• Por Diego Revollo
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A decoração é uma das etapas cruciais de um projeto. A tarefa exige a visita às lojas, o transporte de todos os itens e a montagem final (Foto: Fran Parente / Divulgação))

A decoração é uma das etapas cruciais de um projeto. A tarefa exige, na prática, a visita a lojas, o transporte de todos os itens e a montagem final. Mas depende também de muita sensibilidade e criatividade (Foto: Fran Parente / Divulgação))

Uma das etapas cruciais do trabalho de todo arquiteto é a finalização de um projeto. Ainda que durante o processo o cliente já tenha comprado a grande maioria dos móveis, sempre existe a possibilidade de aprimorarmos o resultado; equilibrando aquilo que ainda está aquém em termos de decoração.

Na minha forma de trabalhar, entendo a decoração como o processo de pintar um quadro. À medida que o ambiente vai tomando forma, o arquiteto vai sentindo a necessidade ou não de adicionar pinceladas, ou mais elementos ao conjunto, até sentir que se atingiu a melhor forma, ou o resultado ideal coerente com a intenção do projeto.

Esse trabalho que é bastante minucioso e subjetivo na nossa área, costumamos chamar de produção. Aqui no escritório levamos cerca de uma semana trabalhando o dia todo exclusivamente para essa finalização. Essa tarefa envolve desde a visita às lojas, o transporte de todos os itens e a montagem final. Muitos arquitetos, e nós aqui também, aproveitam essa etapa para fotografar o resultado, e dessa forma eternizá-lo da melhor forma possível.

Ainda que seja um trabalho bastante profissional, resolvi elencar algumas dicas que podem ser úteis não só para quem é da área, mas também para quem adora decoração e tem vontade de completar ou mesmo aprimorar a ambientação existente.

1. Visite novamente o local

Abusar em proporções, ousar em misturas nada óbvias e em quadros são os verdadeiros desafios e diferencial (Foto: Arquivo/ Diego Revollo)

Abusar em proporções, ousar em misturas nada óbvias e em quadros são os verdadeiros desafios e diferenciais de uma produção bem finalizada (Foto: Divulgação Diego Revollo)

Mesmo que você tenha o projeto inteiro memorizado e tenha ido inúmeras vezes durante a obra, eu procuro zerar todo o histórico e fazer uma nova visita para avaliar o existente. Muitas vezes nessa visita, me dispo das ideias iniciais do projeto e tento verificar o que realmente funcionou conforme o esperado, o que está aquém e o que pode ser ressaltado. É normal, e recorrente, algum ponto que antes passou despercebido me chamar a atenção, e isso provocar uma ideia inédita, que faz toda a diferença no final, pois são normalmente conclusões geradas pela percepção genuína do existente.

2. Converse com o cliente

Ambientes com cara de showroom ou mostra de decoração podem agradar nas fotos (Foto: Reprodução/ Diego Revollo)

Ambientes com cara de showroom ou mostra de decoração podem agradar nas fotos, mas não costumam ter relação com o morador. Isso torna os espaços frios e impessoais  (Foto: Divulgação Diego Revollo)

Por ser um processo longo, normalmente nessa etapa o cliente já está morando há alguns meses e já tem algumas impressões sobre o novo lar. Mais que observações estéticas, ele pode te guiar ou chamar atenção para pontos tantos funcionais, como chamar atenção para o que ainda sente falta e pode ser acrescentado.

Essa conversa é, às vezes, a última oportunidade do cliente ainda interferir e ter o profissional ali disponível e envolvido o suficiente para realmente ajudá-lo. Para o arquiteto, é a chance de, com novas informações, surpreendê-lo de forma positiva nessa finalização.

3. Diversifique na escolha das lojas

Mesmo que a maioria dos móveis tenham sido comprados, sempre existe a possibilidade de aprimorar o resultado (Foto: Arquivo/ Diego Revollo)

Mesmo que a maioria dos móveis tenha sido comprada, sempre existe a possibilidade de aprimorar o resultado (Foto: Divulgação Diego Revollo)

O que faz um projeto ser verdadeiro é mais que identidade, é importante ele passar verdade. Ambientes com cara de showroom ou mostra de decoração podem agradar nas fotos, mas não costumam ter relação com o morador, ou mesmo sucumbem, após a produção já que quase tudo ali é cenográfico e bastante artificial.

Como a maioria das pessoas acumula objetos ao longo da vida, é normal que em uma casa naturalmente exista uma variedade ou mesmo mistura de peças de diferentes estilos e épocas. Isso é normalmente o que torna uma casa interessante principalmente quando tudo tem relação com quem mora ali. Portanto, quando pensamos em acrescentar objetos tentamos ao máximo diversificar a escolha das lojas. É trabalhoso, exige mais tempo e garimpo, mas faz bastante diferença no resultado.

4. Não se prenda a fórmulas ou receitas

Painel de laca branca brilhante e carvalho ebanizado (Foto: Alain Brugier / Divulgação)

Apostar na intuição e na sensibilidade é o verdadeiro trunfo de quem trabalha com decoração (Foto: Alain Brugier / Divulgação Diego Revollo)

O que deu certo uma vez em um projeto certamente dará certo em outro e isso será sempre uma forma de trabalhar. O problema desse pensamento é que quando ele é recorrente o profissional acaba se tornando um replicador de uma mesma ideia. Além disso, não tem o mesmo valor de uma criação genuína. Na prática, limita muito o potencial de um projeto, pois são as características intrínsecas do lugar, junto à personalidade de cada cliente, que permitem resultados únicos e extremamente pessoais. Aquilo que você já fez e deu certo como, por exemplo, o bowl de orquídeas plantadas na mesa de centro sempre será lindo, mas será que só existe essa solução a ponto de adotá-la com tanta frequência? Até quem não é da área costuma variar na arrumação de uma mesa, por exemplo. Porque então, nós profissionais da área, deveríamos adotar receitas se justamente vendemos criatividade.

5. Corra riscos
Se normalmente qualquer pessoa sem ajuda profissional tende a ser bastante cautelosa, pois obviamente tem bastante medo de errar na decoração de sua casa, o profissional, em contrapartida, deve buscar a ousadia. Não ter absolutamente certeza de que algo ficará bom, mas ainda assim apostar na intuição e na sensibilidade é o verdadeiro trunfo de quem trabalha com decoração. Exagerar proporções, arriscar em misturas nada óbvias, ousar nos quadros, ou mesmo nos objetos são os verdadeiros desafios, e ao mesmo tempo o que diferencia alguém que realmente decorou uma casa daquele que apenas mobiliou de forma bastante segura e previsível.

Diego Revollo (Foto: Alain Brugier / Divulgação)

Diego Revollo (Foto: Alain Brugier / Divulgação)

Diego Revollo
Arquiteto, formado na Universidade Mackenzie, é amante do universo da arquitetura e decoração, coleciona prêmios e publicações ao redor do mundo. Tem seu escritório há mais de 10 anos.
@diegorevollo