![As zoonoses podem acontecer por meio de mordidas, arranhões, contaminação de comida e água ou contato com fezes de animais infectados — Foto: ( Pexels/ Alex Kviatkouski/CretiveCommons)](https://cdn.statically.io/img/s2-vidadebicho.glbimg.com/Xw5XastlIxJbkeBpHkPGDIJ3kZ0=/0x0:620x455/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fb623579cd474803aedbbbbae014af68/internal_photos/bs/2022/O/h/G41ylbRx23l2ZH3cp54g/2022-07-26-julho-dourado-zoonoses-pexe.jpeg)
Recentemente, a morte de adolescentes de uma aldeia indígena de Minas Gerais chamou a atenção do Brasil. Eles foram vítimas de raiva humana, a qual teriam contraído por meio do arranhão de um morcego. Diante disso, muitas pessoas passaram a ter dúvidas sobre as doenças que os animais podem transmitir aos humanos, as chamadas zoonoses.
A fim de alertar e conscientizar a população sobre essas doenças, o mês de julho foi escolhido como o período da campanha Julho Dourado. A zootecnista Michelle Siqueira, professora do curso de Medicina Veterinária da UNINASSAU Recife, esclarece quais são as principais formas de contágio das zoonoses.
Não é só cachorro e gato!
Segundo a médica-veterinária Beatriz Ferlin, do Hospital Veterinário Taquaral, no Brasil, os animais que mais transmitem doenças para os humanos são aves, mosquitos, cães, gatos, bovinos e roedores. Contudo engana-se quem pensa que no universo dos pets, apenas cachorros e felinos podem ser transmissores de zoonoses, outros animais de estimação também podem ser vetores de doenças.
“Entre os suínos, as doenças mais comuns são a salmonelose, cisticercose e teníase. Os coelhos podem provocar tularemia, salmonelose, leishmaniose, cocciodiose, pasteurelose e escabiose. Já os porquinhos-da-Índia podem transmitir a salmonelose e a lespotospirose, que é menos comum, visto que eles precisam ter contato com ratos contaminados”, explica Beatriz.
As zoonoses mais comuns
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) existem mais de 200 tipos de zoonoses. Porém, no Brasil, segundo as profissionais, as mais comuns envolvendo pets são raiva, salmonelose, leptospirose e toxoplasmose. Confira a seguir as principais características de cada uma.
Raiva: é transmitida para humanos por meio de arranhões, saliva ou secreção de um animal infectado. Não tem tratamento após o desenvolvimento dos sintomas, que incluem febre, dores de cabeça, sinais gastrointestinais, medo de água ou correntes de ar, salivação, hipo ou hiperatividade, confusão mental, alucinações, paralisia, coma e morte. Porém, se o atendimento ocorrer logo após a exposição, é possível fazer a terapia profiláctica, que é altamente eficaz.
A prevenção, por sua vez, ocorre por meio da vacinação de animais de estimação e evitando contato com morcegos.
“A ravia é propagada por meio da mordida do animal infectado. O vírus presente na saliva entra na corrente sanguínea do ser humano e vai para o sistema nervoso, trazendo sérias consequências, como paralisia dos membros inferiores. Felizmente, esses casos são poucos, já que existe a vacina contra a raiva”, comenta Michelle.
Salmonelose: diarreia, febre, calafrios e dor abdominal intensa são os principais sintomas da salmonelose, que é provocada pela bactéria salmonela. A ingestão de alimentos contaminados é a principal fonte de transmissão e a prevenção ocorre por meio da lavagem frequente das mãos, além do cozimento de carnes e ovos.
Os coelhos podem se infectar por meio da ingestão de alimentos contaminados com a bactéria e transmitir aos humanos por meio das fezes, ou seja, pelo contato oral-fecal.
“A maioria das pessoas precisa apenas de tratamento de suporte, reposição de líquidos e repouso. Em infecções mais graves podem ser necessários tratamentos intensivos, como internação e medicações injetáveis”, diz Beatriz.
Leptospirose: transmitida por meio do contato direto ou indireto com a urina de animais infectados, a leptospirose é causada pela bactéria leptospira e pode provocar febre alta, de início súbito, mal-estar, dores (principalmente na panturrilha, cabeça e tórax), hiperemia conjuntival, tosse, cansaço, calafrios, náuseas, diarreia, desidratação e, em casos mais graves, icterícias, falência renal e hepática.
O tratamento é feito por meio do uso de antibióticos e a prevenção se dá evitando, sobretudo, o contato com água ou lama de enchentes.
Toxoplasmose: a maior parte das pessoas que contraem a doença não manifestam sintomas. Entre as que manifestam, os mais comuns são aumentos de gânglios, dor muscular, febre e dor de cabeça, que pode durar dias ou semanas.
Provocada pelo parasita toxoplasma gondii, a prevenção ocorre por meio de cuidados com a alimentação e higiene dos gatos, o que inclui não oferecer carne crua e evitar que o animal fique na rua.
“Na toxoplasmose, o parasita tem o gato como hospedeiro definitivo. A contaminação acontece por meio do contato com as fezes do animal infectado ou pela ingestão de água e alimentos contaminados com os cistos do parasita. Geralmente, essa doença é assintomática. A grande atenção é voltada para as gestantes, pois o bebê pode sofrer riscos caso a mãe apresente essa zoonose”, ressalta Michelle.
![Para evitar dores de cabeça, o ideal é manter a vacinação, vermifugação e higiene dos pets em dia — Foto: ( Pexels/ Gustavo Fring/ CreativeCommons)](https://cdn.statically.io/img/s2-vidadebicho.glbimg.com/BzuOVwXx3VxM4DA9xYqu9dXzSwI=/0x0:620x455/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fb623579cd474803aedbbbbae014af68/internal_photos/bs/2022/K/p/paGl4eR9mNSjBmRfqBOw/2022-07-26-zoonoses-gato-tomando-vacin.jpeg)
Peguei uma zoonose, e agora?
Ao suspeitar que contraiu uma zoonose, a primeira medida é procurar o clínico geral. Já o pet deve ser encaminhado para avaliação do médico-veterinário. No caso de outros animais, como morcegos, a orientação é entrar em contato com o centro de zoonoses da região.
“Não é recomendado tentar capturar o animal, nem entrar em contato com o mesmo sem uso de equipamentos de proteção. Em caso de cães, gatos ou outros animais domésticos, deve-se buscar orientação veterinária do que fazer com os pets, porém, na maioria das situações se recomenda eutanásia de casos suspeitos e análise pós morte”, explica Beatriz.
“Lavar as mãos depois de brincar com os animais e deixar o ambiente deles limpo, assim como manter as vacinas em dia, é essencial para evitar o surgimento das zoonoses. Se o seu pet for um gato, o ideal é que ele passeie sob supervisão pelas ruas e evite contato com outros bichos”, complementa Michelle.
De humanos para pets
Se os animais podem passar doenças para os humanos, o contrário também pode acontecer. Neste caso, o nome correto é zooantroponose.
“Humanos podem transmitir doenças para os animais, as chamadas zoonoses reversas ou zooantroponose. O agente se mantém na espécie humana e pode ocorrer naturalmente nos animais, como é o caso da tuberculose e esquistossomose”, finaliza Beatriz.