. Era sábado, mas o abençoado do médico estava atendendo. Não dei remédio para a dor porque queria que o médico visse o que ela estava sentindo. Chegamos, ele a examinou e disse: 'Esse choro, essa dor não é normal, não é dor de crescimento. Pode ser até covid, pois não sabemos nada sobre esse vírus ainda'. Meu ex-marido e eu dissemos ao médico que queríamos sair de lá com pedidos para todos os exames possíveis porque queríamos saber o que a nossa filha tinha.

Em seguida, levamos Antonella para realizar uma tomografia. Chegamos em casa e, poucas horas depois, o médico ligou, dizendo: 'Suspenda a dipirona, dê paracetamol, pois na tomografia apareceu uma mancha nas costas dela. É uma microfratura na coluna'. Eu perguntei: 'A mancha é da microfratura ou a microfratura causou a mancha?'. Ele disse: 'Microfratura possivelmente causada pela mancha'. Ali, meu mundo caiu. Eu não sabia o que era, mas eu sentia que era algo muito sério. Lembrei do dia que fiz reiki nela e vi a fumaça (mancha) e pensei: 'Deus, o Senhor mostrou pra mim, só peço que tenha dado tempo para que tudo se resolva, eu imploro'.

Então, o médico pediu um hemograma com urgência e fomos no mesmo instante. Na segunda-feira, bem cedo, o médico ligou e o pai da Antonella atendeu. Ele disse que, pelos exames, poderia ser leucemia e pediu que procurássemos imediatamente um hematologista. Eu só pensava em Deus e repetia: 'O amor cura! O amor vence!' — repetia inúmeras vezes. Mas era final de ano e as clínicas estavam todas fechadas. Minha vizinha, que sempre adorou Antonella, disse que conhecia uma médica responsável pelo setor em um hospital e iria entrar em contato. Num passe de mágica, na mesma tarde, tudo já estava sendo resolvido. O hospital nos ligou e pediu para chegarmos em uma hora.

Fomos sem entender nada. Ficamos uma tarde e uma noite inteira sem saber o que iria acontecer. No dia seguinte, o médico especialista se apresentou e disse que precisava realizar alguns exames — um deles era extrair licor da medula. Foi terrível ouvir os gritos e choros da minha filha. Eu não aguentei, chorei, fiquei tonta e sai da sala. Graças à Deus, o pai dela foi forte. Eu desabei no corredor e só pedia para que Deus curasse minha filha. Fiquei minutos cruéis chorando compulsivamente e depois enxuguei minhas lágrimas e então decidi que não iria mais chorar — não era uma sentença e, sim, um diagnóstico.

Dia 31 de dezembro, saiu o resultado do exame: leucemia linfoide aguda. Passamos a virada do ano catatônicos, tentando ao máximo não demonstrar o turbilhão de sentimentos que estava nos atormentando. Eu só pensava: 'Ela está curada', nunca pensei o contrário. Sempre mirei no último dia do tratamento. E ali, toda minha busca espiritual e holística tomou sentido. Usei tudo que eu tinha conhecimento e busquei alternativas e meios para tornar a vida da Antonella mais leve. A luta dela iria começar e eu tinha que ser firme e forte para dar amor e carinho a ela neste momento tão assustador. E nossa luta como pais iniciou também. Alguns exames, o plano não cobria, então tivemos muitos gastos. Nossa vida mudou completamente, mas com a ajuda de muitos amigos conseguimos pagar os exames que ela fez e que iria fazer. Com isso, conseguimos ajudar uma ONG e uma amiguinha que estava em tratamento também.

Antonella começou com tratamento de baixo risco e, na segunda quinzena, foi para alto risco. Mas, por um milagre, o prognóstico melhorou. Em 2021, vivemos mais dentro do hospital, apenas 'visitávamos' nossa casa. Fizemos de tudo para que Antonella ficasse distraída e o quarto do hospital tivesse o máximo de conforto — não medimos esforços para isso. Nesse processo, tive a ideia de fazer um perfil no Instagram (@antonellamptonton) para a família acompanhar o tratamento. No hospital, também conheci a mãe de uma paciente que me deu tanta esperança e mostrou tanta calma e fé, que me fez querer ser uma mãe igual a ela. Então, através das redes sociais, também comecei a falar sobre a doença para alertar e informar outras famílias. Nenhuma criança sente dor continua sem motivo. Também costumo dizer para que os pais nunca se conformem com uma única opinião médica. E o mais importante: o amor cura, o amor vence! É preciso ter fé em Deus porque Ele sabe sobre nós; Ele nos sustenta; Ele dá o milagre!

Antonella também pediu para ser 'blogueira'. Depois disso, descobri que sou uma ótima produtora — é assim que ela me chama nos vídeos — e, então, o perfil no Instagram bombou e acabou sendo uma distração para mim e para ela. Eu curava minhas feridas quando eu e outras mães, de mãos dadas diariamente, trocávamos informações e conselhos. Dávamos força e fé umas para as outras, e criamos uma conexão. Já Antonella se animava com os vídeos de dança, com as fotos, e eu enaltecia a beleza dela para que não sentisse a perda de peso e a queda de cabelos. Roupas cor de rosa são as preferidas dela. Então, a cada alta, fazíamos uma sessão de fotos. E assim fui tentando amenizar a mudança física. Ela sempre foi vaidosa e isso me preocupava. Eu sofri muito com a queda do cabelo. Depois com o corte. Eu chorava escondida no quarto. Doeu mais em mim do que nela. Eu fui raspar meu cabelo e ela interviu: 'Mamãe, você não fica bonita careca, eu fico, você não'. Então, apenas cortei curtinho e o papai da Antonella raspou — e ela achava tudo muito engraçado.

Antonella durante o tratamento — Foto: Arquivo pessoal
Antonella durante o tratamento — Foto: Arquivo pessoal

Foram dias de bastante luta. Os 'piques' que dói na gente. A exaustão dos pais. E, mesmo assim, Antonella sempre faceira e sorridente. Eu sempre repeti que ela não era uma criança doente; ela estava 'em tratamento' e logo iria parar de tomar piques. Foram dias tensos e intensos, mas cheios de amor, carinho e fé. Nunca, em hipótese nenhum, eu pensei que ela não iria se curar. Fazia diariamente afirmações para ela ao dormir, pedia para ela repetir: 'Sou saudável, alegre e estou curada'. Sou mestre reiki e isso ajudou muito no tratamento. Ela também não teve episódios de vômitos, principalmente na primeira fase do tratamento, que é bem agressivo.

Hoje comemoramos a cura dela. Estamos, eu e ela, nos adaptando à nova vida, com cuidados, óbvio. Agora, ela tem feito acompanhamento a cada dois meses. E para quem está passando por isso, eu tenho um conselho: busque ajuda de um profissional, um psicólogo. Eu desenvolvi ansiedade e depressão porque pensei que poderia aguentar sozinha, mas somos seres humanos, cheios de sentimentos e precisamos ser cuidados também. Busque sempre Deus, Ele é o único responsável pela cura. Você pode ficar com raiva dele, mas saiba que somente Ele pode dar o milagre. Busque rede de apoio — eu me tornei voluntária depois que uma mãe me acolheu no primeiro dia e isso foi muito importante para mim. Cuide-se também! Não é egoísmo e você precisará de um corpo e mente saudáveis para suportar o processo.

Sheila e a filha — Foto: Arquivo pessoal
Sheila e a filha — Foto: Arquivo pessoal

Por fim, não se culpe, não se cobre; lembre-se que você está passando por um momento triste, assustador e está com medo; você está fazendo o que pode e com todo empenho. Acolha a doença e diga que ela não tem morada, está apenas de passagem. Ore muito. Terão dias difíceis, mas não perca a fé, que nesta hora será testada. É um processo e logo passa. Saia para passear, ouça cada palavra do médico e questione (não de bola para caras e bocas, e insista nos questionamentos — você merece saber tudo). E o mais importante: ouça sua intuição! Ela vai estar aflorada, é Deus falando contigo, mãe! Ele nos dá esse dom. Busque saber sobre o que te incomoda. Acredite na equipe médica, assim eles farão de tudo pelo seu filho. E lembre-se do mantra 'Amor cura, amor vence!', vocês já venceram!"

Antonella tocou o "sininho da cura" — Foto: Arquivo pessoal
Antonella tocou o "sininho da cura" — Foto: Arquivo pessoal

Leucemia linfoide aguda (LLA)

A leucemia linfoide aguda (LLA) é uma doença que acontece na medula óssea e ataca a produção de glóbulos brancos (leucócitos). Ela aparece quando essas células começam a se multiplicar muito rápido e de forma desordenada. "Numa fase inicial, os sintomas são inespecíficos e comuns, como febre e falta de apetite, que podem ocorrem em várias doenças. Então, é normal que a família e o pediatra não pensem logo de cara em leucemia. Por isso, qualquer sintoma, por menor que seja, precisa ser um sinal de alerta para acompanhar e, se for o caso, fazer outros exames", explica Cecília Costa, oncologista pediátrica do A.C. Camargo Cancer Center (SP).

O diagnóstico precoce é fundamental para aliviar o tratamento, que é longo, durando cerca de dois anos, e agressivo. Segundo a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (ABRALE), as chances de cura são de 80% a 90%. "A LLA é o tipo de câncer mais comum na infância, mas ainda assim é uma doença considerada rara: não são esperados mais do que 9 mil casos por ano. A boa notícia é que, em idade pediátrica, a doença tem uma evolução muito melhor do que em adultos", diz o oncopediatra Vicente Odone, diretor do ITACI — Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (SP).

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