Monica Pessanha

Por Mônica Pessanha

Autora de coluna sobre comportamento materno e infantil

 


Por que empurramos nossos filhos para um turbilhão de distrações externas ainda na infância? Essa pergunta parece ser crucial para darmos conta do ritmo acelerado em que nos encontramos na atualidade.

Não há como negar que nada nos desafia mais física, mental e emocionalmente do que a parentalidade. Na maioria das vezes, somos atravessados pela sensação de que mal conseguimos manter a cabeça fora d´água para respirarmos. Por outro lado, devo reconhecer que essa é a vida na qual estamos imersos, quase não temos escolhas de ficarmos fora dela. No nosso mundo moderno, com o apoio familiar cada vez menor e as exigências financeiras cada vez maiores, os pais estão compreensivelmente sobrecarregados com a pressão da vida cotidiana.

Mãe cuidando de filho enquanto realiza outras tarefas — Foto: Freepik
Mãe cuidando de filho enquanto realiza outras tarefas — Foto: Freepik

Nesse contexto, terceirizar o tempo dos nossos filhos parece ser a resposta óbvia para encontrar um equilíbrio. Assim, escola, creches e outras atividades estruturadas pretendem proporcionar socialização, independência e maior sucesso futuro. Mas qual é o custo real disso para os nossos filhos e para nós, seus pais?

O mundo em que nossos filhos estão crescendo sofre mudanças cada vez mais rápidas. Nesse caso, nossos filhos precisarão ser capazes de pensar por si próprios, moldar os seus próprios destinos e ter confiança na falta de um enquadramento fornecido externamente. Proporcionar oportunidades ilimitadas para brincar livremente é uma tentativa progressiva de garantir que as nossas crianças tenham a capacidade de uma mente aberta sem precedentes, de pensamento flexível e de inovação. Mas, mais importante do que o sucesso futuro, é pensarmos: no que o excesso de atividade tem feito com a vida familiar?

Pergunte a qualquer mãe ou pai se eles amam seus filhos incondicionalmente. Certamente ouviremos um sincero e bem pronunciado sim. Mas não importa o que dizemos, o que realmente precisa ser levado em conta é o que sentem. E o mais importante para as crianças pequenas é o tempo que passam com os pais. Quando tentamos arrumar maneiras diferentes de deixar as crianças ocupadas, abrimos mão, muitas vezes inconscientemente, de oportunidades preciosas de conexão. E quando essa busca de mantê-las ocupadas se torna excessiva, a desconexão pode florescer, ameaçando minar os próprios alicerces valiosos de nossa parentalidade.

Mas quando o tempo é o nosso recurso mais limitado, como podemos dá-lo gratuitamente? Como pais, deparamo-nos desesperadamente tentando achar alguns minutos preciosos todos os dias para nós mesmos – para uma caminhada ou corrida rápida, lavar o cabelo ou fazer qualquer coisa –, um tempo que considerávamos garantido antes de termos filhos.

Por outro lado, há pais que querem fazer todos os desejos dos filhos, dar a eles tudo o que lhes pedem, solicitam: coisas materiais. Ao mesmo tempo, por outro lado, parece que cada vez mais pais são inspirados pelos filhos a encontrar soluções criativas, porque o antigo modelo de ganhar mais dinheiro para comprar mais coisas já se mostrou ineficaz para a busca de felicidade.

Assim, o minimalismo pode conter a resposta, para desacelerar e criar maior e melhor conexão com os filhos. Ter menos coisas promete um efeito bola de neve reversa, liberando tempo para ser gasto em coisas que nos deixam mais profundamente felizes.

Enfim, viver uma vida simples em um mundo complexo. Verdade que isso é um osso duro de roer, mas vale a pena tentar. Em última análise, cada família deve escolher o que é certo para ela. Mas primeiro precisamos perceber que temos uma escolha. Não temos de seguir o padrão, se não quisermos.

O que nos deixa apreensivos é justamente esta névoa da sobrecarga dos dias modernos, que não nos permite ver que a infância de nossos filhos acabará em um piscar de olhos. Então, olharemos para trás, com cabelos grisalhos e mãos enrugadas, desejando ter passado mais tempo com eles.

Tudo bem se o seu caminho for diferente. Esse texto se trata de uma reflexão e não de uma receita padronizada. Mas cabe ressaltar que a chave não é comparar ou julgar, mas, sim, dar a mão a quem está ao nosso lado enquanto caminhamos nestas linhas paralelas da parentalidade e oferecer orientação, inspiração e apoio sempre que necessário. Porque, em última análise, todos queremos a mesma coisa: oferecer uma experiência significativa de acolhimento e conexão aos nossos filhos ainda quando são pequenos.

Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro 'Criando filhos para a vida'. É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Crescer
Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro 'Criando filhos para a vida'. É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Crescer

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