Arquitetura

Por Yara Guerra

A arquitetura é uma ferramenta para que o homem possa viver. Marco do tempo e da história, ela é expressa pela matéria, mas tem no conjunto imaterial os seus principais componentes. "A matéria é o que se tem ao alcance da mão, porém, mais importantes que isso são o sonho, a beleza, a proporção e o ritmo das coisas".

As palavras são de Gustavo Penna, arquiteto mineiro que, neste 6 de dezembro, completa 50 anos de carreira. Em uma jornada que atravessa diferentes estilos e propostas, ele é o nome por trás de importantes obras brasileiras: Escola Guignard, Museu de Congonhas, Memorial da Imigração Japonesa, Novo Mineirão e SESI Lab são algumas delas.

Após cinco décadas imerso em um universo que, segundo ele, não se finda, Gustavo mostra que a arquitetura ainda tem muito a dizer, provocar e encantar. Em conversa com Casa e Jardim, o arquiteto contou um pouco sobre a "dor e a delícia" da profissão, sua trajetória e perspectivas para o futuro. Confira!

Bem de primeira necessidade

Aos 73 anos, Gustavo Penna assina obras em diversas cidades no Brasil e no exterior. A maioria delas, porém, foi construída em Minas Gerais — Foto: Daniel Mansur / Divulgação
Aos 73 anos, Gustavo Penna assina obras em diversas cidades no Brasil e no exterior. A maioria delas, porém, foi construída em Minas Gerais — Foto: Daniel Mansur / Divulgação

Mais que técnicas e formas, a arquitetura é um "bem de primeira necessidade", que carrega cultura e seu contexto econômico, social, político, estético, ético e ambiental – tudo o que compõe aquele momento e dimensiona a obra.

"A arquitetura é fundamental, porque o homem precisa de um lugar para exercer as suas atividades, ter a sua família, contar com os amigos, poder trabalhar e se relacionar com a cultura e o outro. Metaforicamente, um homem sem casa não tem lugar no planeta. Ela é um instrumento de convivência e vivência", define.

Para Gustavo, a arquitetura deve ser aberta e leve. Na foto, a Escola Guignard. Projetada por ele, trata-se da escola de artes da UFMG, localizada em Belo Horizonnte — Foto: Jomar Bragança / Divulgação
Para Gustavo, a arquitetura deve ser aberta e leve. Na foto, a Escola Guignard. Projetada por ele, trata-se da escola de artes da UFMG, localizada em Belo Horizonnte — Foto: Jomar Bragança / Divulgação

É isso mesmo que norteia a prática arquitetônica de Gustavo. A sua inspiração está nas pessoas: gente que inspira, que fala, que deseja e que sonha. As qualidades entre os dois, homem e arquitetura, são análogas: para ele, ambos precisam ser abertos e leves.

"A arquitetura foi feita para aumentar o homem, porque, sem essas extensões, ele é menor. Ela aumenta o existir. Eu fico imaginando o orgulho que um cidadão tem por sua cidade ter aquelas obras e enriquecer o universo de potencialidades", diz.

Minas Gerais: origem e inspiração

Imagine então o orgulho e a honra de poder projetar para o lugar onde você nasceu e que tanto te inspira. “Sou inteiramente belo-horizontino, montanhês, apaixonado pela Serra do Curral e tenho a maioria das minhas obras e, especialmente as mais significativas, ligadas ao solo de Minas Gerais. Para todo lugar que vou, levo minhas profundidades que a montanha sugere e essa força que mantém a serra em pé”, declara o arquiteto.

Em seu estado natal, ele assina o quarteirão Xacriabá da Praça Sete de Setembro (1990); o Varandão do Parque Municipal (2006); o Novo Mineirão (2008); a Academia Mineira de Letras (1990); a Escola Guignard (1989/90) e o Núcleo de Ensino e Extensão Continuada (1986), em BH; o Centro de Convenções do Inhotim (2008), em Brumadinho; o Museu de Congonhas (2005), na cidade que dá nome à instituição; o Museu de Sant’Ana (2009), em Tiradentes; entre outros.

Para Gustavo, Minas é um estado plural, que apresenta realidades de todas as regiões do Brasil. "Em Minas Gerais, eu faço projetos dessa pluralidade de pessoas, e isso é um espetáculo. Eu vivo intensamente esse diálogo; esse rico encontro de gente boa", diz.

O Sesi Lab, em Brasília, foi projetado por Gustavo Penna e implantado no edifício do Touring Club do Brasil, obra de Oscar Niemeyer — Foto: Leonardo Finotti / Divulgação
O Sesi Lab, em Brasília, foi projetado por Gustavo Penna e implantado no edifício do Touring Club do Brasil, obra de Oscar Niemeyer — Foto: Leonardo Finotti / Divulgação

Mas ele também tem diversos projetos fora do estado e do Brasil. Um exemplo é o SESI Lab, no Distrito Federal, onde coube a Gustavo transformar o edifício do Touring Club do Brasil, projetado por Oscar Niemeyer, em um hub de arte, educação, ciência, tecnologia e inovação, ressignificando e aproveitando ao máximo as suas características originais.

Há também a sede da Band Morumbi, em São Paulo, composta por duas praças públicas, um teatro e um museu. Nela, Gustavo traduziu a nova imagem da emissora. Já no exterior, o arquiteto tem projetos em Angola, Senegal, Guiné-Bissau, Nigéria e Portugal, e para suas concepções, pôde mergulhar em outras culturas, geografias e pontos de vista.

O Memorial da Imigração Japonesa (foto) também foi projetado por Gustavo Penna e celebra a amizade entre o Japão e o estado de Minas Gerais — Foto: Jomar Bragança / Divulgação
O Memorial da Imigração Japonesa (foto) também foi projetado por Gustavo Penna e celebra a amizade entre o Japão e o estado de Minas Gerais — Foto: Jomar Bragança / Divulgação

Quando perguntado sobre os projetos favoritos, ele diz ser um pouco de injustiça fazer essa seleção: "Até aqueles dos quais eu não gosto me ensinaram, então eu devo a eles. E os que estou fazendo continuam me ensinando, então estão me ajudando no processo – que não termina", afirma.

Futuro, o novo sempre vem

Por falar em processo infindável, Gustavo parafraseia Belchior quando diz que se incomoda com quem tem apego ao passado e que "o novo sempre vem".

"Como processo evolutivo, temos que ter disposição para o novo, que é o que faz a gente se renovar. Olhar para o longe significa a nossa sobrevida. E o longe só é atingido se você ganhar impulso na direção dele", diz.

Gustavo diz não ter apego ao passado e que arquitetos e urbanistas enfrentarão um desafio civilizatório no futuro — Foto: Daniel Mansur / Divulgação
Gustavo diz não ter apego ao passado e que arquitetos e urbanistas enfrentarão um desafio civilizatório no futuro — Foto: Daniel Mansur / Divulgação

Para ele, a missão do arquiteto é olhar para algo que ainda não aconteceu, munido da cultura e da técnica, mas com uma projeção para o futuro – que, ao seu ver, será desafiador para arquitetos e urbanistas.

"Isso porque erramos muito no passado com essa ideia de exportar habitação, tirar dos núcleos urbanos e especializar regiões. O desafio será civilizatório: nós vamos ter que pensar como um momento em que a civilização altera comportamentos que já eram consagrados para admitir novos", explica.

Será algo como "consertar um avião em pleno voo", pois a cidade, que "anda" permanentemente, não pode parar para ser administrada.

"Eu me divirto com isso, porque eu não sofro nem acho que devemos fazer proposta nenhuma de forma negativa. Quero propor o que dará certo e que seja eficiente", diz.

Assinado por Gustavo, o Museu de Congonhas está localizado em um sítio histórico tombado pelo Patrimônio Mundial — Foto: Leonardo Finotti / Divulgação
Assinado por Gustavo, o Museu de Congonhas está localizado em um sítio histórico tombado pelo Patrimônio Mundial — Foto: Leonardo Finotti / Divulgação

"Toda vez que criamos uma solução para o problema, é um sinal de saúde. É como diz Guimarães Rosa: 'qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura'", recita o arquiteto.

O que o arquiteto quis dizer, com a citação, é que contribuições valiosas demandam atitudes favoráveis à solução – e, para tanto, não precisa ser nada muito grande. Basta que as ideias incluam o outro e a troca de amor, gentileza, respeito e generosidade.

Horizontes pessoais

Ainda sobre o futuro e os pilares que sustentam uma boa ideia, o horizonte próximo de Gustavo destaca duas importantes novidades: o lançamento da coleção Gustavo Penna 73/23 – 50 anos de Arquitetura, Desenho e Palavra e a inauguração do Memorial Brumadinho, ainda sem data definida.

O primeiro se trata de uma coleção de cinco livros sobre a trajetória de Gustavo Penna e do GPA&A, seu escritório. Os dois primeiros volumes já foram lançados e o terceiro último será divulgado hoje (6). Os últimos dois livros serão apresentados em breve, completando a coleção que traz, em cada volume, a retrospectiva de uma década de carreira.

O GPA&A foi selecionado, entre outros escritórios, para assinar o projeto do Memorial Brumadinho — Foto: Julia Lanari / Divulgação
O GPA&A foi selecionado, entre outros escritórios, para assinar o projeto do Memorial Brumadinho — Foto: Julia Lanari / Divulgação

A segunda novidade, por sua vez, é um espaço de memória em homenagem às vítimas do rompimento da barragem I, em Brumadinho, tragédia que ocorreu em 2019 e se configurou como um dos maiores desastres ambientais do Brasil.

Escolhido por unanimidade pela própria associação dos familiares de vítimas e atingidos, o projeto do GPA&A buscou homenagear a vida de quem se foi e a importância que eles tiveram para quem ficou.

O memorial é uma homenagem à vida dos que se foram na tragédia e uma mensagem de que a humanidade não aceita outro desastre como este — Foto: Julia Lanari / Divulgação
O memorial é uma homenagem à vida dos que se foram na tragédia e uma mensagem de que a humanidade não aceita outro desastre como este — Foto: Julia Lanari / Divulgação

"O memorial é a tridimensionalização desta homenagem a quem nasceu em dias diferentes, mas se foi no mesmo dia, nos mesmos minutos. É uma lembrança de que a vida dessas pessoas não foi em vão", diz Gustavo.

Como pontua o arquiteto, o impacto de Brumadinho ultrapassa a região e alcança todo o estado de Minas Gerais, Brasil e o mundo. Todos sentem, dentro de si, certa dor diante do que aconteceu.

"O memorial diz: 'eu não quero que isso aconteça nunca mais. O mundo não merece. A humanidade não aceita que o ser humano seja tratado dessa forma'", completa.

Da escolha das espécies do paisagismo, à geometria e ao material usado na construção do prédio, o projeto é repleto de simbolismo e reforça, a cada olhar, o seu propósito. Não glamouriza a tristeza, mas, pelo contrário, não faz concessões, é duro e absolutamente cru na intenção de marcar a história na cidade onde 270 pessoas morreram em decorrência do rompimento.

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