• Por Rosana Ferreira
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A área social é aberta, e na lateral, o volume abriga a suíte do casal. A construção em wood frame é da Carpinteria (Foto: Marco Antonio / Divulgação)

 A construção em wood frame tem área social aberta e, na lateral, o volume abriga a suíte do casal, ambos em contato com natureza. Projeto do arquiteto Fabio Bruschini (Foto: Marco Antonio / Divulgação)

Pensar a arquitetura de uma forma mais ampla é um caminho sem volta, principalmente em vista da demanda de se viver com hábitos mais sustentáveis para o bem do planeta e dos seres humanos. Por essa trilha, caminha a bioarquitetura, conceito projetual e construtivo que visa dar mais vida (bio) à arquitetura, unindo conforto e funcionalidade às construções de maneira integrada e harmoniosa ao ecossistema.

"Trata-se de um compromisso de responsabilidade com o meio ambiente e de integrar a construção e o ser humano com a natureza", resume a arquiteta Mariana Crego

"Isso significa unir características climáticas de cada região, conforto térmico, acústico e luminoso, além de aproveitamento de materiais naturais produzidos regionalmente com novas tecnologias", indica a arquiteta Bia Hajnal, especialista em sustentabilidade

Casa Aquário, de 100 m², montada em Santa Cruz do Sul, RS, com módulos em estrutura de aço e madeira pela Felipe Savassi Modular Studio, que utiliza sistema híbrido (Foto: Cristiano Rosa / Divulgação)

Casa Aquário, de 100 m², montada em Santa Cruz do Sul, RS, com módulos em estrutura de aço e madeira pela Felipe Savassi Modular Studio (Foto: Cristiano Rosa / Divulgação)

Outras formas de impactar menos o ambiente com as construções, é usar formas mais orgânicas, utilizar sistemas construtivos de baixo desperdícios e leves, ter maior presença de vegetação, aproveitar técnicas vernaculares, priorizar itens sustentáveis, focar na performance de energia limpa e captação e reúso de água e promover ventilação cruzada, entre outras ações. Confira abaixo seis pontos para entender melhor como funciona a bioarquitetura:

1. Bioarquitetura e bioconstrução são sinônimos?

De acordo com Bia, os dois conceitos abrangem os mesmos princípios já citados acima, mas a bioarquitetura engloba conceitos mais amplos, que envolvem o uso dos espaços, a funcionalidade e as sensações, enquanto a bioconstrução é a maneira técnica e prática de como essas intenções serão concretizadas no espaço.

Dessa forma, Mariana aponta que a bioconstrução pode estar dentro da bioarquitetura. "A bioarquitetura trata do planejamento do espaço e a bioconstrução, consequentemente, a construção desse espaço", resume. 

2. Quais materiais mais comuns e seus usos na construção?

Os principais métodos construtivos industrializados a seco são o LightSteel Frame e Light Wood Frame, além dos sistemas ou subsistemas modulares. "Os componentes podem ser utilizados em diversas edificações e por isso é um método escalável e de baixo impacto se comparado aos tradicionais, deixando o sistema com alta produtividade e processos controlados com baixo desperdício, além de fácil transporte e alta performance acústica e térmica", explica Lucas Bonfogo, gerente técnico da Decorlit. 

Fachada principal. Terracor Corten reveste a construção erguida com sistema Steel Frame. A partir da garagem, à dir., entra-se na casa, que tem à frente panos de vidro deslizantes para aproveitar a ventilação e a paisagem (Foto: Edgard Cesar / Divulgação)

A construção foi erguida com sistema Steel Frame. A partir da garagem, à dir., entra-se na casa, que tem à frente panos de vidro deslizantes para aproveitar a ventilação e a paisagem (Foto: Edgard Cesar / Divulgação)

Segundo ele, esses sistemas podem ser estruturais ou entrar como vedações em edificios mistos de estruturas de concreto, madeira ou aço, sem limitação com o design arquitetônico, inclusive com mais facilidade de fazer formas que se adaptem e incorporem à cultura e formas locais. "Por serem sistemas quase prontos de fábrica a montagem no local é muito simples e, na maioria das vezes, é feita por mão-de-obra local", explica ele.

Para o sistema construtivo LightSteel Frame, é utilizado na parte estrutural o aço galvanizado; para o WoodFrame, majoritariamente o pinus autoclavado e, nas vedações, chapas cimentícias e painéis com isolamento termoacústico e gesso acartonado nas faces internas.

3. A bioarquietura inclui elementos climáticos? 

Além dos materiais, a bioarquitetura considera e inclui elementos climáticos, como ventos e radiação solar, temperatura, insolação e acústica. "Penso que estes elementos são a base, ou deveriam ser, para qualquer projeto construtivo sustentável, imprescindíveis para otimizar recursos naturais e financeiros", avalia Bia.

Como a bioarquitetura foca em fazer a construção funcionar de maneira mais inteligente e adequada ao clima do local ao qual ela está inserida, Mariana cita a importância dos estudos sobre a incidência solar. Por exemplo, para definir qual face expor mais ou menos ao sol, como proteger a casa de um sol muito forte ou como aproveitar a radiação solar e os ventos para produção de energia, para resfriamento ou aquecimento do espaço, qual a posição ideal das janelas para melhor ventilação e iluminação, entre outros aspectos.

4. É possível aliar a tecnologia à bioarquitetura?


Uma não anula a outra, sendo possível, inclusive, usar a tecnologia a favor da bioaquitetura. Bia cita alguns exemplos: softwares que fazem a análise climática da região e auxiliam na determinação do material mais eficiente a ser utilizado, processos que otimizam o uso de matéria-prima, maquinários de aproveitamento de corte, sistema fotovoltaico para geração de energia e reaproveitamento de água através de sensores, entre outros benefícios.

Imagem 3D da residência com 3 suítes do Alma Maraú. Todas as construções seguem um mesmo padrão graças à tecnologia do Steel Frame (Foto: Alma Maraú / Divulgação)

Imagem 3D da residência com três suítes do Alma Maraú, na Bahia. Todas as construções seguem um mesmo padrão graças à tecnologia do Steel Frame (Foto: Alma Maraú / Divulgação)

5. Há espaço para elementos artificiais na bioarquitetura?

É possível usar elementos artificiais na bioaquitetura, desde que os materiais sejam livres de toxinas em sua composição e contar com Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). Além disso, Bia lembra que há materiais reciclados e certificados em todos os segmentos: tijolos, cimento, tecidos, forro mineral, revestimentos e carpetes, entre outros, que evitam ou reduzem a extração de matéria-prima e contribuem para o processo de regeneração da natureza.

6. Qual o custo-benefício diante de outros métodos de construção?

Segundo Mariana, o custo-benefício varia muito, pois o estilo do cliente normalmente comanda mais o investimento do que o tipo de arquitetura. "Depende da tecnologia inserida, da aparência desejada do espaço, se esse investimento está focando no longo prazo de existência dessa construção ou não", ela afirma.

Assim, uma casa com aparência tradicional pode ser mais cara do que uma de madeira e vice-versa, dependendo do que está inserido nela, e as duas podem ser sustentáveis ou não, dependendo de como foram projetadas, construídas e da documentação dos materiais usados.  

Como o custo de uma construção é definido no projeto, Lucas considera que bons especialistas e multidisciplinares fazem a grande a diferença. Para ele, em geral, ainda se compara um projeto pelo seu custo no momento de aquisição, e a grande massa sempre opta pelo projeto ou material mais barato no momento da compra. "Mas o grande custo de uma obra é durante seu uso, seus custos de manutenção, de gasto de energia, água etc., por isso, sempre busque um bom projeto, materiais e sistemas de alta performance", ele sugere.