• Por Diego Revollo
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Para o arquiteto Diego Revollo, a decoração personalizada, que representa os gostos e estilo da pessoa, está cada vez mais em alta (Foto: Internet / Reprodução)

Para o arquiteto Diego Revollo, a decoração personalizada, que representa os gostos e o estilo da pessoa, está cada vez mais em alta (Foto: Internet / Reprodução)

Recém começamos o ano de 2022 e como todos que trabalham nessa área de arquitetura e decoração, esse é o momento de fazermos as nossas apostas baseado em tudo que observamos no ano anterior e o que acreditamos que está por vir.

Mais que observar e identificar as tendências ou modismos, o exercício maior é o de não acatar ou se deixar levar por todas as novidades que atravessam o nosso radar. A facilidade e o acesso à informação, junto à avalanche de estímulos e imagens, faz com que tudo ecoe de forma exagerada e de modo repetitivo. Isso acelera a depreciação daquilo que, a princípio, era novo, e rapidamente já estamos saturados, ou mesmo com a sensação de que tudo é igual ou similar.

Por mais que estejamos conscientes que alguns palpites sejam movidos por ideias comerciais e fruto dessa repetição, é inegável que, de alguma forma, iremos inevitavelmente consumi-las. Portanto, ignorar radicalmente tendências ou modismos torna-se algo impossível. De qualquer maneira, seguem minhas apostas para nortear nossos caminhos durante o ano.

1. Decoração personalizada

Conversando não só com clientes, mas também com colegas de profissão, constato cada vez mais a reafirmação da personalidade do morador e suas vontades como um desejo imperativo. O fato de termos passado por privações, aliado ao isolamento e a observação de nossas casas com uma lupa, talvez tenha como efeito principal o fortalecimento de vontades únicas e verdadeiras, e o enfraquecimento das ilusões e modismos. Ainda que o mercado imobiliário dite uma padronização comercial de estilo onde todos e quase tudo seguem a mesma paleta de cores e materiais, o consumidor parece migrar para o lado oposto, fugindo de toda e qualquer cartilha do marketing “pós-pandemia”.

Se em outras épocas ele se preocupava excessivamente com a “opinião do vizinho”, amigos ou mesmo buscava aceitação e aprovação no seu círculo social, agora ele parece ter total clareza de seus gostos, vontades e usos específicos de modo que sua forma de morar pode e deve ser única e o mais próximo possível das suas necessidades.

No escritório, convivo cada vez mais com a diversidade de universos estéticos, formas diferentes de comportamentos e usos de cada cliente, o que implica no desafio de alinharmos tudo em parâmetros que agradem ambos e ainda tragam um resultado único pessoal, mas ainda belo.

2. Integrar ou compartimentar

Após anos observando a casa cada vez mais integrada, após a intensificação do seu uso e da criação de novos hábitos e funções pelos moradores, começo a perceber o efeito contrário em muitos casos. 

Apartamento em Paris projetado pelos arquitetos Charlotte Fequet e Maud Tyzon é repleto de elementos curvos (Foto: Barbara Bonafede Petzold / Domino / Reprodução)

Apartamento em Paris projetado pelos arquitetos Charlotte Fequet e Maud Tyzon é repleto de elementos curvos (Foto: Barbara Bonafede Petzold / Domino / Reprodução)

A exceção certamente continua sendo a cozinha, que, definitivamente, tornou-se o epicentro da maioria das casas, e de fato parece consenso de que ela deve permanecer integrada e incentivando o convívio de todos. Nos demais espaços, quando a falta de amplitude não é o fato determinante, vejo aumentar o desejo de muitos por espaços dedicados a usos específicos; com a possibilidade de separação durante o uso ou até completamente isolados por portas, painéis e alvenarias.

Se espaços multifuncionais se multiplicaram nos últimos anos, o aumento do uso e tempo de permanência de todos em casa levantou problemas de concentração, interrupção, privacidade e mesmo relaxamento/isolamento. Para a maioria que adotou mudanças nas rotinas em casa, repensar a divisão de espaços significa a consolidação e o aprimoramento de um novo hábito, em um ambiente mais propício ou pensado exclusivamente para determinada função.

3. Menos é sempre mais?

Se nos últimos anos tornamos mais frágeis, emotivos ou mesmo sensíveis, o fato é que a meta do cubo branco minimalista fica cada vez mais distante do real significado de morar bem. Depois de um longo período longe de experiências reais, nunca estivemos tão abertos ao deleite, encantamento e experimentação de espaços carregados de verdadeira emoção. 

Sala do apartamento do arquiteto argentino Luis Laplace em Paris, na França, mescla móveis contemporâneos com detalhes clássicos (Foto: Luis Laplace / Reprodução)

Sala do apartamento do arquiteto argentino Luis Laplace em Paris, na França, mescla móveis contemporâneos com detalhes clássicos (Foto: Luis Laplace / Reprodução)

Eu mesmo, que sou bastante crítico em relação ao meu trabalho, tento, ao projetar, não me prender a efeitos ou composições estéticas que tendem a funcionar muito bem na fotografia, mas que, de fato, são vazias de significado para quem habita aquele local.

É relativamente fácil com a luz e o enquadramento correto criar imagens interessantes de espaços que, de perto, não apresentam a menor relevância ou encantamento. Nesse caso, o talento está muito mais no clique exato do que na ideia ou no projeto. Se vivemos a era da imagem, não é difícil cair na tentação de projetar imagens “instagramáveis” em detrimento da realidade em si construída e de fato executada.

Espaços mais aconchegantes, carregado de memórias, objetos que transmitem sensações e trazem bastante informação são quase sempre locais mais habitáveis e que nos confortam. Elementos decorativos, mesmo não funcionais, muitas vezes são responsáveis por criar ambientes mais humanizados e interessantes, que acabam por criar conexões maiores entre as pessoas e o lugar; e isso jamais deve ser ignorado ou colocado em segundo plano.

4. Ecletismo estético

Já escrevi aqui sobre essa minha visão e costumo reiterar o privilégio que talvez seja o de poder trabalhar em uma época onde nenhum movimento cultural ou corrente estética é forte de fato para se impor. Então vejo com muito bons olhos o relaxamento de mandamentos tão seguidos pelas gerações anteriores que em detrimento da história, da memória e do passado, ditaram apenas uma visão específica do futuro, e sua implementação como a solução dos problemas do homem e das cidades como se fossem máquinas de morar ou trabalhar. Isso se provou demasiadamente desumano e distante da cidade híbrida e viva, que nos traz ganhos infinitamente maiores na forma de viver e nos relacionar. 

Sala projetada pelo Studiopepe, agência de criação da Itália, no Club Unseen para a Semana de Design de Milão em 2018 (Foto: Andrea Ferrari / Studiopepe)

Sala projetada pelo Studiopepe, agência de criação da Itália, no Club Unseen para a Semana de Design de Milão em 2018 (Foto: Andrea Ferrari / Studiopepe)

Se cada vez mais aceitamos a pluralidade como um fator enriquecedor do ser humano e das relações, é natural expandir para as artes essa elasticidade e liberdade de criação ou mesmo de pensamento.

Ainda que a engrenagem comercial insista em fomentar modismos e padronizar gostos ditando “novas verdades”, é um alento vislumbrar tantos caminhos e tantas formas e resultados que não se encaixam no que é “ditado”, mas que nos encantam da mesma maneira.

Nesse sentido, quando começo um projeto no início, presto bastante atenção ao lugar ao existente, enquanto, olhando para o cliente, procuro nas infinitas possibilidades estéticas, encontrar a que mais se justifique. É um exercício muito menos funcional, mas que por meio do impulso estético pretende alcançar a emoção. Tenho o privilégio de ter clientes receptivos as minhas ideias e que entendem que estamos criando algo novo, mas juntos; sem amarras teóricas ou mandamentos estéticos. 

Diego Revollo (Foto: Alain Brugier / Divulgação)

Diego Revollo (Foto: Alain Brugier / Divulgação)

Diego Revollo (@diegorevollo) é arquiteto formado na Universidade Mackenzie,  amante do universo da arquitetura e decoração, e coleciona prêmios e publicações ao redor do mundo. Tem seu escritório há mais de 10 anos.