Restauração de móveis: saiba como funciona e conheça o trabalho

As formas mais comuns de se manter uma memória viva são as fotografias, as histórias e os livros que, através do papel, transmitem a recordação daquilo que já aconteceu. Outros jeitos, entretanto, podem encantar pela concretização do estilo de uma época, como o mobiliário.

Uma mesa sob a qual fazíamos uma refeição quando crianças, uma cadeira de balanço de um ente querido e até uma penteadeira que carrega as marcas de design do século passado são exemplos de como os móveis trazem o DNA da memória afetiva e histórica.

Ainda que seja adorável estar em contato com uma peça antiga, o fato delas sofrerem com a passagem do tempo – como todos os objetos – é um empecilho para a sua preservação. O contato com mofo, cupins e o surgimento de rachaduras e deterioração pela longevidade são apenas alguns desafios ao se lidar com antiguidades.

Por sorte, existe um profissional capaz de devolver a vida a uma peça enquanto mantém a sua originalidade e preciosidade – seja fraterna ou histórica. Este é o exato trabalho do restaurador de móveis que, em conjunto com museus, entidades governamentais, antiquários e famílias, realiza um trabalho extenso de resgate e preservação.

O que faz um restaurador de móveis?

Antes e depois de uma poltrona reformada pela Casa Grim — Foto: Divulgação / Tania Grimaldi

Tania Grimaldi trabalhou por 16 anos como executiva de empresas de marketing até decidir abrir seu próprio ateliê de restauração de móveis, a Casa Grim. "Cada vez mais fui entendendo que promover o consumo desenfreado não estava mais naquilo que eu acreditava. Na restauração de móveis encontrei uma área que eu consigo resgatar peças com valor afetivo, o que tem um significado muito grande para mim", declara ela.

A profissional explica que existem muitas nuances para o trabalho de um restaurador, mas no caso do ateliê, o trabalho vai desde peças de madeira a tapeçarias que precisam de um cuidado especial, envolvendo marcenaria, sofás e muito mais. "O trabalho é de dentro para fora, desde a estrutura, se precisar substituir alguma peça, até a troca de palha. Fazemos de tudo para deixar o móvel saudável e íntegro", explica.

O trabalho de um restaurador é extremamente individualizado, visto que inclui pesquisa para se adequar tanto ao móvel quanto ao gosto pessoal do cliente.

Por que restaurar um móvel?

O antiquário Arnaldo Danemberg Collection é um dos espaços que trabalha diretamente com profissionais de restauração de móveis para manter as relíquias intactas — Foto: Divulgação / Arnaldo Danemberg Collection

Arnaldo Danemberg é proprietário do antiquário Arnaldo Danemberg Collection, que, em quatro décadas, resgata móveis brasileiros e europeus de valor histórico inestimável. Ele explica que a magia encontrada nos antiquários, leilões e espaços que guardam móveis antigos é de um universo a parte: "O móvel traz os tempos antigos à atualidade. É uma artesania. Ele carrega todo um contexto histórico", explica.

O empresário tem o cuidado de ir além dos grandes leilões para buscar os mobiliários disponíveis no antiquário. Em suas viagens, ele busca também peregrinar lugares inusitados, como fazendas e feiras menores, buscando peças raras para seu espaço – que permeiam desde o Palácio da Alvorada até as casas dos apaixonados por antiguidades.

O ofício dos restauradores é de muito apreço para o historiador, que afirma trabalhar frequentemente com eles. "É um trabalho de muita paciência. Ele pegará um móvel, como uma cadeira que existe há 200 anos, e ela precisa ser revitalizada, juntar e rejuntar. Então começa o trabalho da restauração, na estrutura do móvel e depois na decoração", comenta.

Arnaldo ainda conta que antes de passar para a venda, todos os móveis da loja homônima passam pela avaliação dos parceiros restauradores e por um processo de descupinização preventiva e, caso seja necessária, a reestruturação.

Além de preparar peças para a venda, como no caso de Arnaldo, a restauração também significa uma segunda chance para objetos que representam um laço emotivo entre pessoas. "Nos procuram muito quando a peça é de família e tem um valor afetivo muito grande. São móveis que, não necessariamente, possuem um valor de mercado, mas, sim, um significado inestimável para nosso cliente", explica Tania, que também abre um leque de oportunidades para mudança na cor e estrutura da peça.

Já o segundo tipo de solicitação que Tania mais recebe no ateliê é a de restauração de itens icônicos para o mobiliário brasileiro, que representam grandes assinaturas do design nacional. "Restauramos sempre de forma mais respeitosa e fiel possível ao design original".

Como funciona a restauração de um móvel?

Vitrola reparada pela Casa Grim – é possível restaurar móveis e objetos, desde tapeçarias à madeiras antigas, sem perder a originalidade da peça — Foto: Divulgação / Tania Grimaldi

Apesar de singular, ela explica que o processo é simples e direto para todos os casos. Através de fotos e medidas enviados para o ateliê, Tania e sua equipe elaboram um pré-orçamento, que envolve um olhar técnico e escuta do cliente para, então, dar início ao trabalho.

Com a "mão na massa", a oficina faz uma avaliação cuidadosa, que abrange desde dobradiças a substituição de peças, até molas e outros detalhes que poderiam passar despercebidos, como a descoberta de uma possível tintura sob a cor original.

Ela ainda explica que os cuidados não terminam com a equipe, mas que a rotina torna-se muito mais leve após a restauração. "A madeira, por exemplo, estraga com a umidade, mesmo que a gente passe um produto para proteger. Orientamos o cliente sempre a cuidar do material, que é vivo e absorve água, mas a manutenção não é difícil. O móvel restaurado volta muito íntegro e forte", conclui Tania.