• Por Diego Revollo
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O arquiteto Diego Revollo dá cinco conselhos fundamentais na hora de decorar  (Foto: Divulgação)

O arquiteto Diego Revollo dá cinco conselhos fundamentais na hora de decorar (Foto: Divulgação)

Se você subestima a decoração ou não se interessa pelo assunto, este texto não é para você. Agora, se assim como eu, é um entusiasta, curioso e, acima de tudo, um observador, prometo encorajá-lo a decorar sua casa de maneira surpreendente. "Toda casa tem ou deveria ter a cara do dono". Este é o primeiro ponto e o que torna a nossa área tão fascinante. Quando um cliente me contrata, foco primeiro nele e depois no lugar.

Essas duas variáveis são o ponto de partida de qualquer decoração e o que sempre garante resultados únicos. Ainda que o mesmo cliente me contrate novamente, o lugar não será o mesmo e o contrário também é verdade: já fiz mais de três projetos no mesmo condomínio e todos com resultados completamente distintos. Se você se conhece e fez uma análise criteriosa do espaço que pretende decorar, já é um excelente começo.

De qualquer maneira, para evitar derrapadas no percurso e resultados desanimadores, compartilho cinco conselhos. 

1. A pressa é inimiga da perfeição
Você finalmente comprou sua nova casa, está super entusiasmado e quer o quanto antes se mudar e usufruir. Você pode, e deve, fazer a sua obra de forma acelerada e dentro de um prazo razoável. Ainda assim, em decoração sempre é saudável comprar os móveis em, no mínimo, duas fases. Aqui no escritório, só depois do layout bastante amadurecido, junto ao cliente e da marcenaria contratada, debruçamo-nos sobre os móveis.

Só então começamos a orçar e fechar as principais peças. Deixamos para um segundo momento a compra de peças menores, objetos e quadros, porque com tudo no lugar, temos a chance de novamente olhar o existente, propor ajustes e refinar o resultado. Se você respeita ao menos essas duas etapas, as chances de acertar no final são grandes.

2. Evite ideias pré-concebidas

Não queira a todo custo imprimir suas referências na decoração da casa. Todo ambiente é único. Projeto do arquiteto Diego Revollo (Foto: Divulgação)

Não queira a todo custo imprimir suas referências na decoração da casa. Todo ambiente é único. Projeto do arquiteto Diego Revollo (Foto: Divulgação)

Tenho certeza que quase todos nós temos, hoje, uma infinidade de imagens digitais salvas em nossos celulares ou então guardadas na memória de lugares ou decorações arrebatadoras. Isso é inevitável e, por essa razão, a curiosidade e a observação de tudo que nos rodeia é uma das características comuns aos melhores profissionais da área. Ainda assim, por mais munido que você esteja, procure não se apegar a nenhuma referência especifíca na hora de começar uma decoração.

Todo material é valido e toda pesquisa é interessante, mas deixe tudo de lado no momento que começar a riscar o layout ou começar a definir os materiais básicos de sua reforma. Não queira a todo custo colocar uma ideia que funcionou muito em um lugar que você esteve se sua casa não tem as características essenciais daquele lugar que você tanto gostou. Na verdade, as melhores ideias são as que partem das limitações existentes e que, com criatividade, se tornam o ponto forte da decoração. 

3. Se jogue!
Por mais que não seja um especialista no assunto e tenha receio de errar, em um projeto de  decoração, correr riscos faz parte do jogo. Você já deve ter se deparado com uma infinidade de ambientes ou casas em que tudo é monótono e sem vida. Como arquiteto, evito fazer julgamentos do tipo “isso eu não faria na minha casa”, pois entendo que um trabalho bem feito ou uma decoração redonda e coerente passa muito acima do meu gosto pessoal. Certamente, o que admiro são espaços em que consigo enxergar algo de genial, combinações difíceis de imaginar com resultados primorosos.

Convenhamos que combinar bege com cru e madeira, agrada, é fácil e não exige grandes habilidades. Mas se este é seu gosto, tente nessa combinação exagerar em algumas proporções ou mesmo variar as tonalidades e contrastes, explorar materiais diferentes... Enfim, tente de alguma forma imprimir algo novo ou mesmo a sua personalidade. Já entrei em casas incríveis que não eram feitas por nenhum profissional, mas em que o dono, munido de segurança e ousadia, garantiu um resultado tão bom ou melhor caso tivesse contratado um arquiteto ou decorador.

4. Não se prenda a um estilo
Eu sei que é mais difícil misturar estilos, mas reflita se você tem disposição e dinheiro para renovar a sua casa a cada ano sempre que tendências surgirem. Se for essa a sua intenção, tudo bem continuar pensando a decoração dessa maneira. Vale ressaltar que nem toda tendência é passageira, como a moda, e existem movimentos em decoração que duram alguns anos e até mesmo uma década ou mais. O que precisamos é ficar atentos ao que gostamos ou achamos bonito e tentar filtrar disso o que é realmente duradouro ou apenas reflexo da ilusão de modismos ou mesmo do “movimento” do mercado naquele exato momento.

Toda novidade seduz e tudo que é atual ou tendência tem essa capacidade de nos conquistar. Ainda assim, tente sair da posição de apenas receptor de modismos e olhe de uma forma mais crítica para tudo, todas as épocas e períodos. Não é possível que somente o que fazemos hoje tenha valor. Pense que, da mesma forma que você cegamente enxerga verdade no que é feito hoje, daqui uns anos, em outra conjuntura, talvez seu julgamento mude e isso é natural porque somos mutáveis. Para ter uma decoração mais interessante e duradoura, encaixe ao menos uma peça de outra época ou estilo. Se você admira e gosta de diferentes períodos e épocas, arrisque ainda mais. 

5. Não racionalize todos os gastos

Cometer algumas extravagâncias na decoração é justificável já que sua casa deve provocar encantamento. Projeto do arquiteto Diego Revollo (Foto: Divulgação)

Cometer algumas extravagâncias na decoração é justificável, já que sua casa deve provocar encantamento. Projeto do arquiteto Diego Revollo (Foto: Divulgação)

Talvez este seja o item mais polêmico dentre os que mencionei. Não sei se, em função da crise econômica, invariavelmente, quando fecho um novo projeto tenho que, a todo custo, tentar ganhar o cliente e a desarmá-lo nesse sentido. Muitas vezes, as minhas ideias são até secundárias, pois o cliente chega tão apreensivo e com receio de gastar, ou melhor, de extrapolar o orçamento, que as primeiras conversas e reuniões às vezes são muito mais no sentido de tranquilizá-los e de fazer com que ele entenda que o escritório é o seu aliado e não um inimigo em um processo longo, que exige confiança e transparência.

Desta forma, diferente de muitos profissionais, não vinculo meus honorários ao que o cliente compra e, sim, estabeleço um valor único apenas de projeto e que corresponde também ao que indico, escolho, ao meu tempo e disposição para zelar da concretização de todas as ideias. Dessa maneira, já na largada, evitamos a desconfiança tão comum na área e ao mesmo tempo abrimos o leque de escolhas de tudo que for especificado. 

Por outro lado, gosto quando o cliente entende que a decoração não é algo 100% racional e que não vale a regra de que para toda especificação existem três opções ou três orçamentos. No meu trabalho é tudo tão amarrado como um grande quebra cabeça que, cada vez que fechamos um item, tento equilibrar e ajustar os demais para que o resultado saia harmônico. E isso, muitas vezes, foge apenas do ato banal de comparar preços ou de escolher o mais barato.

Na decoração é saudável se apaixonar por alguma peça e entender que naquela hora aquilo fará diferença. Objetos excepcionais enchem os olhos e, na nossa área, provocar o encantamento é justamente o objetivo. Portanto, se você pretende realmente decorar e não simplesmente mobiliar a sua casa, esteja aberto a cometer uma ou duas extravagâncias. Diferente de outras áreas da nossa vida, quando se trata da nossa casa, da beleza e de todas as sensações despertadas por ela, não racionalizar todo o tempo vale muito à pena.

Diego Revollo (Foto: Alain Brugier / Divulgação)

Diego Revollo (Foto: Alain Brugier / Divulgação)