Conexão Pet

Por Por Sabina Scardua


É preciso se preocupar com o excesso de estresse que você e o seu pet sentem — Foto: ( Pexels/ Engin Akyurt/ CreativeCommons)
É preciso se preocupar com o excesso de estresse que você e o seu pet sentem — Foto: ( Pexels/ Engin Akyurt/ CreativeCommons)

Você chega em casa cansado(a) de uma semana de alta demanda e, então, o seu cachorro ou gato resolveu fazer xixi no sofá, estragou um sapato ou revirou o lixo, sendo que, normalmente, ele não faz isso. "Mas tinha que ser hoje?", você pensa. Em outro momento fatídico, decisivo para sua vida, seu pet tem diarreia ou começa a vomitar incessantemente e você tem que correr para o veterinário, bem naquela hora mais difícil, em que você não tem tempo e, muitas vezes, nem dinheiro. E você pensa: "meu Deus justo agora ele fica doente? Será um complô do universo contra mim?"

Recentemente, a ciência tem mostrado que estas situações não são forças ocultas do universo. Se você está estressado, seu animal também sofrerá com o estresse. Apesar da maioria já ter percebido esse fato, os motivos para isso acontecer são pouco conhecidos. Nem sempre é porque você não está dando atenção pra ele ou ela ou fazendo algo diferente do habitual, o motivo é a sincronização hormonal. Esta mesma sincronização acontece entre mães e seus filhos pequenos.

O chamado contágio emocional, espelhamento de estados emocionais ou estados de humor, entre indivíduos é muito comum em grupos da mesma espécie que convivem juntos. Quem nunca foi contagiado pelo mau humor ou raiva alheia? Estudos mostraram que estudantes tiveram altas concentrações de cortisol, o chamado hormônio do estresse, durante uma aula com professor estressado. Este contágio vem sendo pesquisado, mostrando que ele ocorre não somente entre indivíduos da mesma espécie, mas também entre espécies diferentes, como os cães e os humanos.

Muitos estudos realizados nos últimos 20 anos mostraram o efeito do estresse do tutor ou treinador repercutindo no cão durante as competições. Estresse agudo a curto prazo. No entanto, recentemente, vem sendo mostrado o efeito do espelhamento de forma crônica, a longo prazo.

Os pets sentem o estresse de todos os indivíduos da casa — Foto: ( Pexels/ Sarah Chai/ CreativeCommons)
Os pets sentem o estresse de todos os indivíduos da casa — Foto: ( Pexels/ Sarah Chai/ CreativeCommons)

Sundman e colaboradores, em um artigo publicado na Nature em 2019, evidenciaram que os cães mantinham suas taxas de cortisol altas ou baixas assim como as dos tutores, em um período de acompanhamento de um ano. As dos bichos oscilavam junto com as dos tutores, independente da rotina do cão, ou seja, nada estava acontecendo na vida do bicho e o hormônio dele estava nas alturas, só porque o do tutor também estava. O famoso “eu estresso meu cão”, que eu ouço frequentemente, nunca foi tão cientificamente verdade.

Interessante que os autores também mostraram que o contrário não acontece. O cortisol do seu cão subir, pelo estresse dele ter ido ao veterinário, por exemplo, não influencia no do tutor. Então, o cão sofre pelo estresse dele mais o seu. Ele tem muito a perder nesta história.

O estresse contínuo fragiliza o sistema imune, muscular, esquelético, renal e neurológico. Animais podem começar a ter esofagites, gastrites recorrentes, cistites, escapes de urina, alterações nas taxas de glicose, triglicerídeos, colesterol, problemas articulares, maior susceptibilidade a doenças infecciosas variadas, sem contar os problemas de pele.

A ansiedade e o medo também são aumentados pelo estresse crônico. Ele reativa as vias neurológicas do medo, pois estão em íntima associação. É muito comum um animal que era medroso quando mais jovem, melhorou com o passar do tempo e, de repente, volta a ser medroso “do nada”. A causa provável é ter passado por um estresse significativo.

É importante ressaltar que o estresse não é um estado emocional, e sim uma condição física séria, com repercussões em curto e longo prazo. Ele é caracterizado por um aumento das frequências cardíaca e respiratória, das concentrações de adrenalina, de forma aguda, e do cortisol, de forma crônica. As emoções associadas aos estados de estresse dos pets são aflição, angústia, confusão, tristeza, frustração, impotência, insegurança, ansiedade e medo.

Não necessariamente o animal fica mais agitado, o comportamento frente ao estresse varia de acordo com a personalidade e história de vida do animal. Um dos sinais mais comuns, mas não tão fácil de identificar, é quando o ele passa a não compreender facilmente o ambiente em que está, demonstrando dificuldade de aprender novos comandos e de se adaptar a mudanças de rotinas. Você percebe que o animal não está conseguindo entender o que se passa.

A interação do tutor com o pet reflete na saúde mental de ambos — Foto: ( Pexels/ Tranmautritam/ CreativeCommons)
A interação do tutor com o pet reflete na saúde mental de ambos — Foto: ( Pexels/ Tranmautritam/ CreativeCommons)

Outros sinais comportamentais de estresse:
- Aumento de solicitação ou isolamento;
- Respostas desproporcionais a estímulos, como: excesso de euforia para petiscos ou brincadeiras e excesso de latidos;
- Dificuldade de se acalmar após passeios ou brincadeiras;
- Assustar-se com facilidade. Por exemplo, se uma porta bater já é o suficiente para o animal estremecer ou se esconder;
- Aumento da vigilância. O animal faz mais rondas pela casa ou fica constantemente na janela ou na porta, monitorando a movimentação;
- Dificuldade de dormir durante o dia;
- Aumento da agressividade;
- Voracidade ao se alimentar ou recusa do alimento.

O que você pode fazer? É importante que ele tenha ajuda para não se desestabilizar. As terapias complementares vão muito bem nestes casos, como: florais, reiki pet, acupuntura e homeopatia. Em casos mais crônicos, é preciso a ajuda de um veterinário comportamentalista para medicar e usar terapia comportamental suave. É importante blindar o animal com os recursos disponíveis, para minimizar os efeitos destas flutuações exageradas de cortisol.

E se você estiver estressado? Bom, todos passamos por estresses ao longo da vida, e como os animais estão ao nosso lado, isso faz parte da experiência deles também. No entanto, o excesso ou a constância pode significar que tem algo errado. Cuide-se e estará cuidando de seu precioso animal também. Eles vieram viver o amor e a alegria, não o estresse. E você? O que está vivendo? Olhe para seu pet em casa agora e pense a respeito um pouquinho. Mais paz de espírito para você, por eles.

A médica-veterinária Sabina Scardua é colunista do Vida de Bicho — Foto: ( Arquivo pessoal/ Sabina Scardua)
A médica-veterinária Sabina Scardua é colunista do Vida de Bicho — Foto: ( Arquivo pessoal/ Sabina Scardua)

Sabina Scardua é médica-veterinária com doutorado em comportamento animal. Atua com Reiki em animais desde 2016 e está à frente do Reiki Pet Rio (@reikipetrio).

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