Nos últimos anos, abundaram (felizmente) inúmeras publicações e perfis de redes sociais voltados à educação de crianças. Decerto, a infância merece uma revisão como conceito e prática de cuidado. Estávamos fazendo muito errado como sociedade: batíamos, agradecíamos com palavras violentas, chamando tudo isso de “autoridade”, “educação” e “limite”. Ponto para nós aqui, que estamos construindo uma nova cultura de atenção à infância.
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Acontece que essas crianças adolescem. E, por isso, as necessidades de transformação da cultura e da sociedade precisam continuar sendo apontadas com a mesma ênfase que estamos dando aos diálogos públicos sobre os pequenos. Como fazer da adolescência o mesmo lugar de encantamento e respeito, de escuta e diálogo? Como ouvir um sintoma que o adolescente traz? Qual a estética da mensagem que eles podem trazer para nós? Que formato tem a dor de um adolescente? E, principalmente, como lidar com este formato de mensagem, de tal maneira que o diálogo não se perca?
A palavra-chave para a compreensão parental sobre a adolescência é: diferenciação. Eles querem, e têm o direito, de agora trilhar a vida a partir dos próprios princípios. Durante a infância, receberam o mundo através dos nossos parâmetros. Adolescer quer dizer, portanto, “agora vou para o mundo entender quais serão os meus parâmetros de vida, para além dos seus; depois eu volto e a gente conversa sobre interseções e desencontros entre esses dois pontos de vista”. Diferenciar-se é um ato que começa na adolescência com a força vulcânica que eles têm, e é um ofício que jamais termina. Até a hora da nossa morte, estamos nos perguntando: o que quero levar para minha vida, com a força da minha autonomia, do que eu aprendi em casa nos primórdios da existência?
Escutar esse barulho da diferenciação é difícil para nós. Porque nascemos como mães e pais a partir da fusão e da idealização. Eles nos viam como heróis, e os adolês têm a função de nos destronar para crescer. Eles sentem que precisam ir se distanciando aos poucos para poder adultescer. Morar nesse paradoxo é para os fortes, e não há humanos que o sejam. Eles ainda precisam de nós – mas as portas estão, muitas vezes, fechadas. Nossa tarefa é observar quando há frestas e até onde eles nos permitem entrar.
Quando esse encontro acontece respeitando essa fronteira estranha, crescemos juntos. Por isso, tenho amado ser pai de adolescente: cresço com eles ainda mais do que quando eram pequenos. Através dessa paternidade, sinto que estou me preparando para me fazer uma pessoa madura. Quem sabe, com a ajuda deles, esteja me preparando para envelhecer…
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