• Por Diego Revollo
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Para o arquiteto Diego Revollo, é preciso valorizar o tempo dentro de casa no qual passamos com os familiares, plantas e bichos de estimação na quarentena. Projeto do HAO Design (Foto: Hao Design/Reprodução)

Para o arquiteto Diego Revollo, é preciso valorizar o tempo dentro de casa no qual passamos com os familiares, plantas e bichos de estimação na quarentena. Projeto do HAO Design (Foto: Hao Design/Reprodução)

Ao que tudo indica, a maioria das grandes cidades do Brasil parece finalmente retomar as atividades econômicas com o retorno do trabalho em escritórios, comércios e serviços. Aqui no escritório, iniciamos uma rotina em meio período e penso que no começo de julho talvez estejamos com a nossa produção normalizada e a pleno vapor.

Curiosamente, o vislumbrar de que a normalidade está tão próxima tem despertado, não só em mim mais em muitos com quem tenho conversado sobre o tema, uma sensação de incômodo, desconforto ou mesmo nostalgia.

Se por um lado é reconfortante exercermos nosso trabalho com todo o potencial que nos é permitido, por outro olhamos o período que passamos a meia vela e nutrimos certo saudosismo aos dias que foram vividos com mais calma e parcimônia.

Se antes não tínhamos tempo para nada e esse era o ritmo que regia para a maioria na vida profissional e pessoal, descobrimos em meio à quarentena que é extremamente agradável dedicar nosso valoroso tempo à família, a hobbies e projetos pessoais que até então sempre eram postergados.

Tenho certeza que muitos, além de mim, perceberam que desacelerar, trabalhar em casa reduzir cobranças, prazos e expectativas nos trouxeram dias mais leves com menos estresse e, principalmente, menos ansiedade.

Fechados em nossas casas nos vimos obrigados a nos acostumar com uma nova lentidão de resposta a tudo e de todos principalmente ao que se refere ao trabalho. Na minha área, por exemplo, percebi e concordei com o ritmo mais lento dos projetos e mesmo das respostas dos fornecedores e prestadores de serviço. Usando como nunca antes a minha casa, já me preparei para ter clientes mais detalhistas e talvez um retorno com novas demandas e mudanças de planos em projetos aprovados anteriormente. Entendi que mais que uma pausa, o período vivido representava um novo desafio, no qual não lutar contra a conjuntura que nos era oferecida consistiria também em um possível aprendizado.

Talvez o aperto, ou mesmo o nó na garganta, chegue justamente no momento da volta, do retorno ao que abdicamos com tanto empenho nesses mais de dois meses transcorridos. É com uma nova consciência que passamos a perceber que parar ou desacelerar antes de qualquer coisa nos fez enxergar que existem outros modelos e ritmos para nossas escolhas diárias e é inevitável a comparação dos dois ritmos de vida. 

O arquiteto Diego Revollo comenta que a quarentena reforçou a importância de reforçar os laços familiares e o contato com a natureza (Foto: Hao Design/Reprodução)

O arquiteto Diego Revollo comenta que a quarentena reforçou a importância de reforçar os laços familiares e o contato com a natureza (Foto: Hao Design/Reprodução)

Para os que sobreviveram e não sofreram consequências diretas ruins fica a indagação: em qual cenário da minha rotina eu me enxergo mais humano, realmente mais produtivo, menos acometido por menos estresse, pressões e, em ultima análise, me vejo mais feliz?

Longe de querer ver o lado bom de uma tragédia sem precedentes, o meu ponto aqui é justamente aproveitar essa pausa forçada para, com mais inteligência e discernimento, questionarmos o ritmo frenético que caminhávamos até então. Cegos e obcecados por uma produtividade sem limites perdíamos a cada dia a capacidade de vislumbrar outra forma de rotina ou mesmo de ganhar a vida.

Penso que para muitos como eu o momento agora é o de dentro ou fora de nossas casas passamos a preservar ao máximo essa sensação de controle do nosso tempo e de nossas vidas.

Que o retorno à normalidade seja celebrado com o entusiasmo de podermos retomar nossas atividades, mas que também seja acompanhado pela análise criteriosa do que faz sentido para cada um de nós do que deve permanecer para sempre não só como lembrança, mas como certeza de que dias mais presentes com nossos familiares, com nossas plantas, animais de estimação e hobbies recém descobertos sejam o retrato da vida que escolheremos daqui pra frente e não apenas uma triste nostalgia de tempos difíceis que ficaram para trás.

Diego Revollo (Foto: Lufe Gomes/Divulgação)

Diego Revollo (Foto: Lufe Gomes/Divulgação)