- Ahhh, mas vou cortas as suas asinhas rapidinho!
Levante a mão quem já ouviu isso! Estou aqui levantando as duas mãos, e penso que a maioria de nós, pais e mães, já escutou frases assim durante as nossas infâncias. Mas qual será o impacto dessas palavras? Você já chegou a refletir sobre isso?
Eu comecei a pensar a respeito quando me dei conta que era justamente esse um dos meus maiores medos enquanto pai: cortar as asas dos meus filhos.
![Brigar com os filhos ou não dar a devida atenção faz com que eles percam a vontade de falar com os próprios pais — Foto: Freepik](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/LIeHcEnu6PlvXbx0yQYjPSORzaU=/0x0:1500x1000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2024/l/E/Mal0Z5TGGnbvCHJLjDtQ/2150248224.jpg)
Claro, eu provavelmente nunca falaria essas palavras para eles, mas sabemos muito bem que a maioria das mensagens que passamos para os nossos filhos são, vejam só, não verbais. É por meio dos gestos, das nossas respostas, que podemos estar cortando as asas dos nossos filhos. Isso acontece um pouquinho a cada vez que dizemos:
- Eu não quero saber o que você quer falar, blá blá blá.
- Não me interessa o que você viu, blá blá blá.
Todas essas são variações da primeira sentença lá em cima, e todas elas levam consigo a mesma mensagem: a de que os nossos filhos, assim como suas opiniões, emoções, sentimentos, pensamento e desejos não importam. E o que importa, então? O que os adultos determinam e sentenciam.
Eu mesmo já falei para os meus filhos, quando estava exausto de tanta briga (o que não é tão raro assim de acontecer):
- Eu não que saber o que você falou e o que ele fez, resolvam isso agora!
Dói o coração só de lembrar, mas é verdade, dizemos coisas horríveis quando estamos cansados e desesperados. Agora, qual é o impacto disso? Como reverter uma situação dessas?
O efeito colateral é bastante claro: a criança percebe que o que ela pensa ou sente não tem valor para seus pais. E se isso se torna algo frequente na relação entre pai e filho, ela passa a incorporar essa percepção não apenas sobre seus pensamentos e sentimentos, mas sobre si própria. Ou seja, ela mesma não tem valor para seus pais. Percebe que não vale a pena explicar, argumentar ou dialogar. Por consequência direta, o canal de diálogo é fechado.
Pense agora, e tente se lembrar como era na sua infância. Pode ser que isso tenha acontecido com você em algum nível, como aconteceu comigo. Mas a chegada dos filhos traz consigo uma oportunidade única de fazer as pazes com o passado e se curar. Não que os nossos filhos farão isso, até porque eles não têm essas reponsabilidade. Mas a chegada das crianças faz com que nós queiramos "arrumar a casa", mesmo que esse ambiente seja a bagunça interna dos nossos corações.
Difícil ter filhos, né? Sei bem... Mas podemos fazer um combinado aqui e dizer aos nossos filhos, pelo menos uma vez por dia.
- Você importa!
![Thiago Queiroz é educador parental, escritor e palestrante, ajudando famílias a criar filhos com mais afeto e respeito. Pai de Dante, Gael, Maya e Cora, é fundador do site e canal do YouTube Paizinho, Vírgula! e autor dos livros Queridos Adultos, Abrace seu Filho e A Armadura de Bertô. — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/m7PTcDLqlpv_MVmSOfp7Zg6Zr6Q=/0x0:338x338/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2023/i/B/6DymfpSrGBsIObpZ3NVQ/thiago-queiroz.png)
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