A dor de ouvido é uma queixa muito comum na infância. Mas uma pesquisa recente realizada pela Universidade da Flórida, dos Estados Unidos, sugere que infecções de ouvido crônicas podem causar atraso no desenvolvimento da linguagem em crianças. As infecções de ouvido (otite média) têm o potencial de prejudicar a audição devido ao acúmulo de líquido atrás do tímpano, explica o estudo, publicado na Revista Internacional de Otorrinolaringologia Pediátrica, em novembro de 2023.
![Infecções de ouvido em crianças pequenas podem causar atraso na fala — Foto: Crescer](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/l6nJQtjCufSgWBK8Uz6U27uxkJk=/0x0:512x320/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2022/2/j/8frs1LQiei1ThYlFcY5Q/2013-06-17-ouvido.jpeg)
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores investigaram o processamento auditivo e o desenvolvimento da linguagem de 117 crianças entre 5 e 10 anos de idade, incluindo aquelas com e sem histórico de infecções crônicas de ouvido. Foi descoberto que as que tiveram várias infecções de ouvido antes de completar 3 anos tinham um vocabulário menor e tinham dificuldade em combinar palavras com sons semelhantes. Essas crianças também tiveram dificuldade em detectar alterações no som, o que poderia significar um problema no centro de processamento auditivo do cérebro.
“Para a maioria das crianças, o desenvolvimento da linguagem parece desenrolar-se tão facilmente que é fácil perdermos de vista o feito notável que é esta descoberta. E as infecções de ouvido são tão comuns entre bebês e crianças pequenas que é fácil considerá-las completamente benignas”, disse Susan Nittrouer, coautora do estudo e professora da Universidade da Flórida, em entrevista ao portal Fox News Digital.
Segundo ela, o estudo revelou “duas descobertas um tanto novas”. O primeiro achado é a associação de infecções de ouvido com menor capacidade de reconhecimento de padrões nos sinais acústicos presentes na fala. “As vias auditivas centrais se desenvolvem após o nascimento. Se não houver entrada auditiva suficiente disponível para a criança – o que acontece em períodos temporários de perda auditiva devido a infecções de ouvido �� o desenvolvimento das vias auditivas é atrasado e essas habilidades auditivas não se desenvolvem adequadamente”, afirmou.
O segundo achado refere-se ao fato de que este fraco reconhecimento de padrões acústicos prejudica a capacidade das crianças de identificar sons específicos da fala, incluindo elementos como sílabas. “Esta é uma descoberta crítica. Durante os primeiros períodos de aquisição da linguagem, as crianças não têm ou precisam de sensibilidade aguçada à estrutura fonológica – sons individuais da fala. Mas à medida que envelhecem, a linguagem que encontram, especialmente na escola, torna-se mais complexa e mais dependente desse nível de estrutura da linguagem e da capacidade da criança de reconhecer com precisão e rapidez os sons individuais da fala nas palavras”, destacou.
Isso significa que as crianças que apresentam atrasos e desafios no desenvolvimento da linguagem “experimentarão desafios mais fortes” à medida que envelhecem. “Ao contrário da ideia de que a criança irá ‘superar’ os efeitos das infecções [de ouvido] precoces, estes efeitos podem, na verdade, se intensificar”, disse Nittrouer.
O que os pais podem fazer?
A pesquisadora encorajou os pais e cuidadores a monitorarem as crianças quanto a “dificuldades de aprendizagem de línguas, acadêmicas e de atenção”, incluindo problemas na leitura, à medida que envelhecem. “Isso também significa que devemos levar a sério todas as infecções de ouvido”, acrescentou a coautora do estudo.
Vale destacar que outros históricos de saúde também podem atrasar a fala de uma criança, segundo Nittrouer. "Os problemas decorrentes de tais condições só podem surgir à medida que aumentam as demandas linguísticas da escola”, completou.
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Tem como prevenir as otites?
Prevenir infecções no ouvido é sempre importante e existem algumas medidas que podem ajudar. "Vale manter a vacinação em dia, para evitar as doenças típicas dos meses frios, e adotar os protetores auriculares, quando a criança for ao mar ou à piscina. Deixar de lado as famosas hastes flexíveis também é válido. Além disso, a amamentação exclusiva até o seis meses de vida ajuda a diminuir o risco de infecções, sobretudo nos bebês", orienta o pediatra Thiago Gara, gestor da Pediatria do Hospital São Luiz (SP).
É preciso ter mais informações
Para a otorrinolaringologista pediátrica do Cedars Sinai Guerin, que não esteve envolvida no estudo, ainda não é necessário que os pais se desesperem todas as vezes que os filhos tiverem dor de ouvido, pois sentiu que, em sua opinião, a pesquisa é “insuficiente”. "Quando um estudo tem tão poucos sujeitos em seu experimento, muitas vezes as conclusões podem ser facilmente distorcidas por variáveis confusas", disse à Fox News Digital.
Ela também destacou que a população escolhida de pacientes estudados era “preocupante”, já que o estudo analisou crianças que, supostamente, não tinham muitas infecções de ouvido conforme definido pelos pais. “[Isso] pode gerar muita preocupação em relação ao tipo de otite média que a criança teve, pois existem dois tipos – otite média aguda e otite média crônica com efusão – que podem ter efeitos muito diferentes no desenvolvimento da linguagem dos pacientes”, afirmou.
A médica também achou que faltaram detalhes sobre as crianças que tinham infecções frequentes no ouvido. "Os autores não mencionaram se o paciente tinha tubos de ventilação auditivos [aparelhos que ajudam a combater problemas relacionados com otites de repetição] durante o experimento, quantos conjuntos eles tinham ou quais eram as indicações para seus tubos", destacou. Por isso, ela opinou que é preciso coletar mais informações antes de alarmar os pais.
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