Arquitetura

A arquitetura e a moda são campos que muito dialogam. Afinal de contas, ambas atuam como expressão de conforto, funcionalidade, manifestação pessoal e movimento estético, refletindo os gostos e anseios de uma comunidade ou época.

Segundo Fabiana Miano Mori, arquiteta e urbanista mestre em História, Cidade, Arquitetura e Arte, apesar de serem diferentes áreas de conhecimento que contemplam contextos distintos, com linguagens únicas, há uma relação direta entre arquitetura e moda em termos de abrigo e proteção.

"A arquitetura cria espaços físicos que servem como refúgio contra os elementos naturais, oferecendo proteção contra eventos bioclimáticos e proporcionando segurança", afirma ela, que é co-autora do artigo Tramas de um olhar sensível em que se cruzam o design, a arquitetura e a moda, publicado na revista de ensino em Artes, Moda e Design, da Udesc.

Tanto a arquitetura quanto a moda desenvolvem produtos de conforto, expressão pessoal e retratos de um tempo pressupondo um usuário final — Foto: Freepik / rawpixel.com / Creative Commons
Tanto a arquitetura quanto a moda desenvolvem produtos de conforto, expressão pessoal e retratos de um tempo pressupondo um usuário final — Foto: Freepik / rawpixel.com / Creative Commons

Da mesma forma, diz ela, a moda oferece roupas e acessórios que protegem o corpo humano, adaptando-se às diferentes condições climáticas e sociais. "Ambas as áreas compartilham a preocupação com a ergonomia e o conforto, garantindo que seus projetos atendam às necessidades práticas e físicas das pessoas", explica.

Como arquitetura e moda se misturam?

Na prática, esses dois campos podem se influenciar mutuamente, compartilhando tendências, materiais e técnicas de design.

"A relação entre ambas pode ser vista enquanto uma interação complexa e multifacetada, que vai além da simples funcionalidade para abranger aspectos emocionais, culturais, estéticos e sinestésicos, proporcionando oportunidades para a expressão criativa em ambas as disciplinas", diz Fabiana.

Apaixonado pelas obras de Sergio Rodrigues desde sempre, o diretor criativo da Handred passou a desenvolver seu vestuário que dialogava com o trabalho do ídolo — Foto: Handred / Divulgação
Apaixonado pelas obras de Sergio Rodrigues desde sempre, o diretor criativo da Handred passou a desenvolver seu vestuário que dialogava com o trabalho do ídolo — Foto: Handred / Divulgação

Há similaridades também no que André Namitala, diretor criativo e estilista da Handred, chama "cartografia" de ambas: "Na moda, a modelagem é a planta, o papel, o ponto de partida da arquitetura de uma roupa", diz.

A própria marca é um exemplo da comunhão entre arquitetura e moda, que se concretizou através da parceria entre a marca e o Atelier Sergio Rodrigues. Dela, surgiram lançamentos inspirados nas obras e no legado do arquiteto e designer, que ultrapassam o vestuário.

Em 2023, o diretor criativo da Handredmteve a ideia de desenvolver roupas inspiradas no trabalho e na trajetória de Sergio Rodrigues. Na foto, unidade da loja nos Jardins, em São Paulo — Foto: Handred / Divulgação
Em 2023, o diretor criativo da Handredmteve a ideia de desenvolver roupas inspiradas no trabalho e na trajetória de Sergio Rodrigues. Na foto, unidade da loja nos Jardins, em São Paulo — Foto: Handred / Divulgação

Além das peças desenvolvidas pelo estilista e diretor criativo, a Handred se uniu ao Instituto Sergio Rodrigues para desenvolver um documentário sobre a visão criativa do designer, além de uma publicação de arte que reúne o processo de pesquisa e criação de André em parceria com Fernando e Renata Mendes, responsáveis pelo Atelier e Instituto.

Para o diretor criativo, a marca incorpora o legado do designer ao usar poucos materiais para a confecção do vestuário, dando luz ao acabamento e à excelência do trabalho manual.

"Eu sempre fui doido nos móveis do Sergio Rodrigues desde que bati o olho em uma cadeira Kilim, aos 17 anos. Passando a conhecer mais sobre sua obra e vida, vi o quanto tinha tudo a ver com o tipo de roupa que eu queria fazer", conta André.

A arquitetura é inspiração constante para as coleções da Handred. Na coleção Brennand, por exemplo, ladrilhos de cerâmica foram bordados em peças de roupa — Foto: Handred / Divulgação
A arquitetura é inspiração constante para as coleções da Handred. Na coleção Brennand, por exemplo, ladrilhos de cerâmica foram bordados em peças de roupa — Foto: Handred / Divulgação

Também não foi a primeira vez que a marca incorporou a arquitetura em suas coleções – trazer detalhes dos territórios que habitamos para as peças de roupa, segundo André, é uma abordagem constante na Handred.

"Na Coleção Ouro Preto (2018) nos inspiramos nos balaústres, detalhe arquitetônico característico da cidade, em bordados e estampas; na coleção Copacabana (2020) reproduzimos em estampa o piso da Galeria Menescal, tradicional em Copacabana; na coleção Brennand (2021) trouxemos ladrilhos de cerâmica bordados em peças de roupa, reproduzindo parte do grande parque de esculturas que o artista Francisco Brennand construiu no Recife", conta.

Já na coleção Santa Teresa, as estampas remetiam a detalhes arquitetônicos do bairro. Na linha atual, intitulada Concreta, a estampa é inspirada em alguns monumentos modernistas brasileiros importantes.

As lojas da Handred são ambientadas com referências da arquitetura e do design, como a poltrona Tete, de Sergio Rodrigues, e as cortinas de linho inspiradas pela Casa de Viro de Lina Bo Bardi — Foto: André Fontes / Divulgação
As lojas da Handred são ambientadas com referências da arquitetura e do design, como a poltrona Tete, de Sergio Rodrigues, e as cortinas de linho inspiradas pela Casa de Viro de Lina Bo Bardi — Foto: André Fontes / Divulgação

"Para além das peças de roupa, as nossas lojas também são ambientadas com essas referências. As enormes cortinas de linho dos provadores e paredes vieram de inspiração de Casa de Vidro da Lina Bo Bardi, por exemplo", explica.

Lina, a propósito, é fonte extensiva de inspiração para campanhas no design e na moda. Em abril, a Casa Birman, em São Paulo, apresentou a exposição Traços de Lina, que exibia sapatos inspirados no trabalho da arquiteta ítalo-brasileira.

Uma das sandálias de Alexandre Birman foi inspirada no "Carrinho de Chá" de Lina Bo Bardi — Foto: Casa Birman / Divulgação
Uma das sandálias de Alexandre Birman foi inspirada no "Carrinho de Chá" de Lina Bo Bardi — Foto: Casa Birman / Divulgação

A coleção, chamada Lina, foi assinada pelo designer Alexandre Birman e prestou homenagem a mobiliários icônicos desenhados pela arquiteta entre os anos 1940 e 1950.

Foram desenvolvidas três sandálias de salto alto – Rocking Mule, Bola Sandal e Trolley Sandal –, inspiradas, respectivamente, na Poltrona de Balanço (1948), na Cadeira Bola de Latão (1951) e no Carrinho de Chá (1948).

A trajetória e o legado da arquiteta também foram destacados em uma linha do tempo na exibição, que contou ainda com uma seleção de fotografias e desenhos originais de Lina. Estes permanecerão na Casa Birman até a primeira quinzena de julho. Para quem deseja conferir, a entrada é gratuita, mas é preciso fazer agendamento prévio online.

A "Cadeira de Balanço", criada em 1948, é um dos móveis de Lina Bo Bardi que inspirou as sandálias de Alexandre Birman e estão em exposição na capital paulista — Foto: Casa Birman / Divulgação
A "Cadeira de Balanço", criada em 1948, é um dos móveis de Lina Bo Bardi que inspirou as sandálias de Alexandre Birman e estão em exposição na capital paulista — Foto: Casa Birman / Divulgação

Outro exemplo de marca que se apropriou da simbiose entre arquitetura e moda é a Zerezes. Para João Sampaio, coordenador de branding da empresa, os campos se aproximam porque flertam com o fazer artístico, mas pressupõem um usuário final – isto é, uma pessoa ou um grupo que usará a peça ou o espaço projetado.

"A moda e a arquitetura estão a serviço de nós. Se encontram também na busca pela harmonia visual, na afirmação estética e na geração de prazer, conforto e identificação", sintetiza.

A campanha de 2023 para as linhas ARCHT e CUORE, da Zerezes, foi inspirada pelo edifício Bretagne e fotografada no endereço — Foto: Fernanda Pompermayer / Divulgação
A campanha de 2023 para as linhas ARCHT e CUORE, da Zerezes, foi inspirada pelo edifício Bretagne e fotografada no endereço — Foto: Fernanda Pompermayer / Divulgação

Em 2023, foi a arquitetura que inspirou a campanha de lançamento dos novos óculos da linha ARCHT e CUORE.

Na ocasião, o edifício Bretagne, construído em São Paulo em 1950 pelo arquiteto e incorporador João Artacho Jurado, foi o grande ponto de partida para a campanha, fotografada no endereço.

"Além de enriquecer a campanha esteticamente, essa é uma forma de apresentar esses espaços para a nossa comunidade e estimular o reconhecimento e a valorização do design e da arquitetura nacional", explica João.

A ideia na campanha foi retratar dois jovens, que decidiram explorar os diferentes e incríveis espaços do Bretagne, que conta, inclusive, com um bar próprio muito especial.

A Zerezes se inspira no design e na arquitetura para desenvolver suas peças, cujo ponto em comum é o traço atemporal, autêntico e minimalista — Foto: Fernanda Pompermayer / Divulgação
A Zerezes se inspira no design e na arquitetura para desenvolver suas peças, cujo ponto em comum é o traço atemporal, autêntico e minimalista — Foto: Fernanda Pompermayer / Divulgação

Além do pianobar citado pelo executivo, o Bretagne é composto por jardim de inverno coberto por uma marquise, restaurante e uma grande piscina, apresentando um formato de L. O edifício, tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (Conpresp), possui 173 apartamentos com pé-direito de 3 m e traz ares de "cenário de Hollywood".

À época de seu lançamento, o projeto foi considerado uma ousadia e trouxe uma releitura à arquitetura e cidade de São Paulo. A Zerezes então se inspirou nesta reflexão para propor uma releitura à forma com que as pessoas usam os óculos de grau, desenvolvendo uma coleção pautada pelo design e inspiração em elementos da arquitetura.

"As nossas coleções de grau têm se inspirado em diferentes formas de enxergar design e arquitetura. Umas mais clássicas, outras mais contemporâneas, umas mais elegantes, outras mais ousadas. Mas todas alinhadas com a nossa ideia de bom design: atemporal, autêntico, minimalista", completa João.

Essa não foi a única vez que as ações da marca estão associadas a ícones da arquitetura – a última campanha de verão foi fotografada em uma casa projetada por Zanine Caldas, na praia de Joatinga, no Rio de Janeiro, e a convenção de colaboradores foi realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, por exemplo.

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