Estamos no século mais demandante de transformações no comportamento social. Tudo o que nos ensinaram (mal) está sendo (muito bem) questionado, e sentimos às vezes que precisamos reaprender a estar no mundo do zero. Percebemos, todos os dias, que aquelas frases que dizíamos, pensávamos e fazíamos como “brincadeira” ou porque “a vida é mesmo assim, que bobagem, você é muito sensível”, eram, na verdade, a expressão da violência que estava em nós, aprendida nas interações mais cotidianas. Assim, nossas famílias e as pessoas que nos formaram também nos deformaram para a convivência com a diferença. Sejamos honestos: somos um país racista, machista, homofóbico, capacitista…
No meio desses (re)aprendizados contínuos e intermináveis, resta-nos a postura de aprendizes, que tanto nos ensinou Paulo Freire. Uma posição existencial, um jeito de levar os dias e o tempo, de lidar com o humano e com a vida. Existir como aprendizes é parte da melhor revolução de costumes de nossa época. É assim que podemos sentir que somos parte da transformação do mundo em um lugar realmente regido pelo respeito, pela dignificação da vida e pela celebração da diferença.
O que é muito, muito mais do que a pífia “tolerância” ou a morna “aceitação”. Existimos como diferentes entre diferentes também para aprendermos a comemorar este mosaico humano que se revela entre nós a todo momento.
No entanto, temos falado pouco ainda sobre a estrutural chaga do autoritarismo entre nós. Não há nenhum adulto de nosso tempo que não tenha sido criado e forjado por estes parâmetros: “criança não tem querer”, “mas é sua mãe, seu moleque insolente!”, “engula sapo do seu chefe porque a vida é assim mesmo”.
O autoritarismo que trazemos silencia nossas indignações e normaliza violências contra pessoas de menor hierarquia social.
Somos todos autoritários em desconstrução, tentando aprender a não gritar, a não sucumbir ao “porque eu quero e pronto, acabou”, ao “cale a boca que eu estou mandando”. Nesse contexto de aprendizagem social tão novo, vale trocar ideias com quem está buscando o mesmo tipo de letramento, inventando novas maneiras de colocar o respeito como teto inviolável dos diálogos difíceis.
Vale a pena ser aprendiz de um mundo mais democrático e inclusivo. Afinal, é passada a hora de passarmos a ser opressores pela falta de uma educação libertadora para os oprimidos.