• Por Iza Valadão
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Instalação de casa-bolha chama atenção na Casa Cor Rio  (Foto: André Nazareth / CASACOR / Divulgação )

Instalação de casa-bolha chama atenção na CASACOR RJ 2021 (Foto: André Nazareth / CASACOR / Divulgação)

Na edição comemorativa de 30 anos da CASACOR Rio de Janeiro, além das relíquias de arte e da arquitetura do casarão Brando Barbosa, localizado no Jardim Botânico da cidade, os 12 mil m² de jardim no entorno da residência com Mata Atlântica preservada tem chamado a atenção de quem passa por lá.

No jardim secreto da propriedade está um dos espaços mais inusitados e comentados pelos visitantes. Lá foi instalada uma casa-bolha, praticamente sem moldura e sem telhado, composta por duas semiesferas feitas de vinil transparente, cada uma com 4 m de diâmetro, ocupando cerca de 20 m² no total.

A instalação é assinada por Manoela Simas e Diego Raposo, e teve como proposta a construção de uma casa/abrigo com pouca intervenção no ambiente e que, ao mesmo tempo, colocasse o visitante diretamente em contato com a natureza. De fato, é uma acomodação construída com um material totalmente reciclável e de forma sustentável, sem grandes intervenções no terreno, podendo ser facilmente desmontada e transportada para qualquer lugar, tornando-se, inclusive, um refúgio portátil. O impacto da sua montagem é tão pequeno que nem precisa de uma licença de construção, a exemplo das construções tradicionais, alinhando, assim, a sustentabilidade, o design e a tecnologia. Ao ser desinstalada, nem parece que a "bolha" esteve ali.

A casa-bolha é ancorada no solo por meio da fixação de pinos no terreno, bem próximos aos que são usados em barracas de camping. Seu processo de fabricação durou cerca de 3 meses e contou com uma equipe com grande expertise em infláveis. Os designers afirmam que já receberam encomendas e que é possível personalizar o pedido e incluir mais bolhas, se desejado, tudo isso em função da flexibilidade do método construtivo. Um modelo igual ao da mostra, por exemplo, está na faixa de 25 mil reais, com um prazo de entrega de 60 dias úteis.

instalação se assemelha a um brinquedo pula-pula de antigamente, com um pequeno motor insuflador, de funcionamento contínuo e baixo consumo de energia. Isso garante a sua sustentação e circulação do oxigênio por toda a acomodação, que possui dispositivos de saída de ar, que favorecem a sua estabilização e evitam que ela se rompa.

Além de mantê-lo fresco e filtrado no interior, a circulação do ar garante um ambiente livre de umidade e mosquitos. O espaço tem uma acústica diferenciada, que abafa os ruídos externos, e p formato da bolha faz com que os sons fluam naturalmente para o centro, o que instintivamente leva seus ocupantes a falarem mais baixo, proporcionando, sobre eles, um efeito tranquilizador, segundo especialistas.

Casa Bubble, nos EUA, pelo designer Pierre-Stéphane Dumas (Foto: Divulgação)

Casa Bubble, nos EUA, pelo designer Pierre-Stéphane Dumas (Foto: Divulgação)

Apesar de atual, o conceito de casa-bolha existe desde o início dos anos 2000 e se popularizou no mundo a partir de 2009, com a criação da Casa Bubble, nos EUA, pelo designer Pierre-Stéphane Dumas, desenvolvida para projetos de ecoturismo que proporcionam a conexão entre as pessoas e a natureza sem perder o conforto, aumentando, assim, a conscientização e a preservação ambiental. No Brasil, desde setembro de 2020, é possível vivenciar esta experiência no interior de São Paulo, município de Araçoiaba da Serra, cidade vizinha de Sorocaba, a apenas 120 km da capital. O local que se chama Cabana Home Hotel é totalmente cercado e está localizado em uma área bem arborizada, o que permite uma vista incrível de toda a região.

Outros hotéis ao redor do mundo proporcionam para seus hóspedes experiências inusitadas também, usando a casa-bolha. O registro da primeira instalação é de 2002 e fica no Finn Lough Resort, em Enniskillen, Irlanda. Lá é possível ter uma visão de 180 graus da floresta e do céu, em uma das sete unidades que contam com total privacidade, devido a distância entre elas.

Outro hotel que oferece hospedagem ao estilo casa-bolha é o Attrap’Rêves, que desde 2010 oferece 134 quartos-bolha em quatro regiões diferentes da França. Espalhadas entre árvores, as instalações têm total privacidade e proporcionam ao hóspede a sensação de um acampamento no bosque.  O hotel também oferece telescópios e um mapa da Via Láctea para o hóspede apreciar a noite debaixo do céu estrelado, sem deixar o conforto de lado e protegendo-os das variações climáticas.

Na última década, essa instalação ganhou mais adeptos ao redor do mundo e diferentes hotéis começaram a oferecer esta experiência aos seus hóspedes, cada qual com sua característica, algumas vezes inusitada. A exemplo do Anantara Golden Triangle Elephant Camp & Resort, localizado no norte da Tailândia, que oferece aos seus hóspedes a oportunidade de passar dias e noites observando os elefantes da Tailândia (resgatados de maus tratos) em seu habitat natural, a partir do conforto de sua própria bolha na selva, que inclui além de outras comodidades, como ar-condicionado.

Outra hospedagem exótica está localizada no Valle de Guadalupe, cidade mexicana de Ensenada, na Baja California. O Campera Hotel tem 10 quartos-bolha de 20 m² com uma visão privilegiada do céu estrelado, das videiras e das montanhas do local. Alguns lugares interessantes para assistir à aurora boreal são: Canadá; zona rural do Reino Unido; vale de Captertree, na Austrália; Espanha; deserto da Jordânia; plantações de chá, nas ilhas Maurício e Islândia.

Iza Valadão (Foto: Divulgação)

Iza Valadão (Foto: Divulgação)

Iza Valadão é Engenheira Civil com Ph.D. em Materiais e Sustentabilidade e Professora e Pesquisadora da UFF.