• Por Iza Valadão
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A construção da Casa Folha foi inspirada em uma oca indígena  (Foto: Reprodução /  Leonardo Finotti / mareinesarquitetura.com.br)

A construção da Casa Folha foi inspirada em uma oca indígena (Foto: Reprodução / Leonardo Finotti / mareinesarquitetura.com.br)

As edificações ao redor do mundo estão cada vez mais usando as soluções encontradas nos organismos e seus ecossistemas para melhorar seu desempenho térmico, acústico e financeiro. Essa inspiração na natureza é chamada biomimética e está presente em vários projetos de inovação voltados para a sustentabilidade na construção. Elas estão em diferentes áreas e vêm de diversos lugares.

Como o exemplo que vem da Universidade de Bonn, Alemanha, onde o botânico Wilhelm Barthlott, ao observar como as folhas de lótus conseguem permanecer limpas e livres de sujeiras sem o uso de detergentes, descobriu pequenas saliências em sua superfície, que permitem a água se acumular, fazendo com que partículas de sujeira que cheguem ali, sejam facilmente captadas e envolvidas por essa água, em um processo bem semelhante ao que uma bola de neve faria, ao levar folhas de um gramado.

A partir desta observação, ele replicou os perfis geométricos da lótus em produtos comerciais, como em uma tinta que permite na pintura de uma fachada, quando seca, fique com uma superfície nano rugosa, a qual possibilita que a água da chuva “limpe” a fachada do prédio. Essa solução de autolimpeza também se apresenta em outros elementos, como vidro, telhas e tecidos.

A cobertura inspirada no formato de uma grande folha auxilia na coleta de 50% da água da chuva que pode ser reutilizada para regar os jardins (Foto: Reprodução /  Leonardo Finotti / mareinesarquitetura.com.br)

A cobertura inspirada no formato de uma grande folha auxilia na coleta de 50% da água da chuva, que pode ser reutilizada para regar os jardins (Foto: Reprodução / Leonardo Finotti / mareinesarquitetura.com.br)

No Brasil, temos aplicações da biomimética em algumas construções, como a Casa Folha, que fica localizada em Angra dos Reis, Rio de Janeiro. Construída em uma área de 800 m², em 2009, com projeto dos arquitetos Ivo Mareiner e Rafael Patalano, tem arquitetura inspirada em uma oca indígena (Kaiamurá) e cobertura inspirada no formato de uma grande folha, que protege do sol todos os cômodos e espaços livres entre eles.

A construção da Casa Folha usa pé-direito alto, permitindo a ventilação e o resfriamento de todas as áreas, através do vento vindo do mar em direção à casa. O pavimento térreo é construído sem paredes divisórias, garantindo ainda um melhor conforto térmico, amenizando o clima quente e úmido da região, sem a necessidade do uso de ar-condicionado.

Para reproduzir a geometria complexa e refinada de uma folha, a cobertura é feita de pequenas peças de madeira laminada de eucalipto, em vãos de até 25 m, todas encaixadas como se fosse um grande quebra-cabeças.

A cobertura de folha tem seis divisões dispostas em círculo e ligadas pelo centro. A estrutura que suporta o telhado, conta com vigas curvas feitas de madeira de eucalipto e colunas feitas de aço corten. A coluna central, além da função estrutural, funciona também como coletora de 50% da água da chuva, que cai no telhado, a qual é reaproveitada para a irrigação do jardim.

Mais um exemplo da biomimética é a Casa Macao, em Paraty, RJ (Foto: Reprodução / Rafael Medeiros, Gustavo Uemura / markobrajovic.com )

Mais um exemplo da biomimética é a Casa Macao, em Paraty, RJ (Foto: Reprodução / Rafael Medeiros, Gustavo Uemura / markobrajovic.com )

Outro exemplo é a Casa Macaco, construída em Paraty, Rio de Janeiro, finalizada em 2020, do Atelier Marko e inspirada na verticalidade da floresta.

Na ocasião do projeto, o local era visitado por uma família de macacos-prego, os quais se locomoviam facilmente por meio dos galhos da floresta do entorno. A verticalidade existente nos galhos e raízes serviu de inspiração e, em reconhecimento aos ajudantes, a construção foi batizada como Casa Macaco.

Toda a estrutura foi inspirada nas raízes escoras da palmeira-juçara (ou “Içara”, em Tupi), típica da Mata Atlântica, bioma onde se encontra a casa. Como as raízes da palmeira se adaptam à topografia do terreno e aumentam a sua estabilidade através da distribuição dos esforços, mesmo em solos moles, típicos da região, a estrutura da Casa Macaco foi feita com uma série de colunas finas, que sobem desde a fundação, garantindo a estabilidade da edificação. A continuação da estrutura é feita com madeira intertravada e fechamento de telha metálica com tratamento termoacústico.

A estrutura inspirada nas raízes da Palmeira Juçara favorece a ventilação cruzada e integração com o exterior (Foto: Reprodução / Rafael Medeiros, Gustavo Uemura / markobrajovic.com )

A estrutura inspirada nas raízes da palmeira-juçara favorece a ventilação cruzada e integração com o exterior (Foto: Reprodução / Rafael Medeiros, Gustavo Uemura / markobrajovic.com )

A casa de 54 m² possui verticalidade com terraços que favorecem a ventilação cruzada e integração com o exterior, onde o paisagismo conta apenas com o reflorestamento da mata secundária do entorno. Usa, ainda, materiais da região para complementar a construção e o design, como o bambu e as redes de pesca para as cortinas.

Além destas, outras edificações contam com a biomimética para trazer soluções aos problemas enfrentados diariamente nos projetos e construções. Em breve, trago mais delas soluções por aqui.

Rodapé colunista Iza Valadão (Foto: Divulgação | Arte: Casa e Jardim)

Rodapé colunista Iza Valadão (Foto: Divulgação | Arte: Casa e Jardim)