Entrevistas

Um móvel é mais do que um item inanimado. Cada objeto carrega lembranças, pessoais e familiares, que ajudam a contar histórias sobre a humanidade. Essa é a visão compartilhada por Arnaldo e André Danemberg, pai e filho, respectivamente, que estão à frente do antiquário Arnaldo Danemberg Collection.

Eles dividem a missão de manter o interesse vivo por mobiliários antigos, a fim de reverenciar o passado e demonstrar que peças podem ter diversas funcionalidades na decoração. É com essa temática que, a partir de janeiro de 2024, assinam uma nova coluna no site de Casa e Jardim.

Com mais de 40 anos de carreira, Arnaldo é um dos principais nomes do antiquariato no Brasil. Foi no Rio de Janeiro, sua cidade natal, que começou sua jornada e teve uma loja por décadas ao lado do icônico hotel Copacabana Palace. A Cidade Maravilhosa ainda abriga a oficina onde os mobiliários são restaurados, mas, agora, a loja fica na capital paulista. "São Paulo é onde o Brasil pulsa, onde os negócios acontecem", ele diz.

Seus dois filhos, André e Paloma Danemberg, cresceram vivenciando o universo do garimpo e, atualmente, também trabalham no ramo. "Temos essa missão educacional, de manter vivo o interesse pelo passado", afirma o rapaz.

Abaixo, confira uma entrevista exclusiva que Arnaldo e André concederam à Casa e Jardim para falar sobre história, carreira, negócios e futuro.

Casa e Jardim: Arnaldo, você é amplamente conhecido por seu trabalho de garimpar móveis antigos. Como começou nessa jornada e o que o inspirou a fazê-lo?
Arnaldo: Desde pequeno eu flertei com esse ramo. Meu pai, também chamado Arnaldo, era antiquário. Após me formar em advocacia, trabalhei por cinco anos no famoso escritório Pinheiro Neto, em São Paulo. Em determinado momento meu pai decidiu sair de uma sociedade no antiquariato e montar algo novo, me convidando para participar. Foi quando percebi a oportunidade de empreender em algo que, no futuro, seria meu legado. Trabalhei ao lado dele por dez anos.

CJ: André, como foi crescer vendo seu pai nesse ramo? Como isso te influenciou?
André: Cresci viajando pela Europa com meus pais, frequentando museus e espaços de arte. A cultura e a história sempre foram cruciais na minha família. Mesmo se não fosse o antiquariato, eu trabalharia com algo relacionado a isso.

A loja Arnaldo Danemberg Collection em São Paulo está em novo endereço desde 2022: a Rua Groenlândia, nº530, no bairro Jardim América — Foto: Rômulo Fialdini / Divulgação
A loja Arnaldo Danemberg Collection em São Paulo está em novo endereço desde 2022: a Rua Groenlândia, nº530, no bairro Jardim América — Foto: Rômulo Fialdini / Divulgação

CJ: Arnaldo, para você, como é ter continuado o trabalho do seu pai e, agora, ver seus filhos seguindo esse caminho? Como é essa união familiar no trabalho?
Arnaldo: Sempre vi meu trabalho como um desafio constante, uma evolução diária. Dividimos tarefas, coexistimos, é um constante aprendizado. Ainda estou em movimento, não pretendo parar, mas sei que o André acrescentará muito a esse legado.

André: É uma união de forças. Meu pai cuida mais do garimpo e do restauro das peças. Eu fico com o dia a dia da loja e com a pesquisa histórica dos itens.

CJ: Quais são as características que vocês procuram ao garimpar móveis? Quais são os critérios que orientam a seleção?
Arnaldo: Com anos de pesquisa, ao batermos o olho em um móvel, já sabemos muitas informações, como a madeira utilizada e estilo. Às vezes, encontramos curiosidades específicas, mas o processo é uma combinação do conhecimento acumulado e descobertas pontuais. O despojamento é uma característica que sempre privilegiamos. Acreditamos na beleza de transformar um baú em uma mesa de centro, por exemplo. Mesmo sendo antiquários, valorizamos a simplicidade e a qualidade dos objetos.

André: Na prática, há também uma necessidade de decisão rápida. Isso envolve um equilíbrio entre conhecimento técnico e decisão instantânea. Nem sempre podemos, por exemplo, carregar peças muito grandes.

CJ: Atualmente, o foco de vocês são os mobiliários franceses? Por que esse país?
Arnaldo: Comecei garimpando pela Inglaterra, e depois cheguei a França. O país é um reduto de boa manufatura, especialmente de mobiliários campesinos. Viajamos por toda a Europa, mas na França encontramos um ponto de apoio. Inclusive, temos um celeiro por lá.

André: Além disso, nos séculos 18 e 19, a França e a Inglaterra eram os países mais importantes culturalmente para o mundo. Então, muitos objetos europeus dessa época carregam referências francesas.

CJ: Como está o ritmo de viagens para garimpar no momento?
André: Normalmente, buscamos períodos mais calmos, como o mês de fevereiro. Evitamos a alta temporada turística. Com o negócio crescendo, é um desafio encontrar tempo para viagens mais longas.

CJ: Como é o processo de restauração e revitalização das peças? Quais desafios estão envolvidos?
Arnaldo: A restauração passa por várias etapas. Primeiro, avaliamos a estrutura do móvel e realizamos eventuais reparos. Em seguida, a superfície é lixada e preparada para a lustração, seguida pelo acabamento. As peças são restauradas na nossa oficina no Rio de Janeiro, onde contamos com o apoio de 16 artesãos.

Arnaldo Danemberg e André Danemberg também são ávidos pesquisadores dos mobiliários europeus dos séculos 17 a 19 — Foto: Lucas Moraes / Divulgação
Arnaldo Danemberg e André Danemberg também são ávidos pesquisadores dos mobiliários europeus dos séculos 17 a 19 — Foto: Lucas Moraes / Divulgação

CJ: O que torna os móveis garimpados únicos e valiosos em comparação com móveis novos?
André: Os móveis antigos carregam histórias, têm um valor sentimental e uma conexão com o passado que peças mais recentes muitas vezes não têm. Temos essa missão educacional, de manter vivo o interesse pelo passado.

CJ: Como vocês avaliam o mercado brasileiro no setor de garimpo e restauro de móveis? Estamos alinhados com a Europa?
Arnaldo: A Europa tem uma memória histórica mais longa, mas o Brasil tem um terreno fértil de interesse, especialmente entre os mais jovens. A diferença está "na idade da memória". No Brasil, as pessoas estão mais voltadas para o século 20, enquanto na Europa, os séculos anteriores são bem explorados.

CJ: Qual é o impacto da sustentabilidade na escolha de móveis garimpados em comparação com móveis novos?
Arnaldo: Manter e reutilizar peças antigas evita o descarte desnecessário, preservando árvores e a memória que esses móveis carregam.

André: Móveis antigos foram construídos para durar, feitos com qualidade e resistência. Ao escolher essas peças, estamos investindo em itens que resistem ao tempo, em vez de contribuir para a cultura do descarte rápido e constante.

CJ: Como o garimpo e restauro de móveis ajudam a preservar a história de uma comunidade e/ou sociedade?
Arnaldo: Ao resgatar móveis estamos, na verdade, restaurando a história que pertence a esses lugares. Cada móvel adquirido passa a fazer parte da história da nova pessoa que o possui. Eles deixam de ser inanimados e tornam-se “animados”. É como se revisitássemos memórias intrínsecas, que se tornam parte da família. O garimpo e o restauro são formas de preservar e lembrar de onde viemos como sociedade e indivíduos.

André: Somos uma construção histórica. O garimpo e o restauro nos faz lembrar de onde viemos.

CJ: Arnaldo, além de antiquário, você realiza um amplo trabalho como pesquisador e professor, inclusive escrevendo livros sobre o tema. Por que você resolveu ampliar esse leque de atuações?
Arnaldo: Desde sempre. Mas, certa vez, fui fazer um curso com Clotilde Cavalcante Albuquerque, especialista em mobiliários brasileiros. Depois, ela me convidou para pesquisar ao lado dela e não parei mais. Gosto muito de estudar. O problema é que, quanto mais eu estudo, mas eu percebo que não sei nada [risos]. O conhecimento é infinito. Hoje em dia, o André tem assumido esse movimento acadêmico de forma acessível. Recentemente, colaboramos com arquitetos, todos demonstrando grande interesse em integrar peças antigas em projetos contemporâneos. É uma parceria fluida e gratificante.

O projeto da loja Arnaldo Danemberg Collection, em São Paulo, é assinado pelo arquiteto Dado Castello Branco — Foto: Rômulo Fialdini / Divulgação
O projeto da loja Arnaldo Danemberg Collection, em São Paulo, é assinado pelo arquiteto Dado Castello Branco — Foto: Rômulo Fialdini / Divulgação

CJ: André, você tem feito muitas palestras e projetos para falar da história da França e sua relação com o mobiliário. Como começou a se interessar por essa área em específico?
André: Acredito que temos várias formas de nos expressar. Com minha formação em História e uma longa bibliografia de estudos, senti que era o momento certo para compartilhar essa conexão entre móveis e fatos históricos. Sempre fui ligado à cultura francesa, e o cinema é uma forma de arte que admiro. Assim, criei o projeto Cinema AD, cuja ideia é trazer aspectos históricos dos mobiliários a partir de filmes relevantes.

CJ: O que motivou trazer a loja da Arnaldo Danemberg Collection do Rio para São Paulo?
Arnaldo: São Paulo é onde o Brasil pulsa, onde os negócios acontecem. A migração foi impulsionada por essa dinâmica. Mantemos a oficina de restauro no Rio, porque temos uma mão de obra específica e valiosa, uma parceria de muitos anos. E ser cosmopolita nos enriquece. Lidar com diversas culturas nos faz maiores, mais abertos. São Paulo é mais uma parada nessa jornada constante, permitindo-nos interagir com diferentes segmentos e enraizar nossos valores no mundo.

Oficina de restauro dos móveis garimpados pela família Danemberg, localizada no Rio de Janeiro — Foto: Lucas Moraes / Divulgação
Oficina de restauro dos móveis garimpados pela família Danemberg, localizada no Rio de Janeiro — Foto: Lucas Moraes / Divulgação

CJ: A Arnaldo Danemberg Collection ganhou um novo endereço em 2022. O que motivou a mudança? Como foi idealizado esse novo espaço?
Arnaldo: O mercado imobiliário impulsionou essa mudança e transformamos a situação em algo positivo. Agora temos um espaço assinado pelo arquiteto Dado Castello Branco. No projeto, um destaque são os cobogós, que remetem aos do Copacabana Palace.

CJ: Quais os planos para o futuro?
Arnaldo: Em 2024, planejo disponibilizar gratuitamente pela internet o meu livro "Vida de Antiquário". Também estamos pensando em expandir nossa missão para faculdades, ampliar eventos sobre mobiliários, cinema e música, e realizar mais campanhas com arquitetos. Além, claro, de inaugurar a nossa coluna no site de Casa e Jardim para explorar todos esses assuntos.

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